Relatório Mensal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
No Brasil, o grande destaque do mês ficou por conta da
condenação em segunda instância do ex-presidente Lula pelo TRF-4. Pela
legislação vigente uma condenação em segunda instância torna o réu/condenado
inelegível para cargos executivos eletivos. Assim, a leitura dos mercados financeiros
locais é de que reduziu substancialmente o risco de um candidato competitivo e
de extrema esquerda dispute as eleições e tenha reais chances de vitória. Assim
sendo, se efetivamente ocorrer, um enorme “risco de cauda” é retirado do
cenário local.
No que tange ao cenário econômico, continuamos a ver os números
correntes ratificando o cenário base. Em linhas gerais, vemos uma recuperação
cada vez mais consolidada, espalhada e acentuada do crescimento, o mercado de
trabalho segue mostrando queda na taxa de desemprego e elevação dos rendimentos
médios reais, a inflação corrente continua baixa, a despeito de surpresas
pontuais altistas. A inflação prospectiva mostra sinais de que a inflação
deverá continuar abaixo da meta nos próximos 12 a 18 meses, permitindo a Taxa
Selic permanecer baixa por um longo-período de tempo. As contas externas estão
saudáveis enquanto o quadro fiscal, grande preocupação estrutural, mostra uma
recuperação cíclica, capitaneada pela recuperação do crescimento e emprego, e
de uma inflação baixa.
No cenário externo, prevaleceu o cenário de crescimento robusto
e sincronizado da economia global. Ainda vemos um cenário relativamente
construtivo para as economias emergentes. Contudo, começamos a ver o acúmulo de
sinais que nos deixam mais alertas a eventuais mudanças do cenário base.
Os EUA vivenciam um momento de crescimento sólido, hiato do
produto fechado, pleno emprego, com sinais crescentes, mesmo que ainda
graduais, de aumento da inflação e dos rendimentos dos trabalhadores. Soma-se a
isso um enorme pacote fiscal/tributário, a perspectiva de um plano de
infraestrutura e medidas de incentivo a indústria doméstica em detrimento ao
comércio global. Finalmente, existe a disposição em abrandar as restrições
bancárias, visando o estímulo ao crédito e à economia. Isso tudo deverá
aumentar o déficit, elevar a inflação e, consequentemente, demandar taxas de
juros mais elevadas. Este cenário não parece estar sendo devidamente apreciado
pelo mercado e merece atenção redobrada nos próximos meses.
Alocação/Estratégia:
Na
metade do mês de janeiro reduzimos taticamente (curto-prazo) as alocações em
ativos locais, mantendo uma alocação estratégica (longo-prazo) relevante. Nosso
argumento estava baseado na apreciação rápida e acentuada dos ativos locais
desde meados de dezembro, além de alguns riscos que víamos no curto-prazo, como
o julgamento de Lula na segunda instância, além de uma eventual mudança do
cenário externo.
Após
a condenação de Lula em segunda instância, acreditamos que a sua candidatura à
presidência ficou praticamente inviabilizada. Para os mercados financeiros
locais, a leitura é de que o risco de um candidato radical à esquerda se eleger
reduziu drasticamente, tornando-se portanto em um evento que contribuiu
positivamente para o preço dos ativos locais de forma estratégica
(longo-prazo).
Assim,
aproveitamos a oportunidade para rever algumas de nossas alocações e visões:
Continuamos
a ver o cenário local como bastante positivo ciclicamente. Para este cenário
cíclico se tornar estrutural, precisamos ver avanços na agenda de reformas e a
eleição de um presidente com caráter liberal e reformista. Acreditamos que, por
ora, o pano de fundo externo ainda é positivo paras as economias emergentes e,
consequentemente, para o Brasil. Contudo, já vemos o acúmulo de evidências de
que este cenário possa estar mudando e, por isso, vamos buscar atuar de maneira
mais dinâmica nas alocações táticas (curto-prazo) além de buscar alocações que
se beneficiam deste tipo de ambiente, como fundos estruturados (multimercados)
e/ou multimercados institucionais.
Juros
– Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima da média na
classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com alocações na
média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta, optamos por estar
levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Câmbio
– Estamos taticamente com alocações acima da média no Real (BRL). Contudo,
preferimos alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar
(USD). Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Renda
Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo propício.
Fundos
Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
Fundo
Icatu Vanguarda Macro Fundo de Investimento Multimercado:
O Fundo
manteve exposição à parte
intermediária e longa da curva real de juros, administrando apenas tamanho e
instrumentos. Ainda vemos espaço para a compressão dos prêmios das taxas longas
do país, baseado no pano de fundo de uma recuperação da economia, em meio a um
hiato do produto elevado, expectativas de inflação ancoradas e contas externas
saudáveis.
Mantemos
posição comprada em bolsa local na maior parte do mês. Continuamos
administrando ativamente o tamanho e os instrumentos da alocação. Devemos continuar
buscando posições nesta direção ao longo dos próximos meses, exceto na
eventualidade de uma mudança brusca de cenário.
Em meados
do mês, montamos uma alocação vendida em Dólar e comprada em Real, através de
estruturas de opção com perda limitada. Vemos um quadro bastante positivo para
as contas externas do país, um cenário global propício para a queda do dólar no
mundo e a apreciação dos ativos emergentes. Além disso, o Real mostra uma
performance surpreendentemente pior do que os seus pares nos últimos meses.
Assim, vemos espaço para uma redução deste diferencial. Continuamos vendo o
câmbio operando em uma grande “banda”, entre 3,0-3,30. As posições neste ativo
devem ser táticas.
No início
do mês iniciamos uma posição comprada em Iene (JPY), a moeda do Japão. Após bom
desempenho, reduzimos substancialmente a alocação na segunda quinzena do mês.
No final do mês, abrimos uma pequena posição vendida em Dólar Australiano
(AUD).
Mantemos
posição tomada nas curvas longas de juros das economias desenvolvidas,
concentrado na curva dos EUA. Estamos administrando ativamente o tamanho e os
instrumentos da alocação. Devemos manter alocações relevantes nesta classe de
ativos, exceto por mudanças bruscas de cenário.
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