Relatório Semanal de Asset Allocation:
A narrativa do cenário
econômico continua a ser uma de crescimento global robusto, alta moderada da
inflação nas economias desenvolvidas e um processo gradual e bem comunicado de
normalização monetária nesses países/ regiões (EUA, Europa, Canadá, Inglaterra
e China, por exemplo).
No Brasil, continuamos
convictos na visão de um cenário econômico positivo, baseados em sinais cada
vez mais claros de uma recuperação consolidada e espalhada do crescimento,
avanço do mercado de trabalho, inflação baixa, contas externas saudáveis e, até
mesmo, recuperação cíclica das contas públicas.
A semana que passou trouxe
uma surpresa negativa no campo inflacionário, com o IPCA de dezembro
apresentando alta de 0,44% no mês, muito acima das expectativas de 0,30%. A
despeito da surpresa altista, ainda vemos um cenário tranquilo para a inflação
nos próximos meses. O qualitativo do número continua positivo e não há sinais
mais preocupantes de uma aceleração da inflação no país. Continuamos
trabalhando com um cenário em que a Taxa Selic caia para 6,75% (ou abaixo) e
permaneça neste nível por um longo período de tempo (leia-se, até o final deste
ano).
O que nos chamou a atenção
ao longo da semana foram os primeiros sinais mais concretos que o mundo possa
estar passando por um processo de mudança de cenário/pano de fundo, mesmo que
ainda gradual (e longe de maduro).
As mudanças estruturais de
cenário costumam ser lentas, movidas pelo acúmulo de evidências na direção
contrária ao cenário corrente. Dificilmente observamos mudanças drásticas,
rápidas e acentuadas de cenário, na ausência de choques exógenos.
Não acreditamos que estamos
diante de uma mudança clara de ambiente econômico, mas achamos válido chamar a
atenção para algumas alterações marginais nos últimos dias, que somadas a
outras evidências dos últimos meses, começam a trazer algumas novidades ao cenário
base.
O processo de normalização
monetária já está em curso nos EUA há alguns anos. O processo de ajuste
monetário na Europa foi anunciado ano passado e começou de fato este ano, com a
redução do montante do QE. As minutas da última reunião do Banco Central
Europeu (ECB) mostraram um Comitê muito mais confiante no processo de
recuperação da economia e disposto a, eventualmente, acelerar o processo de
ajuste monetário. Nos últimos dias, percebemos uma leve mudança de sinalização
por parte do BoJ no Japão e, semana passada, vimos um “ajuste técnico” no “QE
japonês”.
No final da semana,
observamos dados apontando para um mais robusto crescimento da economia norte
americana e números de inflação mais altos do que esperado, com um Core CPI
surpreendendo as expectativas pela primeira vez em cerca de um ano. Uma
inflação mais elevada parece ser o ingrediente que faltava para dar conforto ao
Fed em prosseguir com o processo de alta de juros (já que o processo de redução
do balanço nos parece, de fato, já em “piloto automático”).
Por ora, todo este processo
de normalização monetária está sendo extremamente gradual, bem conduzido e
muito bem comunicado. O cenário central ainda é de que este processo continue a
ser executado de forma tranquila. Contudo, 2018 poderá ser o primeiro ano em
que os três principais bancos centrais do mundo (sem contar a China), em
conjunto, promovam um ajuste em suas condições monetárias.
Na China, já vemos um Banco
Central (PBoC) muito mais preocupado com a qualidade do crescimento do que com
seu patamar. Além disso, vemos um claro processo de busca pela desalavancagem.
A economia da China costuma funcionar em pequenos ciclos. Geralmente
observarmos dois a três trimestres de crescimento mais forte, seguidos de dois
a três trimestres de desaceleração. Estes ciclos costumam ser induzidos pelo
PBoC e pelo Governo, através de ajustes nas políticas fiscais, monetárias e
creditícias.
O ano de 2017,
especialmente os três primeiros trimestres do ano, foi marcado por um
crescimento muito mais forte do que o esperado. Desde o começo do quarto
trimestre do ano, percebemos um PBoC mais hawkish, promovendo uma política
monetária mais apertada. Isso é visível nas taxas de juros do país e nos
indicadores de crédito e agregados monetários.
Na semana passada, a mídia
reportou um ajuste técnico na maneira em que o PBoC computa o fixing para a
taxa de câmbio do CNY. No limite, segundo os analistas, a medida trará mais
volatilidade à taxa de câmbio e alguma pressão de depreciação ao CNY. A medida
mostra um PBoC mais confortável com o cenário de curto-prazo, corroborando as
demais medidas adotadas nos últimos meses.
Assim, após uma grande
surpresa positiva nos últimos meses, o mercado já espera uma desaceleração do
crescimento chinês. Este processo deverá ser conduzido e induzido pelo PBoC, e
tende a ser gradual. Contudo, não podemos esquecer que erros de política podem
ocorrer, e pelo tamanho da economia chinesa, qualquer desaceleração não costuma
ser ignorada pelo mercado.
Em suma, o cenário base de
crescimento global robusto, inflação controlada no mundo desenvolvido e
normalização monetária gradual nos países desenvolvidos ainda é o cenário base,
e assim deve permanecer no curto-prazo. Contudo, algumas evidências se acumulam
de que em algum momento, e este momento parece cada vez mais próximo pelo
estágio do ciclo econômico, poderemos ter alguma (ou algumas) dessas variáveis
sendo testadas, ou revertidas.
Alocação/Estratégia:
Nas últimas duas semanas, vimos uma
recuperação relevante de preço nos ativos locais, além de alguma deterioração
na posição técnica. Vemos o cenário econômico local como estável em relação às
últimas semanas, e continuamos a classificá-lo como positivo. O cenário externo
se enquadra nesta mesma categoria, porém com as ressalvas apresentadas acima.
Diante do exposto, decidimos por
reduzir, taticamente e apenas de maneira parcimoniosa, a alocação nos ativos
locais (posição tática menor) na semana passada. Seguimos com posições
relevantes visando à recuperação dos ativos do país (posição estratégica segue
mantida), mas achamos prudente promover um pequeno ajuste na magnitude das
posições após o significativo movimento de recuperação recente.
Por ora, mantemos uma visão estratégica
(longo-prazo) positiva com relação aos fundamentos do país e às perspectivas de
apreciação dos ativos locais. Ao longo do ano, diante dos riscos previstos para
2018, no campo local relativo ao quadro político e no âmbito externo no tocante
à normalização monetária nas economias desenvolvidas, devemos adotar uma
postura mais dinâmica no que se refere às alocações táticas (curto-prazo)
do portfólio, mas sem alterar de maneira contundente nossa visão estrutural.
Vamos tentar deixar claro essas diferenças ao longo do tempo.
Abaixo, segue nossa visão, ainda válida,
para cada uma das principais classes de ativos locais:
Gostamos da parte intermediária e longa
da curva de juros local, mas entendemos que a compressão dos prêmios de alta de
juros no ano que vem só se realizará ao longo do tempo, e não de forma
instantânea, conforme o mercado for se convencendo que o cenário de inflação e
crescimento são condizentes com uma taxa de juros mais baixa por mais tempo.
Além disso, acreditamos que mesmo em um eventual ciclo de alta da Taxa Selic,
que certamente ocorrerá em algum momento do tempo, as altas necessárias deverão
ser menores do que as precificadas na curva atual.
Acreditamos que o BRL deverá manter-se
em um range, mesmo que mais largo que o anterior. Se antes víamos a moeda entre
3,10-3,20, agora vemos a moeda entre 3,15-3,35. No nível acima de 3,30, que a
moeda chegou a operar nas últimas semanas de 2017, já víamos uma assimetria
mais favorável à apreciação do Real. As contas externas locais seguem saudáveis
e sem sinais de deterioração, o que corrobora a perspectiva de uma moeda mais
comportada ao longo do tempo. Contudo, o cenário externo será fundamental nas
próximas semanas. Parece que uma janela mais positiva para emissão de ações e
dívida corporativa está aberta, o que sempre ajuda os fluxos para a moeda
local.
A bolsa ainda nos parece ser o ativo com
mais apelo para alocações de curto-prazo, devido aos vetores já citados nas
últimas semanas (recuperação cíclica da economia, juros mais baixos e por mais
tempo, cenário externo favorável para esta classe de ativo e posição técnica
ainda saudável).
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