Desaceleração da economia americana?

Os ativos de risco tiveram uma quinta-feira de tom mais positivo, revertendo grande parte da piora verificada na quarta-feira a tarde, após a decisão do ECB não mais aceitar papéis grego como colateral. A quinta-feira foi marcada por uma melhora de humor nas bolsas e nas commodities, por um movimento generalizado de USD fraco e por uma leve abertura de taxa de juros nos países desenvolvidos, a despeito do bom desempenho dos juros emergentes. O Brasil, por outro lado, continua mostrando dinâmica própria (vide abaixo). Hoje pela manhã, na expectativa da divulgação dos dados de emprego de janeiro nos EUA, os mercados globais operam próximos a estabilidade.

Na agenda do dia, destaque para o IPCA de janeiro na Brasil e para o Payroll e Taxa de Desemprego nos EUA.

Brasil – Os ativos locais continuam mostrando imensa fragilidade frente às incertezas políticas e ao ambiente extremamente desafiador do ponto de vista econômico. A despeito de eu ainda ver valor na curva local de juros, entendo que o mercado precisa de um trigger para voltar a mostrar bom desempenho. Com a próxima reunião do Copom ainda distante, com a inflação de curto-prazo elevada, com a expectativa de altas ainda mais expressivas no preço de energia, somados a crescente descrença na possibilidade de Levy atingir a meta fiscal prometida para 2015, e com os sinais crescentes de envolvimento de membros da base aliada no escândalo da Petrobras, será necessário adotar postura mais cautelosa no curto-prazo, até que estes ruídos sejam dissipados. Ainda acredito que Levy irá atingir a meta prometida, mas irá precisar anunciar, em breve, medidas ainda mais impopulares e agressivas para convencer o mercado deste fato. A curva já precifica altas de 45bps+25bps+20bps nas próximas 3 reuniões do Copom, com a parte longa da curva novamente acima de 12%, um dos maiores patamares de juros do mundo atualmente. No mercado de câmbio, ainda vejo o BRL como uma derivada do movimento global em torno do USD, com uma pitada dos desdobramentos locais. Após um período de desempenho relativo mais positivo no começo deste ano, as últimas suas semanas foram de performance relativa pífia, colocando a moeda em linha com os seus pares. Acredito que o mercado hoje esteja excessivamente negativo com o cenário local. Ainda confio que a equipe econômica será capaz de entregar o que vem sendo prometido. Contudo, acredito que a postura, por hora, deva ser mais tática e cautelosas frente as incertezas de curto-prazo. No tocante a Petrobras, ainda não parece haver uma decisão em torno de um nome para o comando da empresa. Os jornais falam em Luciano Coutinho assumir o cargo até que os problemas sejam resolvidos e um substituto técnico e de mercado seja encontrado. Qualquer indicação política, na minha visão, será negativamente avaliada pelo mercado. O comando da empresa deve ser dado a técnicos de respeito, que sejam capazes de trazer credibilidade a companiha.

EUA – Estamos passando por um momento de acomodação da economia americana. Ainda trabalho com um cenário positivo para o crescimento do país ao longo deste ano. Contudo, caso uma acomodação seja confirmada pelo próximos indicadores de atividade, não podemos descartar movimento de acomodação/realização das tendências recentes do mercado, em especial, a forte alta do USD verificada nas ultimas semanas. Neste sentido, os dados de emprego de hoje serão extremamente importantes. Caso tenhamos, de fato, um arrefecimento econômico, amplamente esperado e natura neste estágio do ciclo, o Fed pode optar por adiar sua decisão em começar um processo gradual de ajuste nas taxas de juros, complicando um cenário que vinha sendo precificado no mercado de moedas. Caso contrário, e o crescimento ainda se mostra robusto e com momento positivo, as tendências recentes podem acabar se intensificand.

Europa – Os números recentes mostram estabilização e leve recuperação da economia da região, o que retira um risco do cenário. A produção industrial da Alemanha apresentou alat de 0.1% MoM em dezembro, após alta de -0.1% MoM para 0.1% MoM no mês anterior, colocando o país em posição relativamente confortável de crescimento. A Grécia ainda é um risco de curto-prazo que precisa ser monitorado. As negociações parecem que devem se arrastar por algumas semanas. Por hora, não há sinais de consenso em torno de uma solução para as demandas do novo governo. Não podemos descartar que os problemas no país, pontualmente, acabem afetando o humor global a risco.

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