Sem sinais de acomodação do USD

Após uma abertura um pouco mais negativa, os ativos de risco apresentaram recuperação ao longo do dia. Com um cenário de crescimento global ainda relativamente estável, em torno de 3% para este ano, com inflação baixa e liquidez global abundante, o mercado de renda variável ao redor do mundo tem sido o destaque positivo de desempenho. Salvo riscos pontuais e localizados, como os problemas na Grécia, o cenário ainda parece relativamente construtivo para esta classe de ativo.
A despeito das Minutas do FOMC terem apresentado um cenário um pouco mais cauteloso com a inflação baixa e os desenvolvimentos externos, a curva de juros no EUA, assim como o USD, estão apresentando imensa dificuldade em reverter suas tendências de abertura de taxas e fortalecimento do USD, ao contrário do que eu imaginava que poderia acontecer. Ainda vejo espaço para um período de consolidação dessas tendências mas, neste momento, fica difícil vislumbrar uma inversão de tendência de longo-prazo. Assim, mantenho minha visão de acumular, parcimoniosamente, posições compradas em USD, especialmente via calls de USD nos pares em que observamos quedas nas volsimplícitas, como AUD e JPY, por exemplo. 
No mercado de juros faz sentido posições aplicadas em taxas na Europa contra posições tomadas em taxa nos EUA, posição que também pode ser feita via pares de moedas.
Em um ambiente de crescimento estruturalmente mais baixo na China, as commodities também se mostram incapazes em apresentar uma melhora acentuada e permanente, o que mantém intacto o cenário de longo-prazo de fim do boom das commodities, ou seja, podemos esperar preços baixos por um período prolongado de tempo.
EUA - Os dados de atividade econômica no país continuam apontando para uma acomodação do crescimento, com o Philly Fed caindo de 6.3 para 5.2 pontos em fevereiro, abaixo das expectativas de 9.0 pontos, mas com o Jobless Claims recuando de 304k para 283k. A despeito da acomodação do crescimento no curto-prazo, o mercado parece cada vez mais confortável com o cenário de descolamento da economia americana em relação ao resto do mundo. A desaceleração do 4Q de 2014 e 1Q de 2015 tem sido visto como pontual, mantendo o cenário de crescimento saudável da economia (em torno de 3%), por hora, sem alteração.
Brasil – Nos últimos dias, observamos dados de inflação marginalmente mais baixos do que o esperado, mas ainda em patamar desconfortavelmente elevados. Por exemplo, o IPC-S apresentou alta de 1.27% na ultima semana, abaixo das expectativas de 1.39% e recuando dos 1.63% da semana anterior. A medida que os reajustes administrados vão deixando de ter impacto mais relevante sobre os preços, é natural esperar um recuo progressivo da inflação nos próximos meses. A gasolina, por sua vez, começa a apresentar impacto maior no curto-prazo, com alta de 2.87% na última semana, a despeito do recuo de Ônibus Urbano (de 9.07% para 5.9%) e Eletricidade (de 7.12% para 4.85%). Passagem aérea apresentou forte queda, saindo de -9.26% para -21.62%, assim como Show Musical passou de 1.91% para -2.44%. Será interessante observar a dinâmica dos preços livres e serviços, já que a atividade econômica pode começar a ter impacto mais relevante sobre a inflação nos próximos meses.
O BRL continua seguindo a tendência global de apreciação do USD, o que tem dificultado o bom desempenho da curva de juros. O mercado precifica hoje altas de 55bps+40bps+30bps+20bps nas próximas reuniões do Copom, o que me parece excessivo frente ao cenário de crescimento pífio, restrição monetária e fiscal, e crédito mais escasso. Entendo que o BCB está no meio de uma guerra contra as expectativas de inflação e só será capaz de encerrar o ciclo de alta de juros com uma inflação de curto-prazo mais benigna, provavelmente no segundo trimestre do ano. A curva voltou a steepar nos últimos dias, com o Jan21/Jan17 saindo de -55bps para -35bps. Ainda acho que faça sentido posições aplicadas na parte intermediária da curva, juntamente com posição compradas em USDBRL via estruturas de opção que visam reduzir o carrego elevado.

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