Brasil: Ajuste fiscal encaminhado...

Em um dia de agenda carregada no Brasil e nos EUA, os ativos de risco estão operando sem grandes movimentações essa manhã. O destaque, mais uma vez,fica por conta do movimento de USD forte ao redor do mundo. Desta vez, contudo, mais concentrado contras as moedas de G10 do que contra as moedas emergentes, como foi o caso nos últimos dias. Na Grécia, os ativos locais operam em tom bastante positivo, com os papéis soberanos de 10 anos fechando 50bps e já abaixo de 8.9% e com a bolsa local em alta de 6.6%, após o país enviar uma carta de intenções de ajuste em linha com as demandas da União Europeia, dando um passo adicional no processo de negociações para que a extensão do programa de ajuda financeira por 4 meses seja aprovado por seus credores.

Na agenda do dia, teremos IPCA-15 e contas externas no Brasil. Nos EUA, foco absoluto no discurso de Yellen no Congresso, assim como no S&P/CaseShilles House Prices, Consumer Confidence e Markit Services PMI.

Brasil – Segundo um artigo do Estado de hoje, em jantar junto a equipe econômica ontem, os lideres do PMDB sinalizaram que irão apoiar o pacote de ajuste fiscal enviado pelo Ministério da Fazenda ao Congresso. Caso confirmado este apoio, será um passo importante na longa jornada do país rumo aos ajuste de suas contas públicas. A aprovação efetiva dessas medidas, caso confirmada, deveria ser bem vista pelos ativos locais. Segue trecho do artigo:

Partido aliado que impôs derrotas ao governo da presidente Dilma Rousseff nas últimas semanas, o PMDB decidiu apoiar as medidas provisórias que endureceram o acesso a benefícios trabalhistas como o abono salarial e o seguro-desemprego. Em jantar realizado no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, os peemedebistas afirmaram à equipe econômica e ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que o pacote em tramitação no Congresso é importante para o ajuste fiscal em implementação pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy. Segundo Kátia Abreu, os caciques do PMDB não detalharam se apoiarão as duas MPs tais quais encaminhadas pelo Planalto. Segundo relatos de pessoas que acompanharam o encontro, Cunha fez uma das defesas mais “contundentes” da necessidade de ajuste. "Falamos que eles terão nossa boa vontade", afirmou o presidente da Câmara ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Embora a sinalização tenha sido positiva para o Palácio do Planalto, os caciques do PMDB aproveitaram a presença do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para criticar a articulação política do governo. Eles reclamaram a Mercadante que os peemedebistas não participam da elaboração de políticas públicas e só são acionados para “apagar incêndios”. Citaram como exemplo as votações do projeto que flexibilizou a meta do superavit primário, no ano passado, e a aprovação da Medida Provisória que alterou as regras do setor portuário, em 2013. “Ele (Mercadante) concorda que o PMDB é um partido com quadros e com experiência. Só tem a contribuir”, disse Kátia ao final da reunião.

Acredito que 3 eventos serão de fundamental importância para economia doméstica e os mercados financeiros locais nas próximas semanas. São eles:

(1)   Aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso.
(2)   Números fiscais de janeiro, os primeiros dados sobre a batuta da nova equipe econômica.
(3)   Divulgação do balanço auditado da Petrobrás.

Por hora, os investidores locais e estrangeiros continuam extremamente reticentes no tocante a qualquer um destes eventos, ou seja, poucos acreditam que Levy irá entregar o ajuste fiscal que está prometendo, principalmente devido a um ambiente político extremamente hostil. Além disso, os problemas na Petrobrás se mostram de difícil solução, e a “luz no fim do túnel” ainda parece distante. A curva local de juros precifica altas de 55bps+45bps+30bps+20bps nas próximas reuniões do Copom, mas se mantém um tanto quanto flat, com o Jan21/Jan17 a -45bps. O BRL, por sua vez, vem seguindo o humor global em torno do USD, porém com um beta maior que seus pares, devido a demanda por hedge por parte de real money e corporates. Nos atuais níveis de preço dos ativos locais, qualquer sinal de avanço em algum dos pontos citados acima pode ser visto como bastante positivo para os ativos locais. A falta se solução destes quesitos, contudo, pode manter os ativos locais sobre pressão. Nos atuais níveis, acredito que o risco/retorno de se apostar contra Brasil no curtíssimo-prazo já não é mais tão atrativo no mercado de renda fixa e câmbio. Contudo, a solução destas questões são fundamentais para uma inversão total de tendência, o que também me parece cedo para acontecer. Mantenho meu viés aplicador na parte intermediária da curva de juros, com posições compradas em USDBRL via estruturas de opção que visam se apropriar de uma volatilidade implícita elevada e reduzir o contrário contrario. A alocação a risco, neste momento, deve ser pequena para mediana, devido as incertezas de curto-prazo e a volatilidade ainda elevada dessas classes de ativos.

EUA - Yellen fará uma aparição no Congresso Americano hoje. Acredito que o desafio de Yellen será manter as expectativas de mercado nos atuais níveis. Hoje, o mercado precifica cerca de 40% de probabilidade de uma alta de 25bps em junho, e 100% de probabilidade de uma alta de 25bps em setembro. Para o final do ano, o mercado embute duas altas de 25bps. Olhando de hoje, me parece cedo para Yellen desancorar estas expectativas, até porque poderia criar volatilidade excessiva no futuro. Se, por um lado, o Fed precisa sinalizar para os riscos de crescimento no curto-prazo, assim como para a inflação baixa que pode perdurar por um tempo maior, por outro, eles precisam ganhar flexibilidade, reforçando a mensagem de que o Comitê será dependente dos dados. Assim, Yellen pode tentar passar a mensagem de que o termo “patient” pode ser retirado do comunicado do FOMC em breve, mas que isso não necessariamente significa que um processo de alta de juros será iniciado nas próximas duas reuniões do FOMC. No curto-prazo, estamos observando uma acomodação do crescimento nos EUA, que pode acabar sendo acentuado pelo forte frio que assolou a costa leste nos últimos dias. Além disso, a inflação ficará baixa por um período de tempo ainda indeterminado, com as expectativas de inflação em níveis preocupantes. O lado positivo da história, contudo, fica por conta da robustez do mercado de trabalho. Assim, me parece o mais prudente tentar manter a flexibilidade no discurso, mesmo que o começo do processo de alta de juros tenha que ser adiado por alguns meses. Com as expectativas basicamente em torno de 50% de probabilidade de uma alta de juros em junho, caso Yellen opte por uma sinalização mais clara e menos flexível do cenário para política monetária, seja indicando alta de juros em junho, seja indicando um adiamento deste processo para o final do ano, esperaria uma reação clássica e binária dos ativos de risco. No primeiro caso, USD forte, abertura de taxa de juros e leve “risk-off”. No segundo caso, USD fraco, fechamento de taxas de juros e leve “risk-on”.

Europa – O PIB do 4Q de 2014 na Alemanha foi confirmado em +0.7% QoQ, com destaque para a alta de 1.6% QoQ em Private Consumption, 1.2% QoQ em Capital Investment e 2.1% QoQ em Construction Investment. Na França, o Business Confidence ficou estável em 94 pontos em fevereiro, abaixo das expectativas de 95 pontos. Na Área do Euro, o CPI de janeiro fechou o mês com queda de 1.6% MoM e -0.6% YoY, em linha com as primeiras prévias que já haviam sido divulgadas anteriormente.

Rússia - O cessar fogo anunciado no leste da Ucrânia já mostra problemas. Caso o acordo não seja respeitado, poderemos observar novas sanções do Ocidente em relação a Rússia, e uma nova escalada negativa na região, o que poderia afetar, pontualmente, o humor global a risco.

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