Relatório Semanal de Asset Allocation:
Alguns eventos recentes merecem
destaque essa semana:
Brasil – Política: A equipe econômica de Bolsonaro continua em uma tentativa de
manter uma “agenda positiva”. A novidade da vez seria a potencial manutenção de
alguns membros da equipe econômica, como Mansueto, muito bem visto pelo
mercado. A mídia
fala em uma agenda econômica positiva que seria apresentada nos primeiros 100
dias de governo.
Acreditamos que existe realmente uma disposição de implementar uma
agenda econômica que agrade ao mercado e, dado
a configuração atual do Congresso, existe uma
possibilidade real e concreta dessa agenda ser aprovada. Assim, o viés no
que tange a esse aspecto é positivo no curto-prazo.
Contudo, ainda nos chama
a atenção algumas dicotomias da agenda que vem sendo apresentadas na mídia. Fala-se em cortar imposto de
importação, aumentar a desoneração da folha de pagamento, dar décimo terceiro
ao Bolsa Família, não mexer na previdência de militares, entre outros. Assim,
nos questionamos: Como conseguir tudo isso em um país que precisa urgente de
uma Reforma da Previdência ampla para frear o aumento da dívida/PIB? Por ora,
essa conta não nos parece clara. Precisaremos de mais visibilidade nesta
frente.
O TSE pediu explicações
ao candidato Bolsonaro em torno das acusações de que ele teria utilizado
empresas de disparo de mensagens no Whatsapp contra seu adversário, mas acreditamos que isso seja apenas ruído eleitoral gerado pelo PT numa tentativa de
gerar um novo fato político às vésperas da eleição e
não deverá alterar o curso da campanha.
China: Os dados de sexta-feira mostraram sinais mistos da economia.
Os otimistas apontam para os sinais de estabilização do crescimento, os
pessimistas falam em sinais ainda ambíguos e apontam para ausência de uma
recuperação mais robusta, mesmo após uma série de medidas já anunciadas e
implementadas. Na nossa visão, a China continua a ser uma fonte de incerteza e
os riscos aqui seguem bastante elevados.
Nesta segunda-feira, o
governo sinalizou com medidas adicionais de suporte à economia e aos mercados chineses. Os índices
de bolsa do país apresentaram dois dias consecutivos de forte alta.
Arábia Saudita: O país confirmou a morte do jornalista do Washington Post.
Segundo a versão oficial, ele foi morto após uma briga/discussão. A comunidade
internacional está criticando a versão dos fatos. A bolsa do país caiu cerca de
4% no domingo. Os EUA adotam postura mais dura, principalmente o Congresso
Americano. Trump, por sua vez, tenta conduzir a situação, mas trafega
em torno de uma linha tênue entre a crítica
dura ao recente acontecimento e a importância da relação entre os dois países, tanto em
termos comerciais, como no tocante ao combate ao terrorismo na região.
Este evento continua a
ser um vetor negativo para o humor global a risco no curto-prazo.
EUA vs Rússia – Acordo
Nuclear: Os EUA estão
sinalizando que pretendem sair de um acordo de não proliferação nuclear
assinado em 1987. Caso isso ocorra, vemos pouco impacto efetivo de curto-prazo,
mas será mais um passo na direção de um mundo mais combativo. Provavelmente iremos
voltar a uma “corrida armamentista” de maneira oficial, nos moldes daquele observado no período da
Guerra Fria.
Este novo vetor traz mais
um viés negativo ao cenário de curto-prazo.
Itália – Orçamento: O governo italiano confirmou que pretende permanecer na
União Europeia, mas que pretende dar seguimento a sua proposta de déficit
fiscal de 2,4% para 2019. A Bloco já sinalizou que este déficit está fora do
permitido por lei. Não há sinais de arrefecimento neste confronto. Pelo tamanho
da economia da Itália, pelo tamanho de sua dívida e pela exposição da Europa ao
país, este vetor continua sendo um dos grandes riscos aos mercados financeiros
globais no curto-prazo.
Inglaterra – Brexit: Há sinais de avanço nas negociações para uma saída amigável
da Inglaterra do Bloco. Ainda é cedo para “cantar vitória”, mas é um sinal
positivo em meio a um mar de incertezas globais.
Libor-OIS: Voltamos a observar uma abertura deste spread (Libor – Overnight Indexed Swap). Geralmente,
este tipo de movimento aponta na direção de aumento de risco no setor
financeiro. Por vezes, contudo, questões técnicas afetam este indicador. Por
ora, parece que o movimento é técnico e não fundamental, mas precisará ser
observado nos próximos dias.
Vendas de automóveis: Recentemente vimos uma forte queda nas vendas de automóveis
ao redor do mundo, em vários países e regiões. Este é um sinal negativo e
preocupante no tocante ao crescimento global.
Austrália – Eleição: O partido da oposição perdeu a maioria no Congresso. Novas
eleições para primeiro ministro deverão ser anunciadas mais cedo ou mais tarde.
O país entra agora em um momento de maior incerteza política.
Bolsas Globais: Continuamos a ver sinais bastante negativos no tocante ao
desempenho de alguns setores da bolsa, como a forte pressão nos bancos na
Europa e nos EUA, a fraqueza do setor de tecnologia nos EUA e um desempenho
pífio no setor de Autos. Ainda não há sinais de estabilização destas
tendências.
Alocação/Estratégia:
Optamos
por mover a recomendação em renda variável de neutra para levemente acima da
média. A redução do risco político local, em um ambiente de empresas
desalavancadas, valuations atrativos e baixa exposição dos investidores
a esta classe de ativo poderá favorecer um bom desempenho ao longo do tempo.
Vale
ressaltar, contudo, que a despeito da sinalização de um desfecho positivo no
tocante às eleições do Brasil, ainda mantemos um viés mais cauteloso devido ao
ambiente externo mais desafiador. Entendemos que possa existir um movimento
tático, de curto-prazo, positivo para os ativos locais, mas temos dúvidas em
relação à duração deste movimento.
Continuamos
expressando esta visão através das micro-alocações, ou seja, na escolha dos
gestores de cada classe de ativos, ao invés de macro-alocações mais agressivas
em cada classe de ativo.
Em termos
de ativos locais, acreditamos que poderemos ver um “bull flattening” adicional
da curva de juros (fechamento de taxa da curva de juros, com a parte longa da
curva apresentando fechamento de taxas superior à parte curta da curva), com
queda das inflações implícitas. A médio-prazo, ainda gostamos estruturalmente
da compra de inflação implícita e na necessidade do início de um ciclo de alta
de juros no país. Por diversas questões locais e globais a inflação baixa ficou
para trás e teremos inflações mais elevadas, mesmo que não extremadas, nos
próximos meses, quiçá, anos.
No mercado de câmbio, a posição técnica pode levar o Real
para patamares mais apreciados, mas acreditamos que dificilmente teremos uma
tendência mais estrutural de apreciação da moeda. Acreditamos que exista um
"piso” para o dólar contra o Real, mas não nos arriscamos a dizer qual
seria (3,8? 3,7? 3,6%).
No mercado de renda variável é onde vemos as maiores oportunidades.
Os valuations se mostraram atrativos, as empresas estão
desalavancadas, e o mercado com baixíssima exposição a risco.
Juros - Preferimos estar neutros nas curvas nominais e reais de juros, pois
vemos o risco/retorno como não atrativo. Vemos pouco prêmio de risco no mercado
de juros diante de um ambiente global mais desafiador, eleições internas, um
câmbio próximo aos níveis mais desvalorizados da história em termos nominais e
uma inflação que parece ter feito o seu piso.
Câmbio -
Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio.
Renda Variável/Bolsa – Elevamos a recomendação nesta classe de ativo de
neutra para levemente acima da média.
Fundos Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para
fundos multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar alpha
em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos,
como a queda de juros no Brasil.
Fundos de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos que existe espaço para fundos
de investimento no exterior com viés neutro ao “beta” do mercado, como fundos
long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos quais a escolha do gestor seja
um gerador maior de retorno do que a direção do mercado em si.
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