Trump, Treasury, USD, China e Delações.

Os ativos de risco estão estendendo os movimentos verificados no final da tarde de ontem, após as declarações de Trump (que afirmou que o dólar está muito forte, além de sinalizar que gosta da política de juros baixos e pode manter Yellen no cargo de Presidente do Fed). O destaque desta manhã fica por conta de um forte fechamento das taxas de juros nos EUA, e para a continuidade do enfraquecimento do dólar no mundo. Em relação às taxas de juros, o rompimento do patamar de 2,25% da Treasury de 10 anos, em especial, parece estar ajudando na parte técnica na aceleração do movimento de fechamento de taxas.

A agenda do dia nos reservas o PPI e Jobless Claims nos EUA. Ainda vejo a economia do país relativamente saudável. Acredito que existem vetores técnicos e ruídos pontuais que estejam afetando a dinâmica do mercado de juros no país, mas ainda vejo um cenário de taxas mais elevadas no futuro não muito distante.

Na China, as exportações e as importações surpreenderam positivamente o mercado, confirmando o bom momento da economia do país e um cenário positivo para o crescimento global. As exportações passaram de -1,3% YoY para 16,4% YoY e as importações saíram de 38,1% YoY para 20,3% YoY. É provável que os efeitos calendário do Ano Novo Lunar ainda estejam afetando o indicador em março mas, e qualquer maneira, são números bastante positivos, que corroboram a tese de um crescimento global mais sólido e bem suportado no curto-prazo.

Ainda vejo a economia da China em uma situação confortável no curto-prazo. Espero alguma desaceleração nos próximos meses, induzida pelas medidas de ajuste monetário (aperto) anunciadas nos últimos meses, mas ainda é provável que o crescimento se mantenha saudável, sem riscos iminentes de uma crise mais aguda nos próximos meses, como muitos temiam até pouco tempo atrás. Os desafios de longo-prazo, contudo, ainda continuam.

No Brasil, o Copom anunciou uma queda de 100bps na Taxa Selic, para 11,25%, como era amplamente esperado. O comunicado, na minha visão, foi bastante neutro, mostrando que o Comitê continuará bastante dependente dos dados em suas próximas decisões.

Frente ao cenário que nossa área econômica trabalha, de inflação contida nos próximos meses, recuperação gradual do crescimento e aprovação de uma reforma da previdência que seja em torno de 70% do texto original, acredito que o cenário base seja de pelo menos mais uma queda de 100bps, e uma taxa de juros terminal entre 8% e 9%. Alguns players esperavam uma queda mais agressiva já nesta reunião, ou uma indicação mais dovish por parte do BCB. Isso pode ter algum efeito de curto-prazo na dinâmica do mercado de juros. Contudo, dado o cenário que se apresenta, ainda há espaço para fechamento de taxas de juros no Brasil.

Os jornais de hoje estão repercutindo as delações da Odebrecht. Praticamente tudo que foi divulgado já havia sido, de uma forma ou de outra, vazado na mídia nos últimos meses.
De mais importante, o Presidente Michel Temer é citado 2 vezes. Primeiro por Marcelo Odebrecht, em uma suposta reunião do Palácio do Jaburu, para o pedido de apoio ao PMDB. Marcelo afirma, contudo, que não tratou de valores ou de apoio financeiro diretamente com o atual Presidente, e que isso teria sido acertado com seus assessores. Do lado do Presidente, existe a defesa de que como vice-presidente, na época, é natural e republicano pedir apoio financeiro para a campanha, mas isso não se trata de nenhuma ilegalidade.

Em outro episódio, narrado por um dos executivos do grupo, e negado veementemente pelo atual Presidente, o executivo afirma que esteve no escritório de Michel Temer em SP em reunião para combinar o apoio de US$40mm para o grupo do PMDB. Neste momento, será a palavra de um, contra a palavra do outro. Michel Temer tem imunidade pelo cargo e não houve pedido de abertura de inquérito contra ele.

As delações devem causar constrangimento político mas, por hora, parecem ter pouco impacto imediato sobre o andar das reformas.




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