Redux: The world economy is fine, thanks!

Os ativos de risco estão apresentando um movimento clássico de “risk-on”. O primeiro turno das eleições para presidente da França terminou com um resultado considerado de baixo risco para o cenário, com a extremista Le Pen enfrentando o liberal, pro Reformas e pro Europa Macron no segundo turno. As pesquisas de intenção de votos para o segundo turno colocam Macro com ampla vantagem, em torno de 70% vs 30% de Le Pen. Vale ressaltar que as pesquisas do primeiro turno, mesmo com uma disputa bastante acirrada entre os 4 principais candidatos, acabaram ficando dentro do que realmente foi o resultado efetivo, dando maior credibilidade as pesquisas e maior tranquilidade para o segundo turno.

A eleição presidencial na França era um dos (senão o principal) risco para o cenário econômico global este ano. Passado o evento, mantenho minha visão mais construtiva/otimista para o cenário global e os ativos de risco em geral. Riscos ainda existem, e precisam ser monitorados (Coréia do Norte, China e etc) mas me parecem de baixa probabilidade neste momento.

Na Alemanha, o IFO subiu 0,6 pontos para 112,9, acima das expectativas do mercado e no maior nível desde 2011. O número confirma um ambiente favorável para o crescimento do país e da Europa como um todo (vide números divulgados na sexta-feira e comentados abaixo).

Na China, em um ambiente de crescimento mais saudável, o governo está priorizando a administração de eventuais bolhas em setores específicos, o que está afetando o humor no mercado local de ações. Segundo a Bloomberg: A selloff in Chinese stocks deepened, with the benchmark gauge slumping the most in four months, amid concern authorities will step up measures to crack down on leveraged trading. The Shanghai Composite Index fell 1.4 percent at the close, the biggest one-day loss since Dec. 12. Industrial companies and material producers led losses. The ChiNext small-cap gauge slipped 1.6 percent to 1,809.91, its lowest closing level since September 2015. China’s authorities are taking advantage of a strengthening economy to reduce financial-system risk by tightening the screws on leverage. The banking regulator said late Friday it will strengthen a crackdown on irregularities in the financial sector, echoing comments by the securities watchdog just days earlier, while the top insurance official is being investigated on suspicion of “severe” disciplinary violations. The Shanghai Composite has slumped almost 5 percent since closing at a 15-month high on April 11, the biggest loss among global gauges.

No Brasil, os jornais de hoje estão reportando que o governo não irá mais autorizar mudanças no texto da Reforma da Previdência. As negociações foram ao limite, O momento,agora, é de negociação para a aprovação. A estratégia será votar a Reforma Trabalhista ainda está semana para testar a base aliada. Eventuais dissidentes serão mapeados e cobrados por apoio. Segundo a mídia, neste momento, ainda não há os votos necessários para a aprovação do texto. Por isso, o cronograma poderá atrasar em 1 ou 2 semanas. O foco do governo, contudo, é aprovar o texto como está, mesmo que um atraso de poucas semanas seja necessário.

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A sexta-feira foi marcada por mais uma rodada de ajustes de posições, as vésperas do primeiro turno da eleição para presidente da França. Este é um dos, senão o principal, risco monitorado pelos investidores para este ano. Por isso, acredito que caso o resultado fique em linha com o que apresentam as pesquisas, há espaço para uma nova pernada de apreciação dos ativos de risco. Não entrei em detalhes deste embate ao longo do processo, pois tenho pouca vantagem comparativa na análise. Além disso, as pesquisas eleitorais mostraram, no passado recente, serem de pouco poder preditivo, após as surpresas no Brexit e nas eleições para presidente dos EUA. Assim, somos meros observadores neste assunto.

Prefiro basear minhas análises nos fundamentos econômicos. Como tenho tentado demonstrar neste fórum, ainda vejo um cenário construtivo para economia global. Minha opinião é baseada em um crescimento saudável do mundo, uma inflação contida nos países desenvolvidos e condições financeiras bastante frouxas. Isso não quer dizer que não existam riscos. Eles existem, são poucos triviais e devem ser monitorados. Todavia, neste momento, ainda vejo um ambiente relativamente estável, que não justifica uma mudança de visão.

Este cenário foi reforçado pelos números econômicos divulgados hoje.

- Na Europa, a prévio do PMI apresentou alta, superando as expectativas do mercado. Segundo o Morgan Stanley: Another very healthy gain: Overshooting the consensus, the composite PMI rose by 0.3pt to 56.7, a fresh six-year high. Euro area firms report stronger demand and look optimistic about the year ahead, with expectations of future activity levels moderating only slightly from last month's record high. Employment is growing at the fastest rate since July 2007 and incoming new business printed the second strongest monthly gain since April 2011. Pipeline price pressures remain elevated. We've recently upgraded our expectations for 2017 GDP growth by 40bp to 1.8%Y and those for 2018 GDP growth by 10bp to 1.7%Y;

- Nos EUA, os dados do mercado imobiliário superaram as expectativas em março. Para o JP Morgan: Existing home sales increased 4.4% to 5.71mn saar in March. This was a stronger outcome than expectations, even including a small downward revision to the February data, and the March figure was a new high for the cycle to date. Existing home sales increased 5.6% saar in 1Q, and we think that overall real residential investment (covering brokers’ commissions related to sales as well as other aspects of the housing market) increased a solid 10% saar during the quarter. Some of the recent changes in the housing data have been mixed, but in general, the latest numbers look relatively solid. Apart from the sales data, we see a number of signals that appreciation continues at a solid rate. In the existing home sales report, the median sale price was up 6.8% oya in March.

- Na Coreia do Sul, uma economia bastante aberta cuja a corrente de comércio é vista como uma boa proxy para o crescimento global, as exportações dos primeiros 20 dias de abril mantiveram trajetória positiva e robusta. Segundo a Goldman Sachs: Per-day exports for the first 20 days in April rose 19.2% from a year ago, the sharpest growth since August 2011. Seasonally adjusted, per-day exports continued the third month of positive growth at 2.8% month-on-month, the strongest since February 2015. Positive work-day effects (+1 day) helped headline exports rise a sharper 28.4%, compared with 14.8% in the previous month. If we strip out volatile ship exports, which increased 131.7%, according to preliminary data by the customs office, underlying momentum measured by per-day exports excluding ships (better proxy for the current global demand for Korean goods due to the long order-delivery gaps for ship exports) moderated to year-on-year growth of 13.2% from 13.7% in March.

Nesta tarde Trump afirmou que deverá anunciar seus planos referentes aos cortes de impostos já na próxima semana. Vale lembrar que nas últimas semanas o mercado ficou bastante decepcionado com as ações (ou falta delas) do governo americanos no tocante a agenda econômica. Esta divulgação será importante para medir o quão viável é o projeto econômico deste novo governo. Com as expectativas do mercado bastante baixas, me parece haver uma certa assimetria para este anuncio.

No Brasil, enquanto o governo continua travando uma batalha para aprovar a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista deverá avançar com mais celeridade, funcionando como um grande teste ao governo. A despeito do atraso da Previdência, esta estratégia me parece ser uma postura tática inteligente por parte de Temer e Cia.

Ao longo do dia de ontem, os depoimentos de um ex Ministro da Fazenda, preso na Operação Lava-Jato, e um empreiteiro envolvido nas investigações da mesma Operação, colocaram o ex presidente Lula em situação bastante delicada. Acredito que este evento seja de pouca relevância no curto-prazo, mas de extrema importância para o médio-prazo. Caso o ex presidente se torne inelegível, as opções da esquerda no Brasil serão bastante reduzidas, retirando um grande “risco de cauda” para as eleições de 2018.   

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Os jornais dos últimos dias estão repercutindo alguns eventos políticos locais. Abaixo, aponto cada um desses eventos, com alguns comentários sobre eles:

- O governo já admite adiar a votação da Reforma da Previdência em 1 ou 2 semanas. Segundo fontes, a ideia seria ter mais tempo para explicar o novo texto a sua base e ter margem de votos para uma vitória no plenário da Câmara.

Mais um adiamento da votação é sem dúvida uma notícia negativa de curto-prazo. O atraso sinaliza que o governo ainda não tem confiança na vitória. Acredito, contudo, que o conservadorismo por parte do governo seja positivo para que uma vitória seja alcançada, sem problemas maiores para a Reforma da Previdência. A estratégia de colocar para votação a Reforma Trabalhista antes da Previdência é uma maneira de testar a base e pressionar aliados.

- A mídia voltou a dar atenção a potencial reunião entre membros do PMDB, inclusive Michel Temer, junto a operados financeiros e executivos da Odebrecht para o acerto de propina, segundo delatores, em um contrato com a Petrobrás. Os delatores afirmam que Temer teria dado o aval, a benção, para a operação. A mídia afirma, ainda, que existem extratos confirmando a transferência de recursos.

Este episódio não é novo e já foi amplamente reportado pela mídia. A novidade, agora, são as delações, as possíveis provas e a menção nominal ao nome de Michel Temer. O atual Presidente confirma a reunião, mas nega peremptoriamente a tratativa de valores.

Acredito que este é mais um ruído de curto-prazo e um constrangimento ao atual presidente. O argumento de defesa será sempre de negar a tratativa de valores. Além disso, como presidente do PMDB à época, Temer tinha entre suas atribuições tratar de doações legais a campanhas do partido. Neste caso específico, parece que a palavra dos delatores será confrontada com a palavra de Temer. A situação, contudo, pode ser tornar mais problemática para membros da cúpula do PMDB, cujas provas podem ser mais contundentes.

- Os veículos de comunicação afirmam que uma série de pessoais públicas, tais como Silvio Santos, Ratinho e Luciano Hulk irão apoiar a Reforma da Previdência em suas mídias sociais. Parte deste esforço será capitaneado pelo marqueteiro Nizan Guanaes. Este é mais um esforço positivo por parte do governo para mostrar a população a importância da Reforma.

- Ainda repercutindo os depoimentos de Antônio Palocci e Leo Pinheiro, a mídia coloca Lula em uma situação extremamente delicada. 

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