Brasil: Cenário negativo

O final de semana trouxe um importante fluxo de notícias para o Brasil, assim como novas surpresas negativas de crescimento na China (mais detalhes abaixo). Dentro deste contexto, fica difícil alterar de forma significativa o cenário para os mercados financeiros globais*.

Brasil – Em uma nova pesquisa Datafolha, a popularidade de Dilma e seu governo, assim como a avaliação positiva dos mesmos, despencaram para níveis preocupantes. Com uma crise política instalada, e um crescente consenso de mercado de que o PIB deve apresentar contração de pelo menos 1% em 2015, devem crescer nos próximos meses os ecos para um processo de impeachment. Em artigo no Estado de hoje, alguns congressistas já falam abertamente em alterar significativamente as propostas de reformas econômicas encaminhadas pela equipe de Levy ao Congresso, o que deve alimentar a desconfiança do mercado em torno de um potencial ajuste das contas públicas brasileiras. No Correio Brazilliense de ontem, Vicente Nunes fala sobre a possibilidade de risco sistêmico no sistema financeiro provenientes dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, o que seria mais um vetor negativo e contracionista para a economia do país. A nomeação de Bendine para a presidência da Petrobras foi extremamente mal recebida pelo mercado, por especialistas e pela mídia, o que deve manter o humor em torno da empresa e do país ainda negativo. No tocante aos riscos de racionamento, as previsões de chuvas para os próximos meses ainda são bastante negativas, mas as chuvas que assolaram parte do sudeste nos últimos dias ajudaram a, pelo menos, estabilizar a queda dos reservatórios. Finalmente, mas não menos importante, a mídia está repleta de artigos dando destaque ao cenário de crescimento pífio, sem qualquer sinal de melhores perspectivas ao longo dos próximos meses.

Com um pano de fundo como o descrito acima, fica difícil achar argumentos construtivos para o cenário de curto-prazo no Brasil. A posição técnica já bastante negativa preocupa, mas, ao que tudo indica, enquanto não houver uma mudança substancial de cenário as melhoras dos ativos locais se provarão apenas “bear market rallies”, ou “short squeezes” pontuais. Acredito que ainda teremos uma janela positiva para posições aplicadas na parte curta e intermediária da curva de juros, mas o timing precisa ser cautelosamente analisado. A curva começa a parecer ainda muito flat frente aos fundamentos e a possibilidade de uma recessão mais prolongada e acentuada. O mercado continua precificando altas de 45bps+30bps+20bps nas próximas reuniões do Copom, com a inclinação do Jan21/Jan17 a -32bps. Enquanto isso, podemos esperar mais volatilidade e rodadas negativas no BRL e no Ibovespa.

China – Os números de importação e exportação de janeiro foram extremamente negativos. O Ano Novo Lunar pode ter afetado os indicadores de contas externas de janeiro, mas confirmam um cenário que já vinha sendo mostrado por outros indicadores de crescimento, tais como o PMI divulgado no começo do ano. As importações, em especial, caíram de -2.3% YoY para -19.7% YoY, mostrando uma demanda domestica extremamente fragilizada. Além disso, observamos quedas substanciais de demanda nas principais commodities utilizadas no país (Commodity imports contracted severely in in both value and volume terms. In value terms, imports of oil, coal and iron ore contracted by 42%, 62% and 50% y-o-y respectively. In volume terms, oil, coal and iron imports contracted by 1%, 53% and 10% respectively. From HSBC)O cenário de crescimento para o país segue fragilizado, sem sinais de recuperação, mesmo após uma série de medidas colocadas em prática pelo governo nos últimos meses. Ainda vejo a China como principal risco para a economia global ao longo deste ano. Este ambiente deve manter as commodities sobre pressão, assim como prejudicar o cenário para os países que, durante anos, foram dependentes da demanda chinesa.

Europa – A saga do processo de negociação entre a Grécia e seus credores continua. O governo parece adotar tom mais conciliador, mas ainda parece haver um imenso vazio entre as demandas do novo governo grego e seus credores. Ainda teremos um longo processo de negociações pela frente, que podem trazer incertezas e volatilidade no curto-prazo. Contudo, o cenário base continua sendo de uma solução intermediária para as demandas do país.

EUA – A economia americana parece passar por um período de acomodação. Contudo, como observamos nos dados de emprego de janeiro, a retomada do crescimento parece sustentável, e a acomodação de curto-prazo deve se mostrar pontual e pouco acentuada, o que é amplamente esperado em um processo de recuperação econômica. Mantido este ambiente, acredito que o Fed irá optar por alterar o comunicado na próxima reunião do FOMC. A mensagem não será necessariamente de uma potencial alta de juros no curto-prazo, mas uma postura afim de trazer flexibilidade ao comitê.

*Acredito que os números divulgados na sexta-feira nos EUA deveriam dar novo ímpeto ao movimento de USD forte no mundo. Está cada vez mais complicado fazer o “market timing” de uma potencial acomodação deste movimento no curto-prazo, já que a moeda americana parece ter os fundamentos a seu favor e está com momento muito positivo. Assim, recomenda-se manter posições compradas em USD com visão de longo-prazo, e as reduções serem tratadas apenas como reduções táticas, com um “core position” ainda comprado em USD. A recente queda nas vols de algumas moedas podem ser vistas como oportunidades de alocação via calls de USD. A curva de juros americana ainda não precifica alta de juros em junho e precisará embutir alguma probabilidade nesta direção. Assim, novas rodadas de abertura de taxas podem vir a ocorrer. Este ambiente citado acima tende a ser negativo para os ativos emergentes. Assim, demanda-se cautela em alocações a risco nesta classe de ativos. O viés ainda deve ser negativo. O mesmo é válido para o mercado de commodities.

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