Relatório Semanal de Asset Allocation:


No Brasil, as últimas semanas têm sido marcadas por uma nova rodada de surpresas baixistas na inflação. Com uma meta de inflação de 4,5% para este ano, o mercado já trabalha com um IPCA que pode ficar abaixo de 3,5% (o FOCUS ainda apresenta expectativas de 3,67% para o IPCA em 2018, mas o mercado vem migrando para níveis mais reduzidos), muito abaixo do centro da meta de inflação e abaixo do que era esperado pelo Banco Central do Brasil (BCB) e pelo próprio mercado há poucas semanas atrás.

Com uma inflação corrente contida e perspectivas favoráveis para os próximos meses (inflação baixa), as expectativas de inflação têm se mantido reduzidas, o que deve permitir ao BCB promover novos cortes na Taxa Selic, cenário que não era totalmente esperado (ou precificado pelo mercado) anteriormente. Este pano de fundo tem permitido que a curva de juros permaneça ancorada nos níveis mais baixos da história do país, ou da história recente (dependendo do vértice).

Além deste cenário mais benigno na inflação, as demais variáveis econômicas continuam relativamente estáveis e ciclicamente construtivas. O crescimento segue em uma trajetória de recuperação gradual, assim como o emprego e a renda. As contas externas continuam saudáveis e o quadro fiscal, mesmo que estruturalmente preocupante, mostra recuperação cíclica de curto-prazo.

No cenário externo, vimos novas evidências de que o mercado de trabalho nos EUA esteja muito próximo (ou já tenha superado) o pleno emprego, com o hiato do produto fechado. Continuamos a ver um crescimento robusto do país, a despeito de alguma volatilidade pontual nos indicadores de atividade econômica. A inflação começa a dar sinais mais claros de que está, de fato, em uma trajetória ascendente. Enquanto estes movimentos, especialmente na inflação, forem graduais, o Fed poderá manter uma postura de gradualismo na normalização de sua política monetária. Caso a inflação suba de maneira mais rápida e acentuada do que o esperado, o cenário pode se tornar um tanto quanto mais desafiador.

A semana foi marcada pelo anuncio da imposição de barreiras tarifárias por parte do governo dos EUA aos mercados de Aço e Alumínio. Por ora, essas medidas estão sendo vistas como pontuais, visando acordos comerciais mais vantajosos aos EUA. Caso o governo dos EUA caminhe para uma postura mais agressiva, impondo novas tarifas para outros produtos, um cenário mais amplo de “guerra comercial” poderá afetar de maneira mais negativa a economia global e os mercados financeiros mundiais.

Na Europa, o Banco Central Europeu manteve sua política monetária estável, como era amplamente esperado, mas promoveu pequenas alterações em seu comunicado. De maneira geral, a Europa encontra-se em torno de 3 a 4 anos “atrás” do ciclo dos EUA, com um crescimento saudável, uma recuperação do mercado de trabalho, mas com menos pressões inflacionárias, dado a atual situação do hiato do produto.

Na China, observamos alguns sinais de desaceleração da economia. O cenário base continua a ser de uma desaceleração gradual da economia do país. O risco é de que a desaceleração seja mais rápida e acentuada do que o esperado, gerando alguma volatilidade e incerteza de curto-prazo.

Alocação/Estratégia:
Continuamos a ver o cenário local como bastante positivo ciclicamente. Para este cenário cíclico se tornar estrutural, precisamos ver avanços na agenda de reformas e a eleição de um presidente com viés liberal e reformista. Acreditamos que, por ora, o pano de fundo externo ainda é positivo paras as economias emergentes e, consequentemente, para o Brasil. Contudo, já vemos o acúmulo de evidências de que este cenário possa estar mudando e, por isso, vamos buscar ser mais ativos nas alocações táticas (curto-prazo) além de buscar alocações que se beneficiam deste tipo de ambiente, como fundos estruturados (multimercados) e/ou multimercados institucionais.

Juros – Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima da média na classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com alocações na média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta, optamos por estar levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).

Vemos espaço para a compressão dos prêmios na parte intermediária e longa da curva nominal e real de juros, capitaneados por um cenário de recuperação gradual do crescimento, hiato do produto ainda bastante aberto, inflação corrente e perspectiva baixa, e expectativas de inflação ancoradas. Entendemos, contudo, que nesta fase do ciclo os ganhos tendem a ser mais moderados e os riscos mais elevados.

Câmbio – Neste momento, recomendamos alocações neutras em câmbio e uma postura tática em relação à moeda local (Real ou BRL). Contudo, preferimos alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD). Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas (curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).

Trabalhamos com cenário de contas externas saudáveis, com um déficit em conta corrente tranquilo para a maturidade do país. A conta corrente têm sido financiada de maneira ampla e saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, fluxos estes mais estáveis e saudáveis, por visarem retornos de longo-prazo. Além disso, vemos espaço para o aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda variável local, o que favorece também fluxos para carteira de portfólio. Contudo, entendemos que o cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do Real e o cenário eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.

Renda Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja apreciação demanda um cenário externo propício.

O nosso cenário base de recuperação do crescimento e do emprego, inflação baixa, taxas de juros mais baixas por mais tempo e sem riscos relevantes nas contas externas, pressupõe que existe espaço para a alocação em renda variável local. Além disso, em termos técnicos, os investidores institucionais e estrangeiros apresentam um espaço grande para realocação nesta classe de ativo, se compararmos aos níveis  alocados há cerca de 5 a 7 anos atrás. Finalmente, para o investidor estrangeiro, em termos relativos, as bolsas emergentes, e no Brasil em especial, apresentam “valuations” mais atrativos do que as bolsas dos países desenvolvidos, em especial os EUA.

Fundos Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.

Fundos de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe espaço para o investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que apresentam menor “beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste estágio do ciclo econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por não termos uma visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil mais voltado pela busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em mercados específicos, como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas “alpha” nesta classe de ativos. O racional é bastante parecido com o que colocamos acima no tocante aos fundos multimercados.


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