Resumo pós-Carnaval

Devido ao feriado de carnaval, tive problemas de conexão de internet, o que impossibilitou que alguns de vocês recebessem os update de mercado nos últimos dias. Abaixo, segue uma breve compilação, em ordem cronológica decrescente, dos comentários enviados neste período:

Após uma noite tranquila, os ativos de risco operam sem grandes movimentações essa manhã. Destaque para a alta nas bolsas da Europa, ainda reflexo do fluxo positivo de notícias em torno da Grécia na tarde de ontem, e um leve viés de fortalecimento do USD, em uma postura defensiva do mercado as vésperas das Minutas do FOMC.

A agenda do dia será relevante, com foco total nas Minutas do FOMC nos EUA. Será importante observar o tamanho do desconforto do comitê em torno da alta do USD e da inflação baixa, em grande parte fruto da acentuada queda no preço do petróleo. Caso esses vetores sejam vistos como apenas questões pontuais, e de pouco impacto econômico concreto para a economia americana, com a maioria dos membros do Fed ainda otimistas com o cenário de crescimento, recuperação do emprego e alta gradual da inflação, as Minutas serão lidas como mais hawkish, dando um ímpeto adicional ao movimento de fortalecimento do USD e de abertura das taxas locais de juros. Caso contrário, podemos ter uma nova rodada de acomodação do USD, e algum alívio pontual nas taxas de juros do pais. Acredito que o Fed tentará ser o mais neutro possível em seus comentários, mantendo a flexibilidade do comitê para atuar em qualquer uma das próximas reuniões do FOMC, seja retirando o termo "patient", seja começando um processo de ajuste gradual das taxas de juros. O mercado hoje precifica cerca de 50% de probabilidade de uma alta de juros em junho, com um pouco mais de 2 altas de 25bps até o final de 2015. Vale a pena comentar, contudo, que o clima frio que assola parte do pais nos últimos dias, aliado a greve nos portos da região oeste americana, podem ter impacto não desprezível no crescimento do 1Q, tornando o ambiente ainda mais desafiador para Yellen e Cia.

No Brasil, os jornais de hoje estão dando destaque aos desafios que o governo terá pela frente após o Carnaval, tanto do ponto de vista econômico como, principalmente, político. Levy esteve nos EUA nos últimos dias, na tentativa de reafirmar o compromisso com o ajuste fiscal e "vender" uma imagem menos negativa do país para os investidores estrangeiros. Além de comentar sobre economia, Levy parece ter feito uma defesa implícita a Petrobras, apontando que o balanço será divulgado em breve, e a situação para a empresa, após este evento, tende a apresentar melhora.

Terça-feira 17 de fevereiro (tarde):
Mesmo com os eventos na Grécia dominando o foco do mercado, alguns desenvolvimentos interessantes estão ocorrendo nos ativos de risco.

O dia foi de fraqueza do USD ao redor do mundo, porém mais concentrado contra G10. As moedas emergentes continuam mostrando dificuldade em apresentar movimentos maiores de apreciação. A curva americana teve um dia de forte abertura de taxas, o que não foi suficiente para colocar um bid no USD e, muito menos, afetar o humor global para o mercado de renda variável. Os desenvolvimentos recentes me levam a acreditar que o mercado já se encontra, em parte, posicionado e confortável com o cenário de alta de juros nos EUA no meio deste ano. As commodities seguem pressionadas, levadas pelo cenário de menor liquidez por parte do do Fed.

Nos EUA, o Empire Manufacturing e o NAHB Housing Market Índex ficaram abaixo das expectativas, reforçando o cenário de acomodação da economia norte americana neste início de ano. Continuo vendo um arrefecimento do crescimento como natural e esperado dentro do ciclo econômico, mas a desaceleração precisa, em breve, se mostrar apenas pontual para que haja uma alteração significativa do cenário por parte do Fed e do mercado.

Na Grécia, as negociações continuam entre o pais e seus credores. Após uma segunda-feira de news flow negativo, a terça-feira foi marcada por rumores de que o novo governo ira baixar a guarda e entrar com pedido de extensão do programa de ajuda financeira.

Terça-feira 17 de fevereiro (manhã):
A despeito dos ruídos provenientes da Grécia, os ativos de risco parecem confortáveis com a perspectiva de negociações que ainda devem durar por alguns dias. Além disso, o mercado parece cada vez mais confortável com o aumento da probabilidade de uma alta de juros por parte do Fed ainda no meio deste ano. Assim, a manhã está sendo marcada por um movimento relativamente forte de USD fraco, contra G10 e EM. As bolsas operam com viés mais positivo, com os juros nos EUA apresentando leve abertura de taxas. Mesmo com o petróleo em alta, as demais commodities apresentam queda.

No Brasil, os jornais seguem sem grandes destaques. Alguns artigos apontam para as chuvas de fevereiro já acima da média histórica, o que está dando algum tempo extra aos governantes do pais. O ajuste fiscal segue em voga, com muitos analistas ainda céticos em torno da capacidade de ajuste deste governo.

Na Alemanha, o ZEW - um dos principais indicadores de confiança da Europa - teve mais um mês de recuperação, confirmando um cenário de crescimento positivo para o pais, e reduzindo os riscos de mais uma rodada de desaceleração da economia na Europa.

Na China, o preço dos imóveis apresentou mais um mês de queda, com o MNI - índice de confiança antecedente ao PMI - mostrando mais um mês de queda. A economia do país ainda apresenta-se frágil, e sem nenhum sinal consistentemente estabilização. Este cenário obrigará o policy maker local a adotar postura ainda mais proativa e agressiva na condução de sua política monetária. Contudo, ainda vejo um crescimento chinês estruturalmente fraco ao longo dos próximos meses e anos, sem que as medidas sejam capazes de alterar de maneira significativa está dinâmica.

Continuo vendo valor na parte intermediária e curta da curva de juros no Brasil. Acredito que a direção do USDBRL seja de alta, mas acredito que podemos ter um curto-prazo de acomodação/realização. Assim, continuo vendo um portfólio aplicado em taxa de juros, e comprado em USDBRL, via estruturas de opção, como uma opção interessante neste momento. No curto-prazo, a posição vendida em BRL deve ser uma posição considerada mínima/pequena, devido a posição técnica ruim, e o movimento global de USD fraco nos últimos dias.

Aproveitaria a correção do USD no mundo para, parcimoniosamente, ir alocando risco comprado em USD. Alocaria risco de maneira gradual ao longo dos próximos dias, e utilizaria a queda das vols implícitas e realizadas para montar as posições via calls de USD. Aceleraria este processo caso as Minutas do FOMC dêem algum sinal mais hawkish, ou caso o discurso de Yellen no Congresso, no final deste mês, aponte para uma alta de juros no meio do ano de maneira mais incisiva.

O cenário global para renda variável ainda me parece positivo, exceto por realizações pontuais devido a ruídos localizados, como no caso da Grécia. Olharia puts e puts/spreads de SPX como hedges para eventos de cauda como um potencial default da Grécia.

Segunda-feira 16 de fevereiro (tarde):
O dia foi marcado pelos desenvolvimentos, ou falta de avanços, nas negociações entre a Grécia e seus credores. Caso o pais não entre em acordo até o final deste mês junto a seus credores, ele ficará sem um programa de ajuda financeira, o que aumentará exponencialmente o risco de um default. A despeito da capacidade de honrar com seus compromissos no curto-prazo, o colchão de liquidez e relativamente curto, o que torna uma extensão do pacote de suporte financeiro indispensável caso o pais tenha a intenção de permanecer na Área do Euro.

Acredito que o tipo de ruído ocorrido hoje seja parte do processo, mas sem dúvida aumenta o risco de um evento de cauda na região, reduzindo a probabilidade de um acordo.

A despeito de ainda acreditar em um acordo como o mais provável, acho válido olhar alguns hedges caso o pior aconteça. As vols de SPX estão relativamente baixas. Uma saída da Grécia da União Europeia seria um evento de difícil mensuração. Assim, olharia puts e puts/spreads de SPX, out-of-the-money, como hedges baratos e com risco/retorno atrativos para aqueles expostos a ativos de risco. Como não e meu cenário base, tenho dificuldades em ter posições direcionais para este evento.

Com o Carnaval, o fluxo de notícias para o Brasil foi esvaziado. As fortes chuvas que assolaram o sudeste nos últimos dias deram tempo ao governo federal e ao estado de SP para programar um eventual racionamento de luz e água. Voltando do feriado, será importante medir a disposição do governo em defender o ajuste fiscal. Seria importante observamos uma articulação política para a aprovação das medidas de ajuste já anunciadas, assim como sinalizações de outras medidas que poderiam ser colocadas em prática.

O dia foi de queda nas bolsas europeias, o que colocou alguma pressão nos índices americanos. A despeito da queda no EUR, o dia foi majoritariamente de USD fraco. Os bonds nos EUA e no núcleo da Europa apresentaram fechamento de taxas, com os papéis da Grécia liderando um movimento de abertura de taxas na periferia da Europa. O dia foi de leve alta nas commodities.

Segunda-feira 16 de fevereiro (manhã):
O final de semana foi relativamente esvaziado do ponto de vista econômico, não alterando significativamente o cenário de curto-prazo para os mercados.

No Brasil, os jornais do final de semana deram destaque a articulação política que Dilma pretende colocar em prática nos próximos dias com intuito de defender o ajuste das contas públicas. A nova postura teria sido aconselhada por Lula e passaria pelo crivo de João Santana. Caso confirmado, seria um cenário positivo, pois mostra coerência com o discurso de começo de governo e apoio total e irrestrito a equipe econômica. Ainda vejo um cenário extremamente desafiador no curto-prazo para o país, mas o mercado já me parece excessivamente negativo com os fundamentos locais. A posição técnica já mostra claramente isso, com estrangeiros e investidores locais excessivamente comprados em USDBRL. Gosto de posições aplicadas na parte intermediária da curva de juros, com estruturais de opção altistas no USD, mas visando reduzir o carrego elevado, e se apropriar de uma volatilidade implícita elevada, como flys, condors e afins.

Na Grécia, não há sinais de avanços nas negociações com seus credores, mas parece existir disposição de ambas as partes para algum tipo de acordo. O processo ainda pode durar alguns dias/semanas, e especulações pontuais podem trazer volatilidade de curto-prazo. Ainda vejo um acordo como o cenário base, com uma probabilidade crescentemente ocorrência.

No Japão, o PIB do 4Q de 2014 apresentou alta, encerrando um bebe período de recessão no pais, mas ficando abaixo das expectativas do mercado. O BoJ parece avesso a novas medidas de expansão monetária, o que pode se tornar um problema para a economia local em um futuro próximo.Os jornais de hoje estão dando destaque a articulação política que Dilma pretende colocar em prática nos próximos dias com intuito de defender o ajuste das contas públicas. A nova postura teria sido aconselhada por Lula e passaria pelo crivo de João Santana.

A despeito de minha visão de curto-prazo de que poderíamos ter uma acomodação do movimento de alta do USD, liderados por dados de crescimento mais fracos nos EUA, e uma posição técnica ruim, estou impressionando com a ausência de momentum para este tipo de correção. O mercado hoje precifica cerca de 50% de chance de uma alta de juros em junho por parte do Fed, e em torno de 2 altas de juros em 2015. O próximo evento relevante será o discurso de Yellen no Congresso no final deste mês, onde poderia indicar a retirada do termo "patient" do próximo comunicado do FOMC. Em um cenário que ainda pressupõe alta do USD no longo-prazo, eu sugiro aproveitar os próximos dias para ir acumulando posições nesta direção. Aproveitaria a queda nas vols para adicionar posições via calls de USD/G10 como EUR e AUD.

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