Relatório Semanal de Asset Allocation:
O ano de 2018 se iniciou
na mesma toada em que 2017 se encerrou. O crescimento global se mostra
robusto e ainda surpreende positivamente, a inflação nas economias
desenvolvidas sobe de maneira gradual e o processo de normalização monetária
nessas regiões continua gradual e bem comunicada.
Passada a janela de final
de ano, os investidores voltaram a colocar os recursos para trabalhar, como
diz o jargão de mercado, com uma forte demanda por ativos de risco nestes
primeiros dias do ano.
Os números do mercado de
trabalho nos EUA de dezembro em nada mudam o pano de fundo econômico global
e, consequentemente, a narrativa para os ativos de risco. Os dados mostraram
uma criação ainda saudável de vagas de trabalho, uma taxa de desemprego
estável, porém baixa, e uma alta gradual nos rendimentos médios reais.
No Brasil, a produção
industrial apresentou leve elevação, com um quadro qualitativo positivo. Os
dados da ANFAVEA confirmaram o bom momento para a indústria automobilística local.
Ambos os indicadores estão em linha com o cenário base de uma recuperação
gradual do crescimento, mas um processo cada vez mais consolidado e
espalhado.
Não há novidades
relevantes nos mercados financeiros globais. A semana foi novamente de alta
nas bolsas globais, alguma abertura de taxas de juros no mundo e um movimento
menos direcional do dólar. Não vemos motivos, pelo menos ainda, para uma
alteração abrupta ou completa das principais tendências que vem sendo regra
ao longo dos últimos meses.
O principal risco
continua nos parecendo o surgimento mais concreto da inflação no mundo
desenvolvido. Os problemas de liquidez na HNA, na China (um dos grandes
conglomerados do país) precisam ser acompanhados de perto. Por ora, parece
mais um problema de liquidez do que de solvência, mas dado o tamanho da
empresa, não pode ser totalmente ignorado.
A rápida e acentuada
apreciação dos ativos de risco nas últimas semanas gera desconforto pela
velocidade e magnitude, mas estão em linha com o pano de fundo econômico. A
posição técnica começa a se deteriorar, mas ainda não parece um impedimento a
novas rodadas de apreciação. A posição técnica e o valuation são vetores que,
eventualmente, podem se tornar uma restrição a apreciações adicionais dos
ativos de risco, mas parece que precisam estar acompanhados de uma mudança de
cenário para inverter de fato as tendências.
Assim, deveremos seguir
com um pouco de “mais do mesmo” nos próximos dias, exceto por realizações
pontuais de lucros. O próximo importante indicador para os mercados serão os
dados de inflação nos EUA.
Os ativos no Brasil estão
seguindo o humor global a risco. O próximo importante evento local será o
julgamento de Lula, em segunda instância no TRF-4, agendado para o dia 24
deste mês. Nossa análise dos fundos locais mostra uma posição técnica já um
pouco mais comprometida. A parte curta da curva de juros, já se mostra menos
atrativa nos atuais níveis de preço. Ainda vemos espaço para novas rodadas de
apreciação dos ativos locais, mas essa situação precisa ser monitorada.
Vale a pena mencionar que
este começo de ano está sendo ajudado por fortes fluxos globais para
emergentes, assim como uma nova rodada de alocações de investidores
institucionais locais no mercado de renda variável do Brasil. Esperamos que
esta seja uma tendência de longo-prazo, mas em certos momentos do tempo, como
agora, fatalmente teremos algumas concentrações de fluxos.
Alocação/Estratégia:
No final de 2017, escrevemos que
víamos os movimentos (de meados de setembro até meados de dezembro) de
realização dos ativos locais como uma oportunidade para elevar cautelosamente
as alocações em ativos do Brasil.
Adicionamos que percebemos uma melhora
na posição técnica do mercado local neste período, além de preços mais
atrativos após os movimentos recentes de realização de lucros. No campo
econômico, víamos números que reforçavam um quadro de recuperação do crescimento
e do mercado de trabalho, inflação baixa, e contas externas saudáveis. Até
mesmo as contas públicas mostraram sinais de recuperação, com uma arrecadação
em alta e um controle saudável dos custos governamentais.
Nas últimas duas semanas, vimos uma recuperação
relevante de preço nos ativos locais, além de alguma deterioração na posição
técnica. Vemos o cenário econômico local como estável em relação às últimas
semanas, e continuamos a classificá-lo como positivo. O cenário externo se
enquadra nesta mesma categoria.
Diante do exposto, decidimos por
reduzir, taticamente e apenas de maneira parcimoniosa, a alocação nos ativos
locais (posição tática menor). Seguimos com posições relevantes visando à
recuperação dos ativos do país (posição estratégica segue mantida), mas
achamos prudente promover um pequeno ajuste na magnitude das posições após a
recuperação recente.
Por ora, mantemos uma visão
estratégica (longo-prazo) positiva com relação aos fundamentos do país e as
perspectivas de apreciação dos ativos locais. Ao longo do ano, diante dos
riscos previstos para 2018, no campo local relativo ao quadro político e no
âmbito externo no tocante à normalização monetária nas economias
desenvolvidas, devemos adotar uma postura mais dinâmica no que se refere às alocações
táticas (curto-prazo) do portfólio, mas sem alterar de maneira contundente
nossa visão estrutural. Vamos tentar deixar claro essas diferenças ao longo
do tempo.
Abaixo, segue nossa visão, ainda
válida, para cada uma das principais classes de ativos locais:
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Gostamos da parte intermediária da
curva de juros local, mas entendemos que a compressão dos prêmios de alta de
juros no ano que vem só se realizará ao longo do tempo, e não de forma
instantânea, conforme o mercado for se convencendo que o cenário de inflação
e crescimento são condizentes com uma taxa de juros mais baixa por mais
tempo. Além disso, acreditamos que mesmo em um eventual ciclo de alta da Taxa
Selic, que certamente ocorrerá em algum momento do tempo, as altas
necessárias deverão ser menores do que aquela precificada na curva atual.
Acreditamos que o BRL deverá manter-se
em um range, mesmo que mais largo que o anterior. Se antes víamos a moeda
entre 3,10-3,20, agora vemos a moeda entre 3,15-3,35. No nível acima de 3,30,
que a moeda chegou a operar nas últimas semanas de 2017, já víamos uma
assimetria mais favorável à apreciação do Real. As contas externas locais
seguem saudáveis e sem sinais de deterioração, o que corrobora a perspectiva
de uma moeda mais comportada ao longo do tempo. Contudo, o cenário externo
será fundamental nas próximas semanas. Parece que uma janela mais positiva
para emissão de ações e dívida corporativa está aberta, o que sempre ajuda os
fluxos para a moeda local.
A bolsa ainda nos parece ser o ativo
com mais apelo para alocações de curto-prazo, devido aos vetores já citados
nas últimas semanas (recuperação cíclica da economia, juros mais baixos e por
mais tempo, cenário externo favorável para esta classe de ativo e posição
técnica ainda saudável).
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