Relatório Semanal de Asset Allocation:

Cenário Externo - A semana foi marcada pela divulgação dos dados de emprego de outubro nos EUA. Os números mostraram uma criação robusta de vagas de trabalho, uma taxa de desemprego em queda e um crescimento ainda contido dos rendimentos dos trabalhadores. Os números ainda podem estar sofrendo os efeitos das tragédias naturais que afetaram o país ao longo do mês.

De maneira geral, nossa leitura continua a ser de um mercado de trabalho sólido, já ultrapassando o pleno emprego. Contudo, a velocidade ainda gradual de aceleração dos rendimentos traz poucas pressões inflacionarias de curto-prazo, o que sugere que o processo de normalização monetária no país será gradual.

Dito tudo isso, vemos um cenário ainda construtivo para a economia mundial neste final de ano. Os riscos existem e devem ser monitorados, como uma eventual aceleração mais rápida da inflação. Todavia, por ora, este problema ainda não se materializou.

Mercados - Então, como explicar a terrível dinâmica dos ativos emergentes nas últimas semanas? Acreditamos que a dinâmica dos ativos emergentes seja explicada pela posição técnica do mercado, pelo nível de preços/valuations e pela sazonalidade deste período do ano, em que muitos investidores precisam proteger os ganhos do ano já visando o encerramento do ano fiscal.

O mercado havia ficado excessivamente otimista com o cenário global ao longo dos últimos meses, as posições foram se acumulando, em um momento de final de ano onde tipicamente os resultados acumulados acabam sendo defendidos. Aliado a isso tudo, cresceu o receio em torno da necessidade de uma política monetária mais apertada no mundo desenvolvido, o que acabou funcionando como um gatilho para a correção dos ativos emergentes. Alguns problemas pontuais (e localizados) em alguns países emergentes também não ajudaram o humor do mercado.

Acreditamos que a última rodada de deterioração seja totalmente explicada pela posição técnica do mercado e que portanto, foi criado valor em várias classes de ativos. Continuamos a ter como cenário base um cenário de crescimento global robusto, inflação contida no mundo e normalização monetária gradual nas economias desenvolvidas, o que provê um pano de fundo favorável para as economias emergentes. Vale lembrar que os fundamentos desses países, como o Brasil, continuam positivos, com crescimento ciclicamente mais forte, inflação baixa, juros baixos e contas externas mais robustas.

Brasil - Na ausência de novidades relevantes no cenário, a mídia continua tentando antecipar o cenário para as eleições presidenciais de 2018. O PT circula a notícia de que Lula poderá ser candidato a presidente e, eventualmente, concorrer pelo menos no primeiro turno das eleições presidenciais. Sua candidatura estaria embasada na possibilidade de recursos jurídicos caso o ex-presidente seja realmente condenado em segunda instância na justiça.

Na esfera pública, o Ministro do STF, e Presidente do TSE no ano que vem, Luis Fux, declarou que acha contraproducente candidatos a cargos públicos que sejam denunciados na justiça concorrerem nas eleições, jogando um certo “banho de água fria” na tese do PT.

Os partidos de oposição continuam evitando qualquer prognóstico, e evitando nomear candidatos neste estágio do ciclo eleitoral.

As colocações de Henrique Meirelles afirmando ele próprio ser “presidenciável” foram mal vistas no meio político. Além disso, o nome do Ministro da Fazenda começou a circular, em uma série de notícias requentadas, em relação a seu envolvimento com o Grupo JBS. Este panorama ajudou a abalar, ainda que momentaneamente, a imagem do Ministro, em um momento de humor de mercado já fragilizado. Consideramos esses eventos como ruídos de curto-prazo. Achamos natural Meirelles ser presidenciável. Em relação a seu envolvimento com a JBS, os fatos são de conhecimento público há tempos e conta a favor do Ministro um embasamento contratual que deveria dar alguma blindagem em relação à sua situação.

A conjuntura política do país segue fluída. O Planalto está tendo que lidar com alguns obstáculos de curto-prazo, como as declarações do Ministro da Justiça em relação à situação de segurança pública do Rio de Janeiro, além da situação controversa em que se colocou a Ministra da Ação Social. Essas questões deveriam ser vistas como corriqueiras, em qualquer Governo (ou mesmo no setor privado), e devem ser superadas.

É inegável, contudo, que o Governo se mostra mais fragilizado e precisa aglutinar, novamente, sua base aliada em prol de uma nova rodada de implementação de uma agenda positiva de reformas. O Presidente Temer deverá buscar fazer exatamente isso nos próximos dias.

Enquanto isso, não há mudanças substanciais do cenário econômico local. Ainda estamos no meio de uma recuperação cíclica do crescimento. A inflação continua baixa. Tudo indica que o piso da inflação já foi feito, mas as perspectivas de médio-prazo (6 a 18 meses) continuam bastante favoráveis. O mercado de trabalho mostra recuperação gradual, o que ajuda o consumo interno. As contas externas seguem saudáveis. O problema fiscal ainda preocupa no longo-prazo e é por isso que uma Reforma da Previdência ainda é de fundamental importância.

Alocação/Estratégia:

Vemos os movimentos recentes como oportunidade para elevar cautelosamente as alocações em ativos locais.

Gostamos da parte intermediária da curva de juros local, mas entendemos que a compressão dos prêmios de alta de juros no ano que vem só se realizará ao longo do tempo, e não de forma instantânea. A política monetária local tem tudo para se tornar um driver menos importante para os mercados nos próximos meses, dado o nosso cenário de juros mais baixos por mais tempo. Acreditamos que o BRL deverá manter-se em um range, mesmo que mais largo que o anterior. Contudo, a evolução do cenário externo será fundamental nas próximas semanas. A bolsa ainda nos parece ser o ativo com mais apelo para alocações devido aos vetores já citados no anteriormente (recuperação cíclica da economia, juros mais baixos, cenário externo favorável e posição técnica ainda saudável).

No que tange os fundos de alocação, ainda achamos que faz sentido manter posições acima da média em Renda Variável. Na parcela de renda fixa, gostamos de um mix de IRFM-1+ (em torno de 4 anos de duration) com um pouco de inflação curta (IMA-B5), pelo carrego de curto-prazo, e um pouco de inflação longa (IMA-B5+), pelas taxas longas ainda elevadas. Será cada vez mais importante uma mudança de fundos de renda fixa para multimercados, em busca de um “alpha” mais ativo em um período de CDI mais baixo. A escolha dos gestores em renda variável também será fundamental em um ambiente em que existe discrepância enorme entre o preço e o valuation das ações locais.

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