Brasil

Os ativos de risco estão digerindo a possibilidade de uma alta de juros nos EUA, ainda no meio deste ano, de maneira mais suave e relaxada, mas sem perder de vista os fundamentos de longo-prazo da economia global.  A curva curta de juros norte americana já precifica cerca de 70% de probabilidade de uma alta no Fed Fund em junho, com um movimento acentuado de abertura de taxas desde a sexta-feira passada. Este movimento acabou ajudando a colocar um suporte adicional no USD ao redor do mundo, mas foi incapaz de afetar o humor global em torno do mercado de renda variável, especialmente nos países desenvolvidos. Por outro lado, com um cenário de crescimento fragilizado na China e, mesmo com a intensificação dos rumores em torno de novas medidas de suporte ao crescimento no país, as commodities seguem dando sinais de fraqueza. A despeito da abertura de taxas dos papéis nos EUA, aliquidez abundante do mundo está ancorando as taxas nos demais países desenvolvidos mas, em especial, na Europa. Os países emergentes, por sua vez, estão sendo atingidos por inúmeros choques ao mesmo tempo, tais como: queda no preço das commodities, menor crescimento da China, abertura de taxa de juros nos EUA, fortalecimento do USD e, principalmente, em muitos casos, fundamentos locais frágeis. Este pano de fundo está empurrando os ativos desses países a um ajuste de preços relativos onde, na maioria dos casos, a moeda acaba sendo o principal “amortecedor” automático desta situação. O Brasil é um caso clássico deste efeito.

A agenda do dia terá as vendas no varejo no Brasil como destaque. A agenda externa será esvaziada.

Brasil - Os jornais de hoje estão com notícias divergentes. Do lado negativo, artigos continuam ventilando que o Congresso irá alterar as medidas de ajuste fiscal enviadas pela equipe econômica para aprovação na Casa, dificultando o ajuste das contas públicas prometido por Levy e sua equipe. Por outro lado, alguns outros artigos falam que Levy trabalha para divulgar medidas adicionais de ajuste, como uma maneira de retaliar a postura do Congresso, e ratificar sua disposição em apresentar um ajuste agressivo e crível para este ano. No tocante ao BCB, Vicente Nunes fala em um BCB perdido no tocante a condução de política monetária, já que vem criando ruídos desnecessários com inclusões e retiradas de importantes termos em documentos e discursos oficiais.  

A terça-feira foi marcada por uma rodada de piora acentuada dos ativos locais, com depreciação do BRL, queda do Ibovespa e abertura de taxas da curva de juros. Neste último caso, o movimento foi acentuado pelo discurso de Awazu no G20, com viés claramente hawkish que, na minha visão, quis sinalizar uma alta de 50bps na próxima reunião do Copom, praticamente zerando a probabilidade de um recuo do ciclo de alta de juros já em março. A curva precifica altas de 48bps+35bps+20bps+20bps nas próxmas reuniões do Copom. O dia foi de forte flattening da curva. A curva já se mostra bastante flat, sem precificar um ciclo agressivo de cortes de juros um pouco mais a frente, como chegou a ser visto no começo deste ano. Eu continuo vendo valor na curva, mas esperando o momento oportuno para alocar risco de maneira mais eficiente neste mercado. Acredito que a janela de curto-prazo continuará ruim, com inflação elevada e ruídos no campo fiscal. Assim, o BCB deve manter uma postura dura, até que a inflação de curto-prazo mostre arrefecimento, apresentando uma janela para que ele possa interromper o ciclo de ajuste da Selic. Com uma recessão se aproximando, o BCB será capaz de iniciar um ciclo de corte de juros nos próximos 12 a 18 meses. Enquanto isso, o BRL segue a tendência global de fortalecimento do USD, com um beta maior devido as fragilidades internas. Ainda não vejo motivos para uma inversão desta tendência, mas períodos pontuais de acomodação podem vir a ocorrer.

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