Relatório Semanal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
Os ativos de risco encerraram a semana
com um tom um pouco mais tranquilo do que aquele verificado ao longo das
últimas semanas. A dinâmica do mercado mostra um quadro técnico mais saudável.
Contudo, o cenário econômico continua mostrando um pano de fundo com pressões
inflacionárias que se acumulam, especialmente nos EUA. Nos últimos dias, vimos
o Core CPI, o PPI (e seu quadro qualitativo) além do Import Price (preço
de produtos importados), todos superando as expectativas e mostrando um
ambiente cada vez mais claro de inflação mais alta, disseminada e espalhada.
Neste estágio do ciclo econômico,
entretanto, o crescimento global permanece robusto, o que acaba dando uma
sensação ainda positiva no curto-prazo, evitando que os investidores adotem uma
postura mais cautelosa e/ou defensiva. Observamos alguns números de crescimento
um pouco mais fracos do que as expectativas (como as vendas no varejo e a
produção industrial) nos EUA. Por ora, parecem ser questões pontuais e não uma
mudança clara de tendência.
Em linhas gerais, acreditamos que
estamos em um importante ponto de inflexão da economia mundial, capitaneada
pelos EUA. Estamos no estágio final do ciclo econômico, em que mais crescimento
implica, necessariamente, em mais inflação. Assim, a política monetária terá
que ser ajustada. Em algum momento, isso levará a uma desaceleração da economia
e a uma eventual desaceleração do crescimento.
Como gestores, precisamos identificar
quais os cenários prospectivos mais prováveis e, principalmente, como o mercado
irá reagir a estes cenários. O mercado costuma antecipar ciclos, mas por vezes
apresenta reações atrasadas ao cenário corrente.
No momento atual, temos mais dúvidas
do que convicções claras, mas acreditamos que realmente estamos no estágio
final do ciclo econômico, especialmente nos EUA, maior e mais importante
economia do mundo. Por um lado, a inflação começa a dar sinais mais claros de
ascensão. Por outro lado, o crescimento corrente continua robusto e saudável.
Não vemos sinais claros de que o
mercado tenha mudado de maneira definitiva a dinâmica dos últimos anos (“buy
the dips”, convicção nos “fundamentos”, países emergentes saudáveis, etc). Não
nos parece que estamos, ainda, no momento de ruptura ou na mudança definitiva
de cenário, mas muitas vezes essas coisas ocorrem de forma rápida e acentuada.
Assim, acreditamos que iremos conviver
com um período de maior volatilidade. Vislumbramos um cenário de diferenciação
entre classes de ativos e regiões. Por exemplo, a bolsa americana “andando de
lado”, e os investidores ainda buscando “valor” nos mercados emergentes. Apenas
quando o cenário mudar de fato, a mudança de direção dos ativos de risco
ocorrerá com maior correlação e sem grandes diferenciações.
Brasil:
O cenário econômico local continua
mostrando um quadro cíclico positivo. Os números recentes mostram um
crescimento mais elevado, consolidado e espalhado. O mercado de trabalho está
em recuperação, com a taxa de desemprego em queda e os rendimentos médios reais
em alta. A inflação corrente continua baixa e as expectativas apontam para uma
inflação abaixo da meta ao longo deste ano e, quiçá, do ano que vem. As contas
externas estão saudáveis, já que o baixo déficit em conta corrente do país é
amplamente financiado por fluxos considerados robustos e de longo-prazo, como
os investimentos estrangeiros diretos. As contas públicas, ou seja, o quadro
fiscal, é um grande problema de longo-prazo. Contudo, mesmo aqui, a melhora
cíclica da economia ajuda a dar algum alento de curto-prazo. Isso não significa
que as reformas econômicas não deixem de ser indispensáveis.
Temos duas incertezas pairando sobre o
cenário. Primeiro, uma potencial mudança do cenário externo, como descrito
acima. Segundo, o quadro político local, que poderá determinar se a recuperação
cíclica da economia se tornará, de fato, uma recuperação mais estrutural, ou se
o país se tornará um ambiente estruturalmente mais positivo.
Nesta frente, existem mais incertezas
do que convicções. A aparente retirada de Lula do pleito eleitoral, se
confirmada pelo TSE, reduz substancialmente os riscos de um cenário alternativo
de extrema esquerda. Todavia, o cenário político ainda é nebuloso e incerto
neste momento.
Alocação/Estratégia:
Continuamos
a ver o cenário local como bastante positivo ciclicamente. Para este cenário
cíclico se tornar estrutural, precisamos ver avanços na agenda de reformas e a
eleição de um presidente com viés liberal e
reformista. Acreditamos que, por ora, o pano de fundo externo ainda é positivo
paras as economias emergentes e, consequentemente, para o Brasil. Contudo, já
vemos o acúmulo de evidências de que este cenário possa estar mudando e, por
isso, vamos buscar ser mais ativos nas alocações táticas (curto-prazo) além de
buscar alocações que se beneficiam deste tipo de ambiente, como fundos
estruturados (multimercados) e/ou multimercados institucionais.
Juros
– Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima da média na
classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com alocações na
média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta, optamos por estar
levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Câmbio
– Estamos taticamente com alocações levemente acima da média no Real (BRL).
Contudo, preferimos alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra
o Dólar (USD). Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais
táticas (curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Renda
Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo benigno.
Fundos
Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
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