[UPDATED] Brasil em alta, dólar em baixa e desafios de longo-prazo.

Na tarde de ontem, o dólar apresentou um rápido e acentuado rally, após Trump dizer que os comentários a respeito da moeda, feitos pelo Secretário do Tesouro, tinham sido tirados de contexto. Agora pela manhã, a moeda norte americana voltou a operar sobre forte pressão ao redor do mundo.

O movimento de ontem mostra que a posição técnica do dólar pode estar um pouco prejudicada, com muitos investidores já posicionados na mesma direção. Contudo, o cenário aponta para a continuidade desta tendência. Exceto por realizações de lucros pontuais, continuo vendo um dólar mais fraco estruturalmente.

Os números de inflação no Japão apresentaram estabilidade em dezembro, levemente abaixo das expectativas de uma leve aceleração. A despeito do cenário mais positivo para o crescimento, e de um processo bastante gradual de alta na inflação, ainda não se observa um movimento mais acentuado de pressão inflacionária no país.

Os comentários que fiz ontem continuam válidos:

Os ativos do Brasil negociados nos EUA estão mantendo a tendência de forte desempenho até o momento. O EWZ subiu 1%, a PBR 1,3% e ITUB 2,6%, apenas para citar alguns poucos exemplos.

Dada à decisão de ontem, parece haver espaço para os ativos locais continuarem mostrando bom desempenho no curto-prazo. Além do pano de fundo econômico que considero ciclicamente muito positivo para o país, existe uma “enxurrada” de fluxo que poderia migrar para ativos de maior risco, ou seja, renda variável, títulos longos e, consequentemente, favorecer o BRL.

Ao longo desta quinta-feira, a Petrobrás está executando uma emissão de bonds (dívida) no exterior. Segundo a mídia, a demanda pelos papeis já supera os US$10 bilhões, o que confirma o interesse por ativos brasileiros. A Natura também realizou emissão hoje, com boa demanda e taxas relativamente fechadas.

No cenário externo, o grande destaque continua por conta da forte pressão sobre o dólar no mundo, uma tendência que se acentua e parece consolidada. As declarações recentes do Secretário do Tesouro dos EUA apenas deram ímpeto adicional ao movimento.

Na Europa, o ECB manteve o tom de seu descuro de dezembro, após manter a política monetária inalterada, o que era amplamente esperado. O Banco terá um grande desafio nos próximos meses, pois precisará passar por um processo de transição em sua política monetária, face uma economia extremamente robusta. A ausência de declarações mais rígidas em relação à apreciação recente do EUR, por exemplo, podem ter ajudado a dar ainda mais sustentação a moeda ao longo do dia de hoje.

Na Alemanha, o IFO – um dos principais indicadores de confiança de toda a Europa – apresentou alta, superando as expectativas do mercado. Todos os indicadores econômicos da Alemanha apontam para um crescimento robusto, acima das expectativas.

Nos EUA, o Jobless Claims se manteve nos níveis mais baixos desde a década de 70. O número mostra um mercado de trabalho apertado, já no pleno emprego e uma economia que apresenta hiato do produto já fechado.

Diante deste quadro, continuo favorecendo os ativos do Brasil, apenas administrando tamanho e instrumentos. Vejo uma tese ainda positiva para os mercados emergentes nos próximos meses e para o Brasil, em especial. No cenário externo, continuo perseguindo este aumento estrutural das taxas de juros nos países desenvolvidos. Acredito que este movimento continuará sendo seguido por um enfraquecimento global do dólar, que estamos posicionados via compra de JPY e BRL no portfólio de Brasil.

Se o curto-prazo parece apresentar espaço para a manutenção desta dinâmica acima citada, mas sem grandes problemas aparentes, continuo preocupado com os desenvolvimentos a longo-prazo.

As políticas que vem sendo implementadas nos EUA como corte de impostos, estímulo fiscal, plano de infraestrutura, enfraquecimento do dólar, protecionismo, menor regulamentação bancária, em um pano de fundo de crescimento forte, hiato do produto fechado e pleno emprego, são políticas que levarão ao aumento do déficit público, à inflação, ao aumento das taxas longas de juros e a novas rodadas de depreciação da moeda local. No geral, estes movimentos não costumam terminar de maneira saudável.


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