Relatório Semanal de Asset Allocation:
No Brasil, o Banco Central
do Brasil (BCB) reduziu a Taxa Selic em 25bps como era amplamente esperado. O
comunicado após a decisão deixou claro que o Banco pretende encerrar o ciclo
com a taxa nos atuais 6,75%, exceto por mudanças substanciais de cenário base.
O IPCA de janeiro ficou
muito abaixo das expectativas do mercado, com alta de 0,29% no mês e 2,86% em
relação ao mesmo período do ano passado. A inflação corrente (e prospectiva)
mais baixa manteve as esperanças de que o BCB possa promover mais um corte da
Taxa Selic, a despeito da clara sinalização emitida após a decisão do Copom.
Não há mudanças
substanciais no campo político, exceto por especulações em torno do cenário
eleitoral. A Reforma da Previdência nos parece, hoje, com probabilidade
extremamente remota de acontecer no curto-prazo.
A novidade ficou por conta
dos mercados financeiros globais, que estão passando por um momento de
instabilidade que não se via em pelo menos 2 anos.
Os ativos de risco tiveram
na sexta-feira (2 de fevereiro) um dos dias de pior desempenho desde meados de
2016. Os movimentos da semana subsequente foram ainda mais fortes, levando a
uma correção superior a 10,5% nos principais índices de bolsas dos EUA.
Estes movimentos foram
liderados pela divulgação dos dados referentes ao mercado de trabalho nos EUA
em janeiro. Os números mostraram uma criação ainda robusta de vagas de trabalho
no mês e uma taxa de desemprego baixa. Porém, mais importante do que isso, foi
divulgado um aumento expressivo dos rendimentos médios reais dos trabalhadores,
o que pressupõe o acúmulo de pressões inflacionárias na economia.
Vale lembrar que estes
números seguem uma série de outros dados que apontam na direção de uma economia
aquecida, com o hiato do produto fechado e no pleno emprego. Isso tudo ocorre
com um pano de fundo em que outras medidas ainda irão afetar a economia na
mesma direção, talvez no pior momento possível do ciclo econômico, tais como os
incentivos da Reforma Tributária, um potencial pacote de infraestrutura,
medidas menos restritivas ao setor financeiro (que devem estimular empréstimos
e a velocidade do dinheiro), além de medidas protecionistas.
No meio disso tudo, uma
política monetária em processo extremamente gradual de normalização, porém
ainda bastante expansionista. O preço dos ativos de risco, em muitos casos, se
mostrava menos trivial do ponto de vista de “valuation” e “valor”, e com uma
posição técnica comprometida.
A conjunção desses fatores
levou a uma mudança na dinâmica dos ativos ao redor do mundo. Primeiro, observamos
um aumento razoável das volatilidades realizadas e implícitas de várias classes
de ativos, e agora estamos vivenciando um processo de ajuste de preços e
posições.
Olhando para a frente,
temos mais dúvidas do que certezas, mas algumas coisas começam a ficar mais
claras. Ainda achamos cedo para afirmar com convicção que estamos de fato
diante de uma mudança de cenário base. Contudo, o acúmulo de evidências nos
leva a crer que estamos no estágio final do ciclo econômico, onde mais
crescimento significa mais inflação, e isso não seja necessariamente positivo
para os ativos de risco.
Entendemos que os Bancos
Centrais nas economias desenvolvidas irão tentar manter uma postura de
gradualismo no processo de normalização monetária. Todavia, no final das
contas, o que irá determinar a velocidade deste processo serão os dados
econômicos. Não podemos descartar cenários de manutenção do “status-quo” atual,
ainda de “Goldilocks”, nem mesmo da mudança radical de cenário, para um
“risk-off” mais acentuado, liderado pelo aumento da inflação e das taxas de
juros. Por ora, nossa visão está no meio do caminho.
Acreditamos que o ano terá
mais volatilidade e mais diferenciação entre classes de ativos, e ativos de
diferentes países e regiões. Vemos mais valor em posições relativas do que em
posições direcionais. Posições táticas deverão ser mais importantes do que
posições estratégicas. A volatilidade média dos mercados deverá ser mais
razoavelmente mais elevada do que no passado recente, com picos ainda mais
altos. Até uma definição mais clara das eleições presidenciais, os ativos do
Brasil deverão seguir o humor global a risco.
Alocação/Estratégia:
Na metade do mês de janeiro reduzimos
taticamente (curto-prazo) as alocações em ativos locais, mantendo uma alocação
estratégica (longo-prazo) relevante. Nosso argumento estava baseado na
apreciação rápida e acentuada dos ativos locais desde meados de dezembro, além
de alguns riscos que víamos no curto-prazo, como o julgamento de Lula na
segunda instância, além de uma eventual mudança do cenário externo.
Após a condenação de Lula em segunda
instância, acreditamos que a sua candidatura à presidência ficou praticamente
inviabilizada. Para os mercados financeiros locais, a leitura é de que o risco
de um candidato radical a esquerda se eleger se reduziu drasticamente, se
caracterizando, assim, como um evento positivo para o preço dos ativos locais
de forma estratégica (longo-prazo).
Assim, aproveitamos a oportunidade para
rever algumas de nossas alocações e visões:
Continuamos a ver o cenário local como
bastante positivo ciclicamente. Para este cenário cíclico se tornar estrutural,
precisamos ver avanços na agenda de reformas e a eleição de um presidente com
caráter liberal e reformista. Acreditamos que, por ora, o pano de fundo externo
ainda é positivo paras as economias emergentes e, consequentemente, para o
Brasil. Contudo, já vemos um acúmulo de evidências de que este cenário possa
estar mudando e, por isso, vamos buscar ser mais ativos nas alocações táticas
(curto-prazo) além de buscar alocações que se beneficiam deste tipo de
ambiente, como fundos estruturados (multimercados) e/ou multimercados institucionais.
Juros – Nos atuais níveis de preço,
preferimos estar com alocação acima da média na classe de Inflação Longa
(NTN-Bs longas). Preferimos estar com alocações na média na parcela de Juros
Prefixados (DI). Na Inflação Curta, optamos por estar levemente abaixo da média
(NTN-Bs curtas).
Câmbio – Estamos taticamente com
alocações acima da média no Real (BRL). Contudo, preferimos alocações do BRL
relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD). Seguimos com a visão
de que as posições em câmbio devem ser mais táticas (curto-prazo) do que
estruturais (longo-prazo).
Renda Variável – Ainda vemos espaço para
manter alocações acima da média. Após a apreciação recente, estamos optando por
alocações em Fundos Valor ou carteira de ações, em uma tentativa de “fugir” da
parcela mais cíclica da bolsa, cuja apreciação demanda um cenário externo
propício.
Fundos Multimercados – Estamos com
alocações acima da média e aumentando as alocações nesta classe de ativos. A
escolha dos gestores, neste caso, é mais importante do que o “timing” das
alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo será mais desafiador
para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais classes de ativos e os
gestores de fundos Multimercados Macro costumam apresentar desempenho positivo
neste tipo de ambiente.
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