Relatório Semanal de Asset Allocation:
Cenário Externo - O destaque da semana ficou por conta de
um movimento de queda dos preços de títulos e ações nos EUA e parte da Europa,
com elevação das volatilidades implícitas dos ativos de risco. Acreditamos que
haja espaço para a continuidade deste tipo de movimento no curto-prazo. Os
argumentos para que estes movimentos continuem no curto-prazo, são: nível de
preços/valuations, posição técnica e estágio do ciclo econômico. O início do
processo de redução do balanço do Fed também pode estar começando a afetar a
dinâmica de alguns mercados externos.
Contudo, isso não necessariamente vai se
configurar em ruptura ou contágio dos demais ativos de risco e/ou do cenário
econômico global. Algumas classes de ativos, como os emergentes, já passaram
por reprecificação relevante nas últimas semanas, o que acaba trazendo algum
“buffer” (ou defesa) a esta classe de ativos. Conseguimos enxergar a
continuidade deste movimento sem rupturas, contágios ou sell-offs mais
agressivos, contanto que eles se deem de forma gradual e ordenada. Caso os
movimentos se acentuem de maneira mais rápida, será inevitável o contágio para
outras classes de ativos. Para ocorrer uma mudança definitiva de tendência,
será necessária uma alta mais consistente da inflação no mundo desenvolvido e
nos EUA, em especial.
O cenário econômico global continua a
ser de crescimento robusto, inflação contida e normalização monetária gradual
por parte dos principais bancos centrais no mundo desenvolvido.
A semana terá uma agenda importante, com
divulgação de dados de inflação nos EUA e dados de atividade econômica na
China. Estes dois vetores são capazes de alterar de forma definitiva o cenário
econômico global. Por ora, são apenas riscos ao cenário base, cujas
probabilidades de ocorrência são baixas, mas cujo impacto sobre os mercados
pode ser excessivamente negativo.
Brasil - No Brasil, o Governo está em busca de
uma nova rodada de agenda positiva, lançando um plano de investimentos e
buscando alinhamento com o Congresso para a Reforma da Previdência. O tom neste
sentido melhorou na última semana, mas ainda é cedo para concluir o que sairá
deste debate. A grande verdade é que surgiu a possibilidade de um “risco
positivo” no cenário, o que não havia antes.
Enquanto isso, não há mudanças substanciais do cenário
econômico local. Ainda estamos no meio de uma recuperação cíclica do
crescimento. A inflação continua baixa. Tudo indica que o piso da inflação já
foi feito, mas as perspectivas de médio-prazo (6 a 18 meses) continuam bastante
favoráveis. O mercado de trabalho mostra recuperação gradual, o que ajuda o
consumo interno. As contas externas seguem saudáveis. O problema fiscal ainda
preocupa no longo-prazo e é por isso que uma Reforma da Previdência ainda é essencial.
O IPCA ficou abaixo das expectativas do mercado em outubro, com
alta de 0,42% m/m e 2,70% no acumulado em 12 meses. O número reforça um cenário
de inflação corrente baixa e perspectivas de inflação ainda contidas e abaixo
da meta. O número reforça uma Taxa Selic que chegue pelo menos nos 7%,
permanecendo neste patamar por um horizonte relevante de tempo.
Em relação à deterioração recente dos ativos locais, realmente
temos poucas explicações claras, óbvias ou concretas para os movimentos
recentes, e para a perda de correlação em relação a seus pares. O movimento de
deterioração ainda nos parece técnico, liderado por motivos de ajuste de
posições, preços e sazonalidade. Contudo, a dinâmica continua terrível e de
difícil previsibilidade.
Alocação/Estratégia:
Vemos os movimentos recentes como
oportunidade para elevar cautelosamente as alocações em ativos locais.
Gostamos
da parte intermediária da curva de juros local, mas entendemos que a compressão
dos prêmios de alta de juros no ano que vem só se realizará ao longo do tempo,
e não de forma instantânea. A política monetária local tem tudo para se tornar
um driver menos importante para os mercados nos próximos meses, dado
o nosso cenário de juros mais baixos por mais tempo. Acreditamos que o BRL
deverá manter-se em um range, mesmo que mais largo que o anterior. Contudo, o
cenário externo será fundamental nas próximas semanas. A bolsa ainda nos parece
ser o ativo com mais apelo para alocações devido aos vetores já citados
anteriormente (recuperação cíclica da economia, juros mais baixos, cenário
externo favorável para esta classe de ativo e posição técnica ainda saudável).
Para
fundos de alocação, ainda achamos que faz sentido manter posições acima da
média em renda variável. Na parcela de renda fixa, gostamos de um mix de
IRFM-1+ (em torno de 4 anos de duration) com um pouco de inflação curta
(IMA-B5), principalmente pelo carrego de curto-prazo, e um pouco de inflação
longa (IMA-B5+), pelas taxas longas ainda elevadas. Será cada vez mais
importante uma mudança de fundos de renda fixa para multimercados, em busca de
um alpha mais ativo em um período de CDI mais baixo. A escolha dos gestores em
renda variável também será fundamental num ambiente em que existe discrepância
enorme entre o preço e o valuation das ações locais.
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