Relatório Semanal de Asset Allocation:



Alguns eventos recentes merecem destaque essa semana:
Brasil – Politica: Tudo indica que Jair Bolsonaro esteja numericamente eleito. Apenas uma mudança radical de cenário, com fatos novos por exemplo, poderia mudar esse cenário, do contrário, o mercado deverá trabalhar com o que será o próximo governo uma vez confirmada a sua eleição.
As sinalizações recentes em relação ao projeto econômico de um governo Bolsonaro, nos últimos dias, se mostram ambíguas. Recentemente, ouvimos sinalizações menos assertivas em relação ao projeto amplo de privatizações, uma certa ambiguidade no que diz respeito à reforma da previdência e assim por diante.
Continuamos sendo da opinião de que será mais fácil para este governo aprovar questões menos impopulares, como medidas de desburocratização e simplificação tributária, que tem impacto imediato e positivo sobre o setor corporativo e o crescimento. As medidas mais impopulares e estruturais, urgentes para o futuro da economia, contudo, demandarão um esforço adicional e um apoio quase que irrestrito do Congresso, algo que não temos certeza ou convicção, pelo menos por ora,  que haverá capacidade e vontade de implementação em um primeiro momento.
Contudo, em um ambiente global mais desafiador, de menor liquidez não há na nossa visão tempo para colocar em prática um projeto de ajuste econômico mais lento e gradual. Nossa vizinha Argentina buscou este caminho e a realidade mostrou que a estratégia não logrou êxito. Na nossa opinião, o nível que chegamos de dívida/PIB e de déficit fiscal demanda uma resposta rápida e inequívoca dos novos administradores, ou a “lua de mel” do mercado poderá ter seu tempo encurtado.
EUA - Core CPI: O Core CPI nos EUA ficou abaixo das expectativas, mas muito em função de uma acentuada queda em um item específico: "carros usados". O PPI e o Import Prices ajudaram a delinear um Core PCE que deve se manter em torno de 2% YoY, em linha com a meta do Fed.

Assim, não será deste indicador que podemos esperar algum alívio por parte da política monetária dos EUA. Na nossa opinião o processo de normalização monetária dos EUA e do mundo desenvolvido continua a ser o grande tema de investimento dos últimos meses, e dos meses vindouros. Este vetor tem sido o principal obstáculo para o bom desempenho dos ativos de risco ao longo do ano, caracterizando um típico processo de final de ciclo econômico.

China - Importações: Os dados de exportação de setembro na China ficaram acima das expectativas, mas muito em função da antecipação de exportações antes da entrada em vigor de tarifas mais elevadas para os EUA.

As importações, por sua vez, mostraram fraqueza, confirmando um cenário de fragilidade da economia do país. Por ora, não vemos, pelo menos ainda, sinais de estabilização mais duradoura nesta frente. Muito pelo contrário, mesmo após diversas medidas anunciadas nas últimas semanas, os mercados locais mostram extrema fraqueza e a economia ainda não deu nenhum sinal mais consistente de estabilização.

FMI: Os primeiros feedbacks das reuniões do FMI em Bali apontam para a ausência de coesão e para um ambiente que ainda demanda cautela para as economias emergentes. Pela primeira vez em algum tempo não vemos um discurso ou sinalização mais clara e coesa em torno de como agir diante dos desafios que se apresentam para o cenário econômico global. Está é uma avaliação preliminar de notícias da mídia internacional.

Arábia Saudita: O sumiço de um jornalista saudita na embaixada do país na Turquia deixou de ser uma notícia local e tomou o noticiário internacional. Especula-se que o jornalista tenha sido morto na embaixada. Caso isso seja confirmado, irá se abrir uma nova frente de instabilidade no Oriente Médio, justamente no maior aliado dos EUA na região. Ainda não temos uma avaliação sobre o impacto disto nos mercados financeiros globais (o impacto mais óbvio deveria ser no preço do petróleo e em eventual financiamento para o setor de tecnologia dos EUA), mas certamente não ajuda o humor de curto-prazo.

Facebook: A empresa anunciou que cerca de 29 milhões de usuários tiveram suas contas "hackeadas” e seus dados expostos. Certamente é mais uma crise em uma das grandes empresas do setor de tecnologia, responsável por grande parte da forte alta dos índices de bolsa dos EUA nos últimos meses e anos. Não somos especialistas no tema, mas temos insistido na tese de que o setor deve passar por um processo estrutural de maior regulamentação, assim como ocorreu com o setor bancário após a crise de 2008.

Itália: O país parece ter optado pelo caminho de desobedecer a União Europeia em relação ao seu orçamento, acima do permitido pelo bloco. O caminho, a partir de agora, deve ser turbulento e incerto, se assemelhando mais a um país emergente do que um país desenvolvido.
Inglaterra: As negociações em torno do “Brexit” parecem ter chegado a um impasse. Assim, a data limite para um acordo deverá ser desrespeitada.
Alemanha – Eleições Regionais: As eleições na Bavária trouxeram uma grande derrota ao partido de Ângela Merkel, colocando sua liderança em xeque, na maior economia da Europa.

Alocação/Estratégia:

A despeito da sinalização de um desfecho positivo no tocante às eleições do Brasil, ainda mantemos um viés mais cauteloso devido ao ambiente externo mais desafiador. Entendemos que possa existir um movimento tático, de curto-prazo, positivo para os ativos locais, mas temos dúvidas em relação à duração deste movimento.
Assim, preferimos expressar esta visão através das micro-alocações, ou seja, na escolha dos gestores de cada classe de ativos, ao invés de macro-alocações mais agressivas em cada classe de ativo.
Em termos de ativos locais, acreditamos que poderemos ver um “bull flattening” adicional da curva de juros (fechamento de taxa da curva de juros, com a parte longa da curva apresentando fechamento de taxas superior à parte curta da curva), com queda das inflações implícitas. A médio-prazo, ainda gostamos estruturalmente da compra de inflação implícita e na necessidade do início de um ciclo de alta de juros no país. Por diversas questões locais e globais a inflação baixa ficou para trás e teremos inflações mais elevadas, mesmo que não extremadas, nos próximos meses, quiçá, anos.
No mercado de câmbio, a posição técnica pode levar o Real para patamares mais apreciados, mas acreditamos que dificilmente teremos uma tendência mais estrutural de apreciação da moeda. Acreditamos que exista um "piso” para o dólar contra o Real, mas não nos arriscamos a dizer qual seria (3,8? 3,7? 3,6%).
No mercado de renda variável é onde vemos as maiores oportunidades. Os valuations se mostraram atrativos, as empresas estão desalavancadas, e o mercado com baixíssima exposição a risco.
Juros - Preferimos estar neutros nas curvas nominais e reais de juros, pois vemos o risco/retorno como não atrativo. Vemos pouco prêmio de risco no mercado de juros diante de um ambiente global mais desafiador, eleições internas incertas, um câmbio próximo aos níveis mais desvalorizados da história em termos nominais e uma inflação que parece ter feito o seu piso.
Câmbio - Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio.
Renda Variável/Bolsa - Assim como no mercado de juros, preferimos estar com posições neutras (ou em torno da média) no mercado de renda variável.
Fundos Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para fundos multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar alpha em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos, como a queda de juros no Brasil.
Fundos de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos que existe espaço para fundos de investimento no exterior com viés neutro ao “beta” do mercado, como fundos long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos quais a escolha do gestor seja um gerador maior de retorno do que a direção do mercado em si.

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