Atualização de cenário.


A única notícia mais relevante até o momento, neste final de semana, ficou por conta da “guerra” verbal travada entre os EUA e a China na reunião da APEC. Pelo tom adotado por ambos, fica difícil acreditar que qualquer acordo comercial mais concreto e duradouro esteja próximo a ser atingido e/ou anunciado, a despeito do otimismo recente em relação ao tema.

Eu acredito que o caminho até um acordo será longo e tortuoso, com muitos ruídos ao longo do caminho. Não descarto que a situação econômica e/ou os preços dos ativos de risco tenham que piorar mais antes que algum avanço concreto seja atingido. No final das contas, acredito em algum acordo, mas sabendo que o caminho talvez seja mais negativo que o resultado final.

Brasil – Dado a ausência de notícias relevantes após o anuncio do novo BCB, já amplamente comentado neste fórum, farei uma breve perspectiva econômica. Sou economista mas não econometrista. Minha intensão é dar um panorama geral do cenário e não acertar “na virgula” os números econômicos.

Os números recentes apontam para um crescimento do PIB em torno de 1,5% este ano. Vimos alguns resultados mais positivos no lado do varejo, porém mais negativos do lado da indústria. Nada que altere o âmbito geral. Para o ano que vejo algo  em torno de 2% a 3% é bastante factível. Ainda tenho dificuldades em vislumbrar um crescimento muito acima de 3% neste momento. O IPCA deverá fechar o ano em torno de 4% e ficar perto disso em 2019. Existem inúmeros riscos nesta frente.

O BCB ganhou tempo para manter a política monetária estável e manter uma postura “dependente dos dados”. As contas externas seguem saudáveis, mas existem riscos na conta capital derivada do cenário internacional. O lado fiscal depende das reformas que serão implementadas, cuja sinalização do novo governo é positiva, mas o risco de execução ainda é elevado.

EUA – Não vi nenhuma novidade relevante nesta frente, que pode ser resumida da seguinte forma: Crescimento saudável, mas que talvez tenha feito seu pico. Mercado de trabalho apertado, com hiato do produto fechado e pressão inflacionárias que se acumulam. Há riscos crescentes do mercado internacional e do mercado local de crédito, mas hoje ainda são de baixa probabilidade de deterioração mais acentuada no curto-prazo. Com o passar do tempo, esses riscos poderão se acumular e tornarem-se mais agudos.

O Fed deverá manter seu “plano de voo” de normalização monetária, que tem sido uma das, senão a principal restrição ao bom desempenho dos ativos de risco este ano.

China – Os números desta semana mostraram um cenário ainda de fragilidade econômica, mas afastaram os riscos de um ambiente mais acentuado e negativo no curto-prazo.

Aqui, gosto de fazer uma diferenciação, que tantas vezes fiz ao longo deste ano, em relação ao curto-prazo e o longo-prazo. O mercado talvez tenha ficado excessivamente negativo no curto-prazo e esteja passando por uma fase de descompressão negativa de preços, ajudada pela estabilização das taxas de juros nos EUA e pelas medidas de estímulo anunciadas na China recentemente. Contudo, nada me diz que o cenário de longo-prazo, mais negativo, com pressões estruturais sobre o crescimento chinês, tenha sido alterado. O mercado de crédito chinês ainda é um risco que precisa ser monitorado.

Crédito EUA – Nos últimos dias virou consenso os obstáculos que o mercado de crédito corporativo dos EUA enfrenta, ou enfrentará, de agora em diante. Eu tenho está visão a algum tempo e tenho recomendado venda e JNK e HYG. Contudo, sempre fico com certo receio quando estes “calls” viram consensuais. Provavelmente, algum “bear market rally” nesta classe de ativo deverá ocorrer, mas sem alterar o cenário desafiador de longo-prazo para esta classe de ativo.

Não gosto de passar visões agressivas e assertivas, como falar em “bolha” neste mercado ou em uma nova crise financeira, desta vez começando no mercado de crédito corporativo. Contudo, tenho acompanhado esta classe mais no detalhe, pois acredito que é um setor que mostra vulnerabilidade e poderá trazer oportunidades de investimentos (negativos e, depois, positivos) ao longo do tempo.

De forma resumida, o cenário para as ações nos EUA terá que lidar com uma situação de menor demanda, seja pelo crescimento global ex-EUA ou mesmo por uma desaceleração branda da economia dos EUA, em meio a expectativas irrealistas de demanda a longo-prazo. Além de uma demanda menor, veremos aumento de custos, tanto de insumos como o custo do trabalho, derivado de um mercado de trabalho apertado, no pleno emprego, com o hiato do produto fechado. Isso irá levar a margens menores e, consequentemente, lucros menores. Isso tudo acontecerá em meio a expectativas, talvez, excessivamente otimistas e alocações elevadas nessa classe de ativos por alguns "players" do mercado.

Para complementar, e fazer o link para minha visão sobre o mercado de dívida corporativa, um tema que está bastante em voga, ainda temos empresas extremamente alavancadas, com uma piora da qualidade dos balanços. Muitas empresas pegaram empréstimos para recomprar ações. O mercado ignorava a situação enquanto as empresas cresciam, geravam lucros e os juros estavam baixos. Quando isso começa a virar, a situação se torna preocupante.


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