EUA: Risk of overheating...

O noticiário no Brasil continua sem novidades relevantes. Mantenho a visão de que o próximo grande evento para os mercados locais será o julgamento de Lula em segunda instância, no TRF-4, agendado para a semana que se inicia amanhã.

Nossa análise quantitativa e qualitativa mostra que os fundos locais não estão com posições excessivas alocados em ativos locais. A visão predominante ainda é bastante positiva, mas a maior parte dos fundos ajustou suas posições nos últimos dias. Em suma, a posição técnica em ativos do Brasil não me parece ruim. Contudo, mantenho a visão de que nos atuais níveis de preço não vejo tanto assimetria para o evento citado anteriormente, exceto nos casos extremos, cujas probabilidades são mais baixas (leia-se Lula inocentado ou Lula condenado por 3x0 com a mesma condenação proferida em primeira instância).

O cenário externo, contudo, começa a ficar um pouco mais interessante. A semana terá como destaque a decisão de política monetária em importantes países e regiões do mundo, como na Europa e no Japão.

Nos EUA, o Congresso não chegou a um acordo o “shutdown” teve inicio oficialmente nesta madrugada. Ainda existe a possibilidade de um acordo neste domingo. A visão central do mercado é que este evento poderá reduzir o PIB entre 0,2% e 0,3%, mas com impacto limitado e pontual. Do ponto de vista político, um acordo poderá seguir o caminho de novas concessões e, consequentemente, mais medidas na direção do aumento do déficit fiscal do país.

No final da tarde de sexta-feira, um membro do Fed responsável por regulamentação bancária concedeu declarações de que o Fed e o Governo estariam na fase final dos estudos para aliviar parte das limitações implementadas após a crise de 2008. Seria mais uma medida na direção de aliviar restrições bancárias, se caracterizando mais um vetor na direção de estimular o crescimento do país.

Na minha visão, estes eventos são extremamente relevantes, pois ocorrem ao mesmo tempo em que o crescimento já se mostra sólido, o mercado de trabalho robusto e, com uma convicção cada vez maior, um hiato do produto fechado e a economia no pleno emprego. Os mercados financeiros globais estão lendo esse pano de fundo e essas medidas como bastante positivas, o que de todo não está errado. São medidas que deverão sustentar o crescimento no curto-prazo, o que costuma ser muito positivo para os ativos de risco em geral.

Contudo, acumulam-se evidências que muitas dessas medidas estão sendo implementadas no pior momento possível para a economia. São medidas que deveria ter sido colocadas em prático logo após a crise, e não 10 anos depois, no atual estágio, já maduro, do ciclo econômico. Estamos falando de Reforma Tributária, Plano de Infraestrutura, menos limites aos bancos, em meio a uma economia no pleno emprego e com o hiato do produto fechado. Se a teoria econômica ainda é válida, em algum momento, e esse momento parece cada vez mais próximo, estamos correndo o risco de observar uma aceleração da inflação em velocidade e magnitude que, hoje, não é esperada pelo mercado.


Reforço que não estou aqui fazendo apologia a um cenário mais negativo, pois as mudanças de cenário costumam ser graduais, com o acumulo de evidências contrárias ao cenário base. Por ora, a estratégia ótima e tentar “surfar” ainda o bom momento econômico global. Todavia, a prudência recomenda a busca de hedges, além da alocação em ativos líquidos e instrumentos que defendam o portfólio na eventualidade da mudança de cenário base realmente se concretizar.

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