Perspectiva externa e posicionamento local.
As bolsas dos EUA apresentaram ontem mais um dia de forte pressão (comentei sobre o tema aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/10/deterioracao-dos-ativos-de-risco-se.html), a despeito de um excelente desempenho dos ativos do Brasil.
Em relação ao cenário internacional, vejo os índices de bolsa como “oversold”, ou seja, excessivamente pressionados no curto-prazo, mas vejo questões estruturais macroeconômicas e questões técnicas que não justificam uma mudança clara de tendência. Assim, poderemos ver movimentos rápidos e acentuados de recuperação de curto-prazo, mas uma mudança estrutural, de longo-prazo, desta tendência negativa irá demandar o endereçamento das principais questões que estão pressionando o cenário (comentei sobre essas questões aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/10/algumas-coisas-mudaram.html).
Nos EUA o PIB do segundo trimestre ficou levemente acima das expectativas, com crescimento de 3,5% no trimestre em termos dessazonalizados. O destaque ficou por conta de uma alta de 4% no Consumo Privado e uma contribuição elevada do acumulo de Estoques. As Contas Externas foram um grande detrator de crescimento no trimestre. De maneira geral, o PIB confirma a mensagem de que a economia dos EUA crescia, e ainda cresce, a taxas robusta, acima do potencial da economia.
Este ambiente, na ausência de uma deterioração ainda maior do cenário internacional ex-EUA ou de uma queda ainda mais expressiva das bolsas (adicionais 10% a 15%) deveria manter o Fed em seu “plano de voo” de normalização monetária. Como este tem sido uma das principais restrições aos ativos de risco ao longo deste ano, ainda não vejo mudanças substanciais nesta frente.
No Brasil, os ativos locais apresentaram forte apreciação, as vésperas do segundo turno da eleição e na expectativa de uma agenda positiva e reformista de um eventual governo de Jair Bolsonaro.
Reforço que vejo amplo espaço para otimismo. Acredito que a equipe econômica tem um plano de governo liberal e reformista, com ótimas intensões. Vejo riscos, talvez mais elevados do que o mercado neste momento, de execução deste projeto.
Dito isso, acredito que o mercado irá manter está “lua de mel” com o novo governo, caso confirmada a vitória de Jair Bolsonaro. Vejo os fundos e tesourarias locais já bastante alocados nesta direção, mas os estrangeiros ainda fora do mercado. No final da semana passada, comecei a ver os “sell-sides” de bancos internacionais elevando a recomendação em ativos do Brasil, o que pode ajudar neste processo de alocação dos estrangeiros a partir de agora.
Em relação as classes de ativos, reforço que vejo o mercado de renda variável como a melhor classe de ativo em termos de valuations e posição técnica. Os valuations não estão excessivamente baratos, mas estão longe de estar acima da média histórica. Caso o cenário base econômico melhore, os “upsides” podem aumentar bastante. As empresas estão desalavancadas e prontas para crescer.
Não tenho grande opinião sobre o dólar no mundo e muito menos sobre o Real a 3,65.
Vejo o mercado de juros com prêmio excessivamente baixo na parte curta da curva, visto que ainda trabalho com um ciclo, no mínimo moderado, de alta de juros no ano que vem. Entendo que exista espaço para movimentos adicionais de “flattening” da curva de juros, mas frente aos riscos fiscais do país e externos, não sou fã da curva longa de juros nos atuais níveis.
Entendo que a inflação de curto-prazo será baixa e frente a sazonalidade do período, excessivamente baixa, neste final de ano. A inflação corrente está tranquila e os núcleos mostram um cenário de baixos riscos. Contudo, a inflação implícita na parte intermediária da curva em torno de 4,25% me parece com pouco prêmio.
Assim, entendo que o BCB tenha ganhado tempo em um eventual ciclo de alta da Taxa Selic. Olhando de hoje, realmente não há motivos para acreditar em alta de juros nas próximas duas reuniões do Copom. O mercado se ajustou rapidamente para isso. Todavia, ainda vejo riscos que podem levar a um processo de alta no ano que vem, e não necessariamente riscos negativos. Uma retomada da economia pode colocar alguma pressão, mesmo que baixa, na inflação, e demandar um ciclo, mesmo que moderado, de alta de juros.
De maneira geral, continuo gostando de posições compradas em Bolsa Brasil via estruturas de opção (as vols implícitas subiram) com compra de Inflação Implícita. Estamos olhando a curva curta de juros para eventuais posições tomadas em taxa. No cenário externo, continuo gostando de posições tomadas em Taxas de Juros nos EUA. Migramos nossa recomendação de hedge de venda de Bolsa EUA para Calls de JPY e Ouro, além de Puts de HY (títulos High Yields). Reduzimos parte dos hedges ontem.
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