Alguns sinais merecem atenção.

As mudanças estruturais de cenário costumam ser lentas, graduais, movidas pelo acumulo de evidências na direção contrária ao cenário corrente. Dificilmente observamos mudanças drásticas, rápidas e acentuadas de cenário, na ausência de choques exógenos.

Não acho que estamos diante de uma mudança clara de ambiente econômico, mas acho válido chamar a atenção para algumas mudanças marginais nos últimos dias, que somadas a outras evidências dos últimos meses, começam a trazer algumas novidades ao cenário base.

O processo de normalização monetária já está em curso nos EUA há alguns anos. O processo de ajuste monetário na Europa foi anunciado ano passado e começou de fato este ano, com a redução do montante do QE. Nos últimos dias, percebemos uma leve mudança de sinalização por parte do BoJ no Japão e, hoje, vimos este “ajuste técnico” no “QE japonês” comentado pela manhã.

Por ora, todo este processo de normalização monetária está sendo extremamente gradual, bem conduzido e muito bem comunicado. O cenário central ainda é de que este processo continue a ser executado de forma tranquila. Contudo, 2018 poderá ser o primeiro ano em que os 3 principais bancos centrais do mundo (sem contar a China), em conjunto, promovem um ajuste em suas condições monetárias.

Na China, já vemos um PBoC muito mais preocupado com a qualidade do crescimento do que com seu patamar. Além disso, vemos um claro processo de busca pela desalavancagem. A economia da China costuma funcionar em pequenos ciclos. Geralmente observarmos 2 a 3 trimestres de crescimento mais forte, seguidos de 2 a 3 trimestres de desaceleração. Estes ciclos costumam ser induzidos pelo PBoC e pelo Governo, através de ajustes nas políticas fiscais, monetárias e creditícias.

O ano de 2017, especialmente os 3 primeiros trimestres do ano, foi marcado por um crescimento muito mais forte do que o esperado. Desde o começo do quarto trimestre do ano, percebemos um PBoC mais hawkish, promovendo uma política monetária mais apertada. Isso é visível nas taxas de juros do país e nos indicadores de crédito e agregados monetários.

Hoje, a mídia está reportando um ajuste técnico na maneira em que o PBoC computa o fixing para a taxa de câmbio do CNY. No limite, segundo os analistas, a medida trará mais volatilidade a taxa de câmbio e alguma pressão de depreciação do CNY. A medida mostra um PBoC mais confortável com o cenário de curto-prazo, corroborando as demais medidas adotadas nos últimos meses.

Assim, após ser uma grande surpresa positiva nos últimos meses, o mercado já espera uma desaceleração do crescimento chinês. Este processo deverá ser conduzido e induzido pelo PBoC, e tende a ser gradual. Contudo, não podemos esquecer que erros de política podem ocorrer, assim como pelo tamanho da economia chinesa, qualquer desaceleração costuma não ser ignorada pelo mercado.


Em suma, o cenário base de crescimento global robusto, inflação controlada no mundo desenvolvido e normalização monetária gradual nos países desenvolvidos ainda é o cenário base e assim deve permanecer no curto-prazo. Contudo, algumas evidências se acumulam de que em algum momento, e este momento parece cada vez mais próximo pelo estágio do ciclo econômico, poderemos ter alguma (ou algumas) dessas variáveis sendo testadas, ou revertidas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Juros Brasil

Daily News – Brasil: Para o Alto e Avante – Parte II

Daily News – Um Risco de Cauda Positivo?