Mercados Globais - PMI na CHina, Inflação na Europa e Política Brasil.

O primeiro trimestre do ano se encerrou com um quadro econômico basicamente em linha com o esperado e com o cenário base que venho descrevendo neste fórum, ou seja, um crescimento global saudável, uma inflação que sobe de maneira gradual no mundo desenvolvido e a continuidade do processo de normalização monetária nas economias mais avançadas, especialmente aquelas em estágio mais avançado do ciclo econômico.

Para os mercados financeiros globais, o trimestre foi mais desafiador, por uma série de motivos, tais como, posição técnica comprometida, preços/valuations menos atrativos e a confirmação de um menor suporte por parte da política monetária em vários países/regiões. Além disso, algumas medidas adotadas pelo Governo dos EUA, em especial no tocante a imposição de tarifas de importações, também não ajudaram o humor dos ativos de risco. Finalmente, a perspectiva de uma inflação mais elevada, especialmente nos EUA, atuou como uma restrição para o bom desempenho dos mercados financeiros globais.

Nas últimas semanas, observamos alguns dados mais fracos de crescimento no mundo. Vejo esses dados como uma acomodação natural do ciclo. Talvez já tenhamos passado pelo pico do crescimento mundial, mas vejo como uma probabilidade baixa uma desaceleração mais acentuada da economia global neste momento.

Ainda vejo uma aceleração da inflação, especialmente nos EUA, como o maior risco ao cenário nos próximos 6 meses. Acredito que o crescimento irá flutuar em torno dos atuais níveis, mas com probabilidade baixa de grandes acelerações e/ou desacelerações. Uma inflação mais elevada, contudo, poderia trazer os mesmos temores, e a mesma reação dos ativos de risco, daquela verificada no início do ano, entre janeiro e meados de fevereiro.

Nesta linha, os dados de emprego nos EUA, na próxima sexta-feira, ganham importância redobrada, especialmente os dados de rendimentos (Average Hourly Earnings ou AHE).

Ainda vejo o ambiente propício para uma postura defensiva, focada em posições relativas, temas específicos de investimentos e uma postura mais tática do que estratégica. Minhas recomendações podem ser recordadas aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com.br/.

As últimas 24 horas trouxeram informações que reforçam este quadro.

Na China, o PMI Manufacturing oficial apresentou relevante alta, acima do esperado, em março, saindo de 50,3 para 51,5. Os dados deste início de ano ainda estão bastante comprometidos pelos efeitos do Ano Novo Lunar. De maneira geral, as médias de janeiro e março mostram uma desaceleração gradual da economia, em linha com o cenário central.

A inflação na Itália e na França ficou acima das expectativas em março, com altas de, respectivamente, 1,1% YoY (vs 0,8% YoY esperado) e 1,5% YoY (vs 1,5% YoY esperado). Os números seguem dados marginalmente mais baixos na Alemanha. A inflação na Europa mostra uma trajetória ascendente, mais ainda de maneira gradual. Não deveria alterar a postura do ECB em relação a política monetária na região.

No Brasil, a mídia está com as atenções voltadas para a última operação da Política Federal, que prendeu pessoas próximas ao atual Presidente Michel Temer. Sem dúvida alguma, uma operação como esta coloca o Presidente em situação acuada e não tem como ser vista como neutra, mas sim negativa. Contudo, com as eleições de outubro a espreita, não há nenhuma expectativa de aprovação de reformas econômicas e ou qualquer debate estrutural para os próximos meses. Assim, a Operação deveria ter maior impacto nas articulações políticas para as eleições do que na economia ou no preço dos ativos brasileiros.

Na quinta-feira a divulgação da safra agrícola por parte da USDA mostrou, pela primeira vez em muito tempo, uma piora nas perspectivas de várias commodities, o que levou a uma forte alta no preço das chamadas “Soft Commodities”, ou commodities agrícolas. Esta classe de ativo veio de vários anos de pressões baixistas de preço, pressionadas por um quadro de demanda fraca e oferta excedente. Este cenário parece estar mudando, tanto no tocante a demanda, com bom crescimento global, quanto, agora, no tocante a oferta, após as notícias recentes. Este vetor pode ser importante para a inflação de vários países/regiões e para a classe de investimentos como um todo.

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