O quadro técnico está ditando a dinâmica dos ativos de risco

Neste momento, os ativos de risco estão confirmando a minha tese de que o quadro técnico do mercado, no curto-prazo, será mais importante do que os dados econômicos de fato. Estamos observando mais uma rodada do movimento de “risk-off”, liderado pela queda das bolsas dos EUA. Desta vez, porém, as correlações se mostram mais “normais”, com as taxas de juros fechando e o dólar forte no mundo. Os ativos do Brasil estão seguindo o humor global a risco, como esperávamos (https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/02/risk-off-continua.html).

No curto-prazo, o movimento parece um pouco esticado (VIX próximo a 25% costuma ser um sinal de excesso de pessimismo, por exemplo), mas fica muito difícil, neste momento, prever até que ponto o técnico do mercado levará a correção dos ativos de risco.

Acho válido apontar que o Ibovespa, ao contrário do BRL, mostra performance relativa mais positiva se comparado a seus pares e as demais bolsas globais. O movimento comprova a tese de que os investidores ainda veem um quadro relativo mais positivo para bolsas EM/Brasil, baseados em valuations mais atrativos, posição técnica mais confortável e expectativa de fluxos para esta(s) classe de ativos.

O destaque econômico do dia ficou por conta da divulgação do ISM Non-Manufacturing, que ficou acima das expectativas do mercado, no patamar mais alto deste ciclo econômico. O número confirma o bom momento da economia.

A reação dos ativos de risco ao número, todavia, levanta a preocupação de que estamos no estágio final do ciclo econômico, em que mais crescimento significa mais inflação e, consequentemente, juros mais elevados. Dado o nível de preço dos ativos de risco e a posição técnica do mercado, mais crescimento começa a se tornar menos positivo, ou até mesmo negativo, para os ativos de risco.

Ainda não estou preparado para afirmar que estamos diante de uma mudança clara de cenário e/ou pano de fundo. Vejo sim com preocupação os sinais recentes da economia e dos mercados globais. Até por isso, tenho optado por um portfólio mais balanceado e pela busca por hedges assimétricos.

Vejo ainda espaço para o mercado permanecer relativamente saudável após está rodada de realização de lucros. Talvez com os ativos nos EUA “trabalhando de lado”, sem tendências relevantes, mas com o mercado buscando “alpha” em outras classes de ativos e regiões, como os Emergentes (EM). Ao longo do ano, com o acumulo de sinais mais claros de inflação mais elevada nos EUA (e quem sabe na Europa), contudo, poderemos ter convicção maior na mudança de cenário e em um pano de fundo mais desafiador estruturalmente para os ativos de risco. Este “roteiro” seria muito parecido com aquele seguido anteriormente a crise de 2008, entre meados de 2007 e meados de 2008.


Continuo com posições de pequenas para médias no Brasil. Não elevamos as alocações. Mantivemos exposição em NTNBs longas, nossa estrutura de BRL foi organizamente reduzida, assim como nossa posição em Ibovespa. No portfólio externo, estamos menores, mas ainda estruturalmente tomados em juros nos EUA. Zeramos nossa venda tática em S&P e seguimos taticamente vendidos em AUDJPY.

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