Relatório Mensal de Asset Allocation:
Cenário Econômico:
Os
ativos de risco encerraram o ano com a manutenção das principais tendências que
prevaleceram durante grande parte de 2017. As bolsas globais fecharam próximas
aos picos deste ciclo econômico (algumas nos picos históricos); o dólar sem
tendência global definida, mas com alguns movimentos relevantes, como no caso
do EUR que encerra 2017 acima de 1,20; e um bom desempenho das commodities, com
o petróleo WTI superando a barreira de US$60 no último dia do ano. Prevaleceu
um claro e agressivo movimento de flattening da curva de juros nos EUA. Os
ativos brasileiros tiveram um bom desempenho nos dias finais de 2017.
Algumas
questões, contudo, saltam aos olhos. Mesmo depois de toda a melhora verificada
na economia do Brasil, a NTN-B 2050, por exemplo, fechou apenas 25bps no ano, e
ainda se encontra próximo a 5,5% de taxa de juros reais. O dólar fechou o ano
acima de 3,30 e a bolsa do país, em dólar, ainda se encontra muito abaixo dos
níveis de 2014.
Nós
entendemos perfeitamente os riscos políticos para 2018 e os riscos fiscais da
ausência de reformas estruturais na economia. Contudo, acreditamos que o
mercado ainda não tenha precificado de maneira correta todas as reformas já
efetuadas nos últimos 18 meses no país, além de toda a melhora geral do
cenário. Como exemplo, podemos citar:
Crescimento
– expectativa de alta de 1% do PIB em 2017 e cerca de 3% em 2018. Encerraremos
2018 com a economia podendo estar crescendo cerca de 4% na ponta.
Emprego - Geralmente um indicador que
demora a mostrar recuperação, já mostra recuo na taxa de desemprego e melhora
expressiva nos rendimentos médios reais, o que ajudará a impulsionar o consumo
e a recuperação do crescimento.
Contas Externas – O déficit em conta
corrente está em torno de 0,5% do PIB e deverá se estabilizar em 1% do PIB,
patamar considerado baixo para uma economia como a do Brasil. Além disso, a
qualidade do financiamento deste déficit é bastante positiva, com elevados
investimentos estrangeiros diretos, um capital muito mais estável e pouco
especulativo.
Controle da inflação, credibilidade do
Banco Central – O IPCA vai encerrar o ano em torno de 2,8% e as expectativas
são de um IPCA abaixo de 4% em 2018, ambos abaixo da meta de inflação. Isso tem
permitido que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas e a Taxa Selic
caia abaixo de 7%, muito provavelmente permanecendo neste patamar por um longo
período de tempo.
Profissionalização das empresas estatais
– Melhora expressiva na gestão de empresas como Petrobrás, Eletrobrás, Banco do
Brasil e outros.
Reformas estruturais – A Reforma
Trabalhista será um grande impulso ao crescimento, a TLP ajudará a equalizar o
financiamento para todos os perfis de empresas, e assim por diante.
Esperamos
um ano de 2018 mais volátil e assim sendo, os portfólios precisam estar
preparados, seja via posições mais balanceadas, seja com a utilização de
hedges, ou com o uso de instrumentos que mitiguem as perdas em cenários
extremos. Contudo, mantemos a visão de que os mercados locais só conseguem
precificar “riscos negativos”, e não dando o devido peso a “riscos positivos”,
como uma eventual corrida eleitoral sem a presença de um nome forte da
esquerda, ou mesmo com um os partidos de centro unidos em torno de um candidato
reformista. Exceto pelo ambiente político, temos bastante convicção de que o
cenário econômico do Brasil está na direção correta e uma guinada negativa nos
próximos 12 a 18 meses parece bem menos provável.
Para
2018, esperamos a manutenção do cenário econômico global, pelo menos no início
do ano, o que corrobora a manutenção da atual dinâmica dos ativos de risco.
Após esse período, será importante observarmos a evolução dos eventos vis-à-vis
os riscos do cenário.
Ainda
vemos um crescimento global saudável, ainda que o pico da atividade já possa
ter ficado para trás e, especialmente nas economias maduras, é possível que
observemos alguma consolidação. Alguma desaceleração do crescimento chinês
deverá acontecer, porém de maneira gradual e bem administrada. As economias
emergentes deverão apresentar alguma dispersão, mas como um grupo, devem
apresentar alguma aceleração adicional do crescimento. A inflação global deverá
manter trajetória ascendente, mas pouco acentuada. Um movimento mais brusco na
direção de alta poderá ser uma grande surpresa ao cenário e aos mercados. Finalmente,
o processo de normalização monetária deverá continuar nas principais economias
do mundo e seu impacto deverá ser sentindo ao longo do tempo.
Como
principal risco ao cenário base, vemos uma inflação mais alta e acentuada,
levando a um processo mais coordenado e acelerado de normalização monetária.
Vemos como baixo o risco de uma desaceleração maior do crescimento, exceto por
um choque exógeno e inesperado. A China mostrou evoluções importantes nos
fundamentos e reformas nos últimos meses, mas dado o tamanho de sua economia,
qualquer desaceleração maior do que o esperado poderá trazer incerteza ao
cenário. Este risco me parece moderado.
Alocação/Estratégia:
Nas últimas semanas, escrevemos que
víamos os movimentos recentes de realização dos ativos locais como uma
oportunidade para elevar cautelosamente as alocações em ativos do Brasil.
Gostaríamos de adicionar que percebemos uma melhora na posição
técnica do mercado local, além de preços mais atrativos após os movimentos
recentes de realização de lucros. No campo econômico, vemos números que
reforçam um quadro de recuperação do crescimento e do mercado de trabalho,
inflação baixa, e contas externas saudáveis.
Gostamos da parte intermediária da curva de juros local, mas
entendemos que a compressão dos prêmios de alta de juros no ano que vem só se
realizará ao longo do tempo, e não de forma instantânea, conforme o mercado for
se convencendo que o cenário de inflação e crescimento são condizentes com uma
taxa de juros mais baixa por mais tempo. Além disso, acreditamos que mesmo em
um eventual ciclo de alta da Taxa Selic, que certamente ocorrerá em algum
momento do tempo, as altas necessárias deverão ser menores do que aquela
precificada na curva atual.
Acreditamos que o BRL deverá manter-se em um range, mesmo que
mais largo que o anterior. Se antes víamos a moeda entre 3,10-3,20, agora vemos
a moeda entre 3,15-3,35. No nível acima de 3,30, que a moeda chegou a operar
nas últimas semanas, já vemos uma assimetria mais favorável à apreciação do
Real. As contas externas locais seguem saudáveis e sem sinais de deterioração,
o que corrobora a perspectiva de uma moeda mais comportada ao longo do tempo.
Contudo o cenário externo será fundamental nas próximas semanas. Parece que uma
janela mais positiva para emissão de ações e dívida corporativa está aberta, o
que sempre ajuda os fluxos para a moeda local.
A bolsa ainda nos parece ser o ativo com mais apelo para
alocações de curto-prazo, devido aos vetores já citados nas últimas semanas
(recuperação cíclica da economia, juros mais baixos e por mais tempo, cenário
externo favorável para esta classe de ativo e posição técnica ainda saudável).
Para fundos de alocação, ainda achamos que faz sentido manter
posições acima da média em Renda Variável. Na parcela de renda fixa, gostamos
de um misto de IRFM-1+ (em torno de 4 anos de duration) com um pouco de
inflação curta (IMA-B5), pelo carrego de curto-prazo, e um pouco de inflação longa
(IMA-B5+), pelas taxas longas ainda elevadas. Será cada vez mais importante uma
mudança de fundos de renda fixa para multimercados, em busca de um “alpha” mais
ativo em um período de CDI mais baixo. A escolha dos gestores em renda variável
também será fundamental em um ambiente em que existe discrepância enorme entre
o preço e o valuation das ações locais.
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