Relatório Semanal de Asset Allocation:
No Brasil, o destaque da semana
passada ficou por conta da decisão do Copom. O Banco Central do Brasil (BCB)
anunciou um corte de 25bps na Taxa Selic para 6,5%, o que era amplamente
esperado. A surpresa da decisão, contudo, ficou por conta do comunicado divulgado
após a reunião, que sinalizou para mais um corte de 25bps na próxima reunião do
Comitê, o que não era esperado pelo mercado.
Continuamos a ver um cenário de
inflação corrente e prospectiva baixa. Vemos um hiato do produto bastante
aberto, o que permitirá ao país crescer de maneira sustentada sem muitas
pressões inflacionárias pelos próximos 12 a 24 meses. Assim, vemos espaço para
a Taxa Selic permanecer mais baixa por mais tempo, agora com uma taxa final de
6,25%. Não vemos a necessidade de alta de juros num horizonte relevante de
tempo.
Ainda no Brasil, as contas externas
voltaram a mostrar um quadro de solidez. A conta corrente de fevereiro
apresentou um déficit apenas moderado, que continua a ser amplamente financiado
pelos investimentos estrangeiros diretos, um fluxo considerado mais saudável
por ser um capital de prazo mais longo. Além disso, a conta financeira, na
rubrica portfólio, mostrou demanda por ativos do país, com um fluxo mais
positivo para títulos de dívida e ações nos últimos meses.
No cenário externo, o destaque da
semana ficou por conta da decisão do Fed nos EUA. Como também era amplamente
esperado, o Fed elevou as taxas de juros no país em 25bps. A comunicação do
novo presidente da instituição foi de continuidade no processo de normalização
monetária do país, com a redução do balanço sendo mantida em “piloto automático”
e as altas de juros cada vez mais dependentes do cenário prospectivo.
No tocante à política externa, o
Governo dos EUA anunciou a imposição de tarifas de importações contra alguns
países e produtos. Geralmente, uma postura mais protecionista traz menos
crescimento e mais inflação. Por ora, os “parceiros comerciais” dos EUA estão
adotando um tom conciliador e uma busca por diálogo, o que deveria conter uma
escalada mais protecionista à frente. Contudo, dado a sensibilidade do tema, é
natural que os ativos de risco mostrem alguma volatilidade com este novo vetor
do cenário global.
Na Europa e no Japão vimos dados
econômicos um pouco mais fracos do que o esperado, em especial os PMIs. Os
níveis continuam condizentes com um crescimento saudável da economia desses
países/regiões, mas a velocidade de desaceleração acendeu uma pequena luz
amarela no mercado. Ainda vemos esta queda como um processo natural de
consolidação. É possível que tenhamos passado pelo pico do crescimento global,
mas não vemos ainda com preocupação um cenário de desaceleração mais acentuada
da economia mundial. Nosso cenário base ainda é de um crescimento relativamente
estável do mundo.
Na China, a consolidação do poder do
Premier permitirá que o país continue na sua trajetória de reformas, mesmo que
para isso tenhamos que conviver com um menor crescimento do país no
curto-prazo. O cenário central ainda é de uma desaceleração (já esperada) do
crescimento a partir de agora. O que irá ditar a direção dos ativos de risco,
especialmente aqueles mais dependentes do país, contudo, será a velocidade
desta desaceleração.
Alocação/Estratégia:
Nas últimas semanas, temos priorizado
a parte longa da curva de juros reais, devido ao estágio do ciclo de política
monetária. Ainda gostamos do mercado local de renda variável, mas estamos
priorizando ações e fundos que buscam “valor” no mercado, ao invés de uma
correlação ou “beta” elevado com o Ibovespa. Seguimos sem recomendações
estruturais para o mercado de câmbio.
Continuamos a ver o cenário local como
bastante positivo ciclicamente. Para este cenário cíclico se tornar estrutural,
precisamos ver avanços na agenda de reformas e a eleição de um presidente com
viés liberal e reformista. Acreditamos que, por ora, o pano de fundo externo
ainda é positivo paras as economias emergentes e, consequentemente, para o
Brasil. Entretanto, já pode-se perceber um acúmulo de evidências potenciais de
que este cenário está mudando e, por isso, vamos buscar ser mais ativos nas
alocações táticas (curto-prazo) além de buscar alocações em fundos estruturados
(multimercados) e/ou multimercados institucionais, que tendem a se beneficiar
neste tipo de ambiente.
Juros – Nos atuais níveis de preço,
preferimos estar com alocação acima da média na classe de Inflação Longa
(NTN-Bs longas). Preferimos estar com alocações na média na parcela de Juros
Prefixados (DI). Na Inflação Curta, optamos por estar levemente abaixo da média
(NTN-Bs curtas).
Vemos espaço para a compressão dos
prêmios na parte intermediária e longa da curva nominal e real de juros,
justificada por um cenário de recuperação gradual do crescimento, hiato do
produto ainda bastante aberto, inflação corrente e perspectiva baixa, e expectativas
de inflação ancoradas. Entendemos, contudo, que nesta fase do ciclo os ganhos
tendem a ser mais moderados e os riscos mais elevados.
Câmbio – Neste momento, recomendamos alocações
neutras em câmbio e uma postura tática em relação à moeda local (BRL). Contudo,
preferimos alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar
(USD). Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Trabalhamos com um cenário de contas
externas saudáveis, com um déficit em conta corrente tranquilo para a
maturidade do país. A conta corrente tem sido financiada de maneira ampla e
saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, que são fluxos mais estáveis e
saudáveis, por visarem retornos de longo-prazo. Além disso, vemos espaço para o
aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda variável local, o
que favorece fluxos para carteira de portfólio. Contudo, entendemos que o
cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do Real e o cenário
eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.
Renda Variável – Ainda vemos espaço para manter
alocações acima da média. Após a apreciação recente, estamos optando por
alocações em Fundos Valor ou carteira de ações, em uma tentativa de “fugir” da
parcela mais cíclica da bolsa, cuja apreciação demanda um cenário externo
propício.
O nosso cenário base de recuperação do
crescimento e do emprego, inflação baixa, taxas de juros mais baixas por mais
tempo e sem riscos relevantes nas contas externas pressupõe que existe espaço
para a alocação em renda variável local. Além disso, em termos técnicos, os
investidores institucionais e estrangeiros apresentam um espaço grande para
realocação nesta classe de ativo, se compararmos aos níveis alocados a cerca de
5 a 7 anos atrás. Finalmente, para o investidor estrangeiro, em termos
relativos, as bolsas emergentes, e no Brasil em especial, apresentam
“valuations” mais atrativos do que as bolsas dos países desenvolvidos, em
especial dos EUA.
Fundos Multimercados – Estamos com alocações acima da média
e aumentando as alocações nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste
caso, é mais importante do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos
que o cenário prospectivo será mais desafiador para alocações estratégicas
(longo-prazo) nas demais classes de ativos e os gestores de fundos
Multimercados Macro costumam apresentar desempenho positivo neste tipo de
ambiente.
Fundos de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe espaço para o
investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que apresentam menor
“beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste estágio do ciclo
econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por não termos uma
visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil mais voltado à
busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em mercados específicos,
como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas “alpha” nesta classe
de ativos. O racional é bastante parecido com àquele dos fundos multimercados.
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