Momento de acomodação. Cenário evolui de maneira fluida.

Mercados & Cenário:
Os ativos de risco parecem estar passando por um momento de consolidação, passado o ajuste técnico na primeira quinzena de fevereiro. Por ora, não consigo identificar nenhuma tendência definida de curto-prazo.

Os leilões de títulos públicos (Bills, Notes and Bonds) nos EUA ao longo da semana, de tamanho elevado para os padrões históricos, devido a necessidade de financiamento de um déficit elevado em um momento de menor demanda (redução do balanço do Fed, redução de compras por parte de Japão e China e etc), foram relativamente bem digeridos pelo mercado, o que ajudou a estabilizar as Treasuries 10yrs em abaixo de 2,90%, dando alívio aos demais ativos de risco.

O cenário base continua sendo de um crescimento global sólido, robusto e saudável. Nos últimos dias, observamos alguns dados econômicos mais fracos do que as expectativas, especialmente na Europa e nos EUA. Este tipo de acomodação/consolidação dos dados econômicos costuma ser normal nesta fase do ciclo econômico. Ainda não há sinais mais preocupantes. O patamar dos números de crescimento continua apontando para uma economia global com crescimento sólido e sincronizado.

O grande risco para o cenário continuar a ser no campo inflacionário, especialmente nos EUA. Vejo a economia no pleno emprego, com hiato do produto fechado e com a acumulação de sinais de pressões (altistas) na inflação. A velocidade da inflação que será fundamental para a dinâmica dos ativos de risco nos próximos meses, assim como para a reação do Fed a este pano de fundo. Tenho escrito bastante sobre isso desde fins do ano passado (https://mercadosglobais.blogspot.com.br/).

No Brasil, seguimos em um ambiente ciclicamente bastante positivo e sem novidades relevantes. O grande destaque dos últimos dias acabou ficando para a divulgação de novos indicadores apontando para um quadro bastante benigno para a inflação (baixista) (https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/02/brazilian-rates.html). O cenário ciclicamente positivo para o país, em termos econômicos, dificilmente será revertido nos próximos 12 a 18 meses. Para os mercados financeiros locais, contudo, temos as incertezas das eleições para presidente e o cenário externo.

Agenda:
A semana terá como destaque o Core PCE nos EUA, o principal indicar de inflação utilizado pelo Fed na análise econômica para implementação de sua política monetária. Após o Core CPI e o PPI, o mercado já espera uma aceleração deste indicador, para uma alta de 0,3% MoM em janeiro. Dado essas expectativas já elevadas, os riscos de curto-prazo acabam sendo mitigados, porém não totalmente isolados, dado a sensibilidade dos mercados financeiros globais as taxas de juros (“yields”) das Treasuries nos EUA.

Dados econômicos, Notícias e Bancos Centrais:
O final de semana trouxe poucas novidades relevantes ao cenário. Acho válido citar a possibilidade da mudança da legislação na China, que pode permitir a consolidação do poder do atual primeiro ministro (vide detalhes abaixo no link para artigo do FT). A notícia pode ter pouco impacto de curto-prazo, mas pode abrir caminho, a longo-prazo, para um novo cenário no país.

Nessa linha, vimos na semana passada o Governo Chinês anunciar uma espécie de intervenção no Angbank, um grande conglomerado financeiro que, assim como a HNA, sofre problemas de liquidez devido a acelerada espanção, financiada por dívida, ao longo dos últimos anos. Com essa postura, o Governo mostra aversão a problemas financeiros maios graves, optando pelo intervencionismo no curto-prazo. Os problemas no mercado de crédito na China são conhecidos e crescem ano após ano. Por ora, o Governo Chinês têm mostrado enorme habilidade em administrar esta questão. Todavia, este é um risco que precisa ser monitorado no detalhe e não sairá do radar nos próximos anos.

FT - China poised to end two-term limit on presidency:https://www.ft.com/content/a99120f8-1a07-11e8-aaca-4574d7dabfb6
Visão:
Os dados econômicos divulgados nos últimos dias, assim como as Minutas do FOMC, em nada alteram nosso cenário base que vem sendo amplamente discutido neste fórum.

Mantenho a visão de que estamos em uma fase próxima ao final do ciclo econômico nos EUA, momento em que a inflação começa a aparecer. Tenho dúvidas, contudo, se o ciclo é capaz de durar mais 3 a 6 meses, ou mais 12 a 18 meses. Por isso, tenho favorecido um portfólio mais neutro, com a busca constante por hedges e posições descorrelacionadas. Não acredito que seja o momento de manter posições direcionais elevadas na parcela “Long Risk”,/“Long Risk-On” tampouco seja o momento de manter um portfólio mais “Short Risk”/”Long Risk-Off”.

Como já comentei aqui nas últimas semanas, acredito que o ano será de “corridas de 100m” e não de uma “maratona”. A postura tática será ainda mais importante, assim como a escolha ideal das classes de ativos e dos instrumentos (acho que será um ano de muita utilização do mercado de opções, por exemplo).

Acredito que exista espaço para o mercado “comprar a ideia” de que os fundamentos dos mercados emergentes hoje são mais sólidos, os “valuations” mais atrativos e a posição técnica menos comprometida, o que pode favorecer está classe de ativos em detrimentos aos ativos de países desenvolvidos. Isso pode durar enquanto houver um crescimento global sólido. O cenário só irá “virar” de fato para um ambiente mais direcionalmente negativo quando o aperto da liquidez global for forte o suficiente para transformar o ciclo de crescimento na nova fase do ciclo econômico, de desaceleração. Enquanto isso, mantereu uma postura mais neutra.

Mantenho um pequeno portfólio comprado em NTN-B e Bolsa no Brasil. Venho mantendo postura tática no BRL, buscando a venda do dólar em momentos específicos e via estruturas de opção com perdas limitadas.

No portfólio externo, nossa posição “core” ainda é tomada em juros longos nos EUA. Estamos taticamente vendidos em AUD e em S&P via opção. Após as Minutas do FOMC, retornamos a posição comprada em JPY.


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