Algumas coisas mudaram...


Os ativos de risco tiveram uma quarta-feira de forte “risk-off”, liderados por uma queda de cerca de 3% do S&P500 nos EUA. O movimento recente, tanto em termos de magnitude da queda, quanto em relação ao atual nível do S&P500 (pegando este índice como parâmetro), nos remete ao movimento verificado em fevereiro deste ano.
Não quero profetizar aqui o “apocalipse”, também não vou me atrever a afirmar que o “bull market” dos ativos de risco tenha ficado, definitivamente, para trás. Contudo, acredito que o movimento recente apresenta alguns pontos bastante diferentes daquele de fevereiro. Assim, no mínimo, precisaremos que estes pontos sejam endereçados antes deste movimento negativo chegar ao seu final. Nos atuais níveis de preço e volatilidade do mercado de renda variável nos EUA, “rebounds”, ou seja, altas rápidas e acentuadas, porém pontuais e localizadas, podem ocorrer, mesmo na ausência de uma mudança estrutural nos pontos que citaremos abaixo:
- O processo de normalização monetária no mundo desenvolvido está em estágio mais avançado e não há sinais de que este processo será pausado ou revertido no curto-prazo.
- Há sinais mais evidentes e espalhados de desaceleração do crescimento global ex-EUA.
- Parece que o cenário base de agora em diante é de um menor crescimento global, com uma inflação mais elevada. Ainda não há sinais de uma desaceleração mais brusca, nem de uma inflação galopante no mundo, mas o cenário base enseja menos crescimento e mais inflação.
- A China passa por um momento de maior instabilidade econômica e financeira. As recentes medidas adotadas pelo governo ainda não foram capazes de reverter este quadro.
- O melhor momento para os resultados corporativos parece ter ficado para trás. Os “guidances” já são mais cautelosos e os resultados mais mistos do que apenas positivos. Não estou entrando aqui no mérito dos “valuations”, hoje mais atrativos do que há algumas semanas atrás, certamente.
- A Itália continua no olho do furacão dos problemas na Europa, sem uma solução óbvia de curto-prazo.
- Os EUA insistem em uma “guerra comercial” contra a China, cujos efeitos são sentidos de maneira mais clara nos dados econômicos nos últimos 2 meses.
É provável que eu tenha esquecido de algum ponto, mas estes me parecem os principais.
Estarei observando a evolução dessas questões como pontos de partida para uma eventual estabilização ou reversão das tendências negativas recentes. Na ausência da equalização desses pontos, poderemos sim entrar em um cenário estrutural mais negativo.
No Brasil, os ativos de risco simplesmente seguiram o humor global a risco. Eu entendo o otimismo do mercado com o possível governo de agenda econômica liberal que poderá ser implementado por Jair Bolsonaro. Acredito que existe espaço para otimismo e para ganhos nos ativos locai. Contudo, acredito que o Brasil não seja uma ilha no mar global e será afetado pelos desdobramentos externos. Além disso, vejo um mercado local com posição técnica frágil e preços, em especial no mercado de juros e câmbio, pouco atrativos no curto-prazo (https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/10/as-arvores-e-floresta-forte-sell-off-na.html?q=floresta).
Dito tudo isso, zeramos nossos hedges vendidos em bolsa dos EUA ao longo do dia. Acho que existe uma boa assimetria nas calls de JPY e calls de Ouro, dado o nível elevado das vols implícitas de bolsa dos EUA neste momento. Gosto de me posicionar no Brasil via calls-spreads de Ibovespa (vols baixas, boa assimetria), mas confesso que o mal desempenho desde o primeiro turno, em muito puxado pelo externo, me incomoda. Continuo vendo boa assimetria nas inflações implícitas e começando a olhar com calma a curva curta de juros, onde vejo um prêmio de risco excessivamente baixo.



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