Tarifas, Crescimento e Bancos Centrais.

Mercados & Cenário:
Os ativos de risco tiveram na quinta-feira um dia de “risk-off” clássico e acentuado, com queda das bolsas e das commodities, fechamento de taxas de juros nos países desenvolvidos, dólar forte e pressão nos ativos emergentes em geral.

A noite de elevada volatilidade e de manutenção de um viés negativo nos mercados financeiros globais. Acredito que alguns vetores estejam influenciando os ativos de risco no curto-prazo. Não vejo nenhum deles sendo dissipados nos próximos dias (ou semanas). Assim, deveremos conviver ainda com um ambiente de elevada volatilidade e sem tendências definidas. Vamos aos fatos:

Tarifas – O governo dos EUA anunciou que irá taxar cerca de US$60bi de importações da China em cerca de 25%. Outras medidas também serão tomadas. Durante a noite, a China anunciou que irá adotar medidas de reciprocidade. Já anunciou tarifas em cerca de US$3bi de importações de Aço e Alumínio dos EUA e sinalizou que outras medidas serão tomadas caso os EUA não migrem para uma postura de maior diálogo.

Ainda vejo a postura dos EUA como uma meio de buscar negociações mais vantajosas, mas não uma necessidade de entrar em um conflito comercial mais amplo. Contudo, certamente as decisões recentes elevam as chances de um ambiente mais desafiador e de um erro de política comercial ao longo do caminho, o que deve manter o humor global a risco sob pressão até que uma claridade maior seja observada.

Sinais de desaceleração do crescimento – Nos últimos dias, vimos sinais ao redor do mundo de desaceleração do crescimento, com destaque para os PMIs da Europa, China e Japão. Além dos sinais provenientes dos dados econômicos, nos últimos dias vimos recuos significativos nas commodities metálicas mais sensíveis ao crescimento, como Minério de Ferro e Cobre.
O primeiro trimestre do ano é conhecido por sazonalmente trazer surpresas negativas de crescimento, que depois acabam sendo compensadas por uma aceleração da economia nos trimestres subsequentes. Por ora, ainda vejo os indicadores econômicos em níveis saudáveis e condizentes com um crescimento positivo. Contudo, em um pano de fundo de fragilidade, sinais como estes acabam afetando o humor global a risco e acendendo um sinal amarelo no cenário.

Bancos Centrais – A despeito da reação dos mercados a decisão do Fed e do ECB, os principais bancos centrais do mundo seguem em uma trajetória de normalização monetária, com retirada de estímulos. Me parece que o cenário precisaria mudar muito para este caminho ser alterado. Vou além, não descarto a possibilidade de termos que conviver com mais inflação e menos crescimento nos próximos meses, em especial, nos EUA.

No Brasil, a reação do mercado a decisão do Copom foi em linha com o que comentamos neste fórum na manhã de ontem (https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/03/tarifas-pmi-fraco-na-europa-e-surpresa.html), com a curva de juros apresentando um “Bull steepening” com forte fechamento de taxa da parte curta e uma elevada over-performance dos setores domésticos e mais dependentes de taxa de juros em detrimento aos setores cíclicos e mais dependentes do cenário externo na bolsa. Vejo espaço para a continuidade deste movimento na bolsa. No mercado de juros, continuo preferindo a parte intermediária e longa da curva.

Ontem, o STF decidiu analisar o HC de Lula para evitar sua prisão caso a condenação seja confirmada em segunda instância. Essa é a primeira vitória da defesa do ex-presidente em muito tempo. Lula ganha tempo, mas sua situação continua extremamente delicada. O mercado mostra algum receio de que, caso Lula não seja preso, ele mantenha força política, podendo concorrer a presidente e/ou emplacar um aliado seu de maneira competitiva na disputa eleitoral.
Dados Econômicos:
O CPI no Japão apresentou alta dentro das expectativas do mercado. A inflação no país sobe de maneira gradual e dentro das expectativas do BoJ. Apesar de estar em um estágio do ciclo econômico muito anterior aos EUA, Inglaterra e Europa, o Japão também caminha para um ambiente onde a política monetária não precisará ser tão expansionista no futuro próximo. De acordo com o Morgan Stanley:

Ongoing modest core-core improvement: The February nationwide core-core (excluding fresh foods/energy) was +0.5% YoY, slightly better than January’s +0.4%. Even the seasonally adjusted index is improving, at +0.1% MoM for the second straight month. The Japan-style core (excluding fresh food) also improved from +0.9% YoY in January to +1.0% YoY, with the c-tax adjusted figure (our estimate) reaching +1% for the first time since September 2014.
Nos EUA, ontem, vimos o Jobless Claims permanecer nos pisos históricos, mostrando um mercado de trabalho robusto e no pleno emprego.
Agenda:
A agenda do dia terá o IPCA-15 no Brasil. Nos EUA, destaque para o Durable Goods Orders.
Visão & Posição:

- Nossa maior alocação continua a ser voltada para taxas de juros mais elevadas nos EUA. Preferimos a parte longa da curva. Estamos optando por estruturar as operaçõs via opções longas, dado a volatilidade baixa e uma postura mais defensiva diante dos riscos de curto-prazo.
- Mantemos posições compradas em EUR e JPY, porém vendidas em AUD. As posições foram estruturadas de forma a ter perdas limitadas e alavancagem relevante.
- Temos um pequeno hedge através de “puts” (opções de venda) de S&P. Reduzimo substancialmente a posição ontem. Continuamos achando que o S&P deve permanecer em uma banda entre 2.500-2.800 no curto-prazo.
- No Brasil, seguimos com posição na parte longa da curva de NTN-B. Algumas opções “fora do dinheiro” se favoreceram da surpresa do comunicado do Copom.
- Estamos com uma pequena posição comprada em uma carteira de ações voltada para o mercado doméstico. A posição é hoje muito inferior ao que era no final de 2017 e começo de 2018.


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