EUA: Déficit Fiscal, Juros e Ativos de Risco.
O destaque do dia ficou por conta de um forte movimento global
de dólar forte. O BRL apenas seguiu o movimento ao redor do mundo, mas continua
com desempenho relativo pior do que os seus pares. Me parece que muitos têm
utilizado a moeda como hedge de outras posições, como Long Ibovespa e aplicado
em juros.
Os mercados financeiros globais continuam muito voláteis e
sensíveis. Ainda tenho a sensação que estamos no meio do processo de ajuste.
Continuo receoso que podemos estar vivenciando o começo de uma mudança de
cenário global um pouco mais estrutural.
Ainda mantenho a visão que descrevi pela manhã aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/02/volatilidade-segue-elevada.html.
O movimento de dólar forte no mundo não teve um “trigger”
específico. Minha visão é que o movimento faz parte de um pano de fundo mais
abrangente de ajuste de posições, ou “wash-out” de posições consensuais que
prevaleceram no inicio deste ano. Já tínhamos visto uma correção nas bolsas
globais, nas cripto-moedas e um pouco nas taxas de juros (a Treasury 10yrs
chegou a sair de 2,88% para 2,64% no dia do “flash crash” das bolsas dos EUA).
Agora, parece que o movimento de ajuste atingiu as posições excessivamente
vendidas em dólar no mundo.
As declarações de membros do ECB de que o Tesouro Americano
estaria deliberadamente tentando desvalorizar o USD com as declarações recentes
também ajudaram o movimento, assim como vetores que impulsionam o déficit dos
EUA e, consequentemente, dão novo ímpeto a abertura das taxas de juros do país.
O Congresso dos EUA anunciou um acordo em torno do Orçamento do
país, por mais dois anos. Em termos sucintos, o acordo retira um risco político
de curto-prazo, o que deveria ser visto como positivo. Todavia, o acordo prevê
novos gastos orçamentários e, consequentemente, eleva o déficit fiscal do país.
Volto aqui a um tema que tenho insistido nas últimas semanas.
Estamos na fase final do ciclo econômico dos EUA. A economia apresenta hiato do
produto fechado, pleno emprego e sinais de pressões inflacionárias. As recentes
medidas do Governo dos EUA, como a Reforma tributária, a proposta de alivio na
regulação bancária, o potencial pacote de infraestrutura e, agora, este acordo
orçamentário, deveriam ter sido medidas tomadas no pós-crise de 2008 e não na
atual fase do ciclo econômico.
Acredito que estamos em um ponto que este tipo de medida passa a
ser contra produtiva e podem afetar negativamente o humor global a risco. O
canal de contágio continua a ser as taxas de juros mais longas dos EUA, que
precisam ser monitoradas no detalhe.
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