Novos sinais negativos de crescimento.


Os ativos de risco tiveram ontem um dia de pressão negativa, movimento que se estende essa manhã após uma noite ruim na Ásia, liderada pela forte queda das bolsas da China. O movimento negativo ontem teve início após a divulgação da decisão de política monetária e de medidas de suporte aos bancos europeus anunciadas pelo ECB na Europa. Comentei a decisão do ECB logo após a reunião, aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2019/03/europa-insanidade.html.

De maneira resumida, o mercado não reagiu bem as medidas anunciadas, sejam por serem insuficientes diante das expectativas, sejam por serem “um pouco de mais do mesmo”, ou seja, medidas que até hoje foram insuficientes para levar a economia da Europa para um patamar de recuperação econômica mais robusta e sustentável. Vale ressaltar que o destaque negativo de ontem ficou por conta da acentuada queda das ações dos bancos europeus, mostrando a visão do mercado de insuficiência das medidas.

Nesta noite, as exportações de fevereiro na China apresentaram forte queda de cerca de 21% em relação ao mesmo período do ano passado, muito acima das expectativas de queda de 4% do consenso da Bloomberg. É natural que o Ano Novo Lunar tenha afetado o indicador de alguma forma, mas a magnitude e velocidade da queda mostram que há efeitos muito além da sazonalidade e de questões pontuais.

As recentes medidas de suporte à economia anunciadas pelo governo chinês precisam ser analisadas a luz destes números, ou seja, parecem ser uma reação atrasada e de certa forma uma reação de “desespero” em tentar estabilizar uma economia que mostra extrema fragilidade e ainda poucos sinais de estabilização. Continuo vendo a China como um grande risco ao cenário econômico global.

Ainda na linha de dados econômicos, o Factory Orders de janeiro na Alemanha caíram 2,6% no mês, contra expectativas de alta de 0,5%. A queda em relação ao mesmo período do ano passado ficou em 3,9%. Entendo que parte desta queda seja explicada pelos efeitos secundários do que ocorre na China, além de questões pontuais envolvendo setores específicos, como o setor automotivo. Contudo, a desaceleração já dura tempo suficiente e é de magnitude grande o bastante para acreditar que existem explicações adicionais que merecem atenção e a manutenção de uma postura defensiva e cautelosa. A Europa é hoje o principal risco para a economia global.

Em Taiwan, uma economia aberta e com corrente do comércio elevada, que costuma ser um termômetro natural para o crescimento global, as exportações de fevereiro caíram 8,8% YoY contra expectativas de queda de 0,7% YoY. O mesmo comentário em relação a China é válido aqui.

Para encerrar o cenário externo com chave de ouro, segundo o WSJ ainda não há uma data para uma reunião formal entre EUA e China para o fechamento de um acordo comercial:

The U.S. and China haven't set a date for a summit to resolve their trade dispute, the U.S. ambassador to China said, as neither side feels an agreement is imminent.
Terry Branstad said negotiators need to further narrow the gap in their positions, including over enforcement, before arrangements are made for a meeting between President Trump and Chinese leader Xi Jinping.
No Brasil, Bolsonaro foi ontem as mídias sociais defender a Reforma da Previdência pela primeira vez. Usou seu famoso Tweeter, além de defender a Reforma em uma “live” no Facebook. A defesa é um passo importante e positivo no processo de negociação junto ao Congresso, porém um passo ainda excessivamente tímido nesta direção.

Segundo o Valor, a economia de R$1tri em 10 anos é um piso para as negociações em torno da Reforma (https://www.valor.com.br/politica/6150419/meta-de-r-1-tri-e-inegociavel-diz-secretario).

De maneira geral, continuo vendo um cenário externo estruturalmente mais desafiador e a pressão recente nos ativos de risco me parece apenas a realidade se impondo aos preços após um período de estabilização do humor. Sigo recomendando um portfólio mais defensivo no âmbito externo. Para contrabalancear este portfólio, ainda gosto de posições (positivas) em Brasil. Acho interessante aproveitar a realização de lucros recentes para adicionar alguma posição em Brasil via câmbio. Mantenho algumas proteções para “riscos de cauda” no Brasil e diversas posições com viés mais negativo no cenário externo.


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