Relatório Semanal de Asset Allocation

A narrativa do cenário econômico continua a ser uma de crescimento global robusto, alta moderada da inflação nas economias desenvolvidas e um processo gradual e bem comunicado de normalização monetária nesses países e regiões (tais como EUA, Europa, Canadá, Inglaterra e China, por exemplo).
No Brasil, continuamos convictos em um cenário econômico positivo, baseados em sinais cada vez mais claros de uma recuperação consolidada e espalhada do crescimento, avanço do mercado de trabalho, inflação baixa, contas externas saudáveis e, até mesmo, recuperação cíclica das contas públicas.
O noticiário no Brasil continua sem novidades relevantes. O próximo grande evento para os mercados locais será o julgamento de Lula em segunda instância, no TRF-4, agendado para quarta-feira.
Nossa análise quantitativa e qualitativa mostra que os fundos locais não estão com posições excessivas alocados em ativos brasileiros. A visão predominante ainda é bastante positiva, mas a maior parte dos fundos ajustou suas posições nos últimos dias.
O cenário externo, contudo, começa a ficar um pouco mais interessante. A semana terá como destaque a decisão de política monetária em importantes países e regiões do mundo, como na Europa e no Japão.
Nos EUA, no final da tarde de sexta-feira, um membro do Fed (responsável por regulamentação bancária) concedeu declarações de que o Banco Central e o Governo estariam na fase final dos estudos para aliviar parte das limitações/restrições de alavancagem implementadas após a crise de 2008. Seria mais uma medida na direção de aliviar restrições bancárias, e mais um vetor na direção de estimular o crescimento do país.
Na nossa visão, estes eventos são extremamente relevantes, pois ocorrem ao mesmo tempo em que o crescimento já se mostra sólido, o mercado de trabalho robusto, um hiato do produto fechado e a economia no pleno emprego.
Os mercados financeiros globais estão lendo esse pano de fundo e essas medidas como bastante positivas. São medidas que deverão sustentar o crescimento no curto-prazo, o que costuma ser mesmo muito positivo para os ativos de risco em geral.
Contudo, acumulam-se evidências que muitas dessas medidas estão sendo implementadas no pior momento possível para a economia. São ações que deveriam ter sido colocadas em prática logo após a crise, e não 10 anos depois, no atual estágio (já maduro) do ciclo econômico. Estamos falando de Reforma Tributária, Plano de Infraestrutura, menos limites aos bancos, em meio a uma economia no pleno emprego e com o hiato do produto fechado. Se a teoria econômica ainda é válida, em algum momento, e esse momento parece cada vez mais próximo, estamos correndo o risco de observar uma aceleração da inflação em velocidade e magnitude que hoje não é ainda esperada pelo mercado.
Reforçamos que não queremos fazer aqui apologia a um cenário mais negativo, pois as mudanças de cenário costumam ser graduais, com o acumulo de evidências contrárias ao cenário base. Por ora, a estratégia ótima é tentar “surfar” ainda o bom momento econômico global. Todavia, a prudência recomenda a busca de hedges, além da alocação em ativos líquidos e instrumentos que defendam o portfólio na eventualidade da mudança de cenário base realmente se concretizar.
Alocação/Estratégia:
Nas últimas duas semanas, vimos uma recuperação relevante de preço nos ativos locais, além de alguma deterioração na posição técnica. Vemos o cenário econômico local como estável em relação às últimas semanas, e continuamos a classificá-lo como positivo. O cenário externo se enquadra nesta mesma categoria, porém com as ressalvas apresentadas acima.

Diante do exposto, decidimos por reduzir taticamente, e apenas de maneira parcimoniosa, a alocação nos ativos locais na segunda semana do ano (posição tática). Seguimos com posições relevantes visando à recuperação dos ativos do país (posição estratégica), mas achamos prudente promover um pequeno ajuste na magnitude das posições após o movimento recente.

Por ora, mantemos uma visão estratégica (longo-prazo) positiva com relação aos fundamentos do país e às perspectivas de apreciação dos ativos locais. Ao longo do ano, devemos adotar uma postura mais dinâmica no que se refere às alocações táticas (curto-prazo) do portfólio, mas sem alterar de maneira contundente nossa visão estrutural. Isso, considerando o quadro político no cenário local e a normalização monetária nas economias desenvolvidas no âmbito externo. Vamos tentar deixar claro essas diferenças ao longo do tempo.

Abaixo, segue nossa visão, ainda válida, para cada uma das principais classes de ativos locais:

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Gostamos da parte intermediária e longa da curva de juros local, mas entendemos que a compressão dos prêmios de alta de juros no ano que vem só se realizará ao longo do tempo, e não de forma instantânea, conforme o mercado for se convencendo que o cenário de inflação e crescimento são condizentes com uma taxa de juros mais baixa por mais tempo. Além disso, acreditamos que mesmo em um eventual ciclo de alta da Taxa Selic, que certamente ocorrerá em algum momento do tempo, as altas necessárias deverão ser menores do que aquela precificada na curva atual.

Acreditamos que o BRL deverá manter-se em um range, mesmo que mais largo que o anterior. Se antes víamos a moeda entre 3,10-3,20, agora vemos a moeda entre 3,15-3,35. No nível acima de 3,30, que a moeda chegou a operar nas últimas semanas de 2017, já víamos uma assimetria mais favorável à apreciação do Real. As contas externas locais seguem saudáveis e sem sinais de deterioração, o que corrobora a perspectiva de uma moeda mais comportada ao longo do tempo. Contudo, o cenário externo será fundamental nas próximas semanas. Parece que uma janela mais positiva para emissão de ações e dívida corporativa está aberta, o que sempre ajuda os fluxos para a moeda local.

A bolsa ainda nos parece ser o ativo com mais apelo para alocações de curto-prazo, devido aos vetores já citados nas últimas semanas (recuperação cíclica da economia, juros mais baixos e por mais tempo, cenário externo favorável para esta classe de ativo e posição técnica ainda saudável).

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