Relatório Semanal de Asset Allocation:

A despeito da volatilidade dos ativos de risco durante a semana, alguns indicadores divulgados nos últimos dias nos deram um alento para manter o cenário construtivo para a economia global com a qual temos trabalhado já há alguns meses.

- Trump está adotando uma postura muito mais conciliadora do que aquela apresentada na campanha eleitoral, especialmente frente a desafios polêmicos, como as negociações comerciais e os riscos geopolíticos. A migração para um perfil mais político deve ser vista com bons olhos neste momento, pois reduz os “riscos de cauda” de eventos inesperados.

- A despeito da derrota do Governo dos EUA no “Health Care Bill” e do pouco avanço da agenda econômica, os dados continuam mostrando uma economia americana bastante saudável. Em especial, o Bloomberg Confort Index saiu de 50,2 para 51,0 pontos. Este é um índice semanal. A alta na última semana, e a manutenção dos picos históricos, é um sinal positivo para o crescimento prospectivo da economia, mesmo diante das incertezas do cenário. Nesta mesma linha, o Michigan Confidence subiu de 96,9 para 98,0 pontos em abril, mantendo-se próximos aos picos deste ciclo econômico.

- Os sinais saudáveis de crescimento não se restringem aos EUA. Os dados do primeiro trimestre (e mais especificamente do mês de março) na China, mostraram uma economia com crescimento saudável/robusto, acima das expectativas do mercado.

- Nos EUA, o Core CPI caiu 0.1% em março, muito abaixo das expectativas de alta de 0.2%. O número foi divulgado na sexta-feira, feriado na maior parte do mundo. Os ativos de risco não tiveram oportunidade de reagir à divulgação.  Alguns vetores pontuais influenciaram o indicador (como uma questão referente a telecomunicações), mas fica claro que a inflação ainda não é um problema para o Fed.

- Dito isso, achamos razoável supor que flutuações em torno da tendência serão normais de agora em diante, dado o nível que muitos desses indicadores atingiram nos últimos meses. De qualquer maneira, ainda há amplo espaço para o “hard data” mostrar recuperação, após um primeiro trimestre relativamente morno de crescimento (especialmente nos EUA) se comparado ao “soft data”.

- A temporada de resultados corporativos dos EUA começou e, até o momento, os bancos, na média, apresentaram resultados satisfatórios/positivos.

- No Brasil, a incerteza política está causando uma clara e justificável “under performance” dos ativos locais, se comparado a seus pares. A Reforma da Previdência precisa avançar para que ocorra uma próxima rodada de apreciação dos ativos no Brasil. Ainda vemos este como o cenário base. Os jornais do final de semana apontam que o governo está reagindo à "crise política” da mesma forma que lidou com este tipo de problemas desde a posse de Temer, ou seja, tentando avançar e acelerar as reformas. Já há articulações para cancelar o recesso parlamentar, para dar tempo hábil de tramitação da Reforma da Previdência. Além disso, o governo está acelerando a Reforma Trabalhista. A mídia passou o final de semana repercutindo as delações dos executivos da Odebrecht. Os vídeos trazem nomes de políticos e empresários possivelmente envolvidos no escândalo, mas, em grande parte, personagens que já eram suspeitos anteriormente, dado que grande parte das delações havia vazado à imprensa ao longo dos últimos meses. Reforçamos que, até o momento e dada a situação, o Governo reage da melhor maneira possível dentro do contexto. Temer convocou sua base para acelerar as reformas. Em especial, vão acelerar a Reforma Trabalhista e usá-la como vitrine/teste para a Reforma da Previdência. Por ora, o cronograma da Previdência está mantido. Os jornais já falam em um possível pedido de urgência da tramitação da Reforma Trabalhista, que poderia ir a plenário em menos de 2 semanas.

- O Banco Central anunciou o corte de 100bps na Taxa Selic, dentro das expectativas do mercado. A inflação continua apresentando uma clara tendência de queda, o que está ajudando a manter as expectativas não apenas ancoradas, mas em trajetória descendente. Na margem, os indicadores de crescimento mostraram recuperação, especialmente após as revisões promovidas pelo IBGE na pesquisa relativa às vendas no varejo. Os sinais recentes dão força a um cenário no qual a economia já tenha feito seu piso e já dá sinais mais claros e sustentáveis de recuperação.

- O pano de fundo continua positivo para os ativos emergentes em geral. O mundo está crescendo a taxas saudáveis, a inflação sobe apenas gradualmente, as condições financeiras estão frouxas e muitos países emergentes apresentaram melhoras substanciais de fundamentos.

Alocação/Estratégia:

Mantemos um viés positivo para o cenário econômico local e uma visão construtiva para o cenário externo. Assim, mantemos uma visão positiva para os ativos locais (bolsa, juros e câmbio). Acreditamos que faça sentido manter exposição ao que é “vulgarmente” conhecido como “Kit Brasil”. Entendemos que o processo de apreciação dos ativos não será linear. Momentos de incerteza certamente afetarão a volatilidade e os preços dos ativos, o que irá requerer certo “sangue frio” na estratégia de alocação. Por ora, mantemos uma visão de que a recuperação do país e de seus ativos será um processo plurianual e não se dará em poucos meses. Ainda vemos amplo espaço para uma recuperação estrutural dos ativos do país. Neste momento, o grande risco fica por conta da Reforma da Previdência. Se o governo falhar neste frente, o cenário poderá ser rapidamente revertido.

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