Relatório Semanal de Asset Allocation.

A última semana foi marcada pela divulgação de indicadores de atividade econômica no Brasil, com destaque para as vendas no varejo de dezembro e para o IBC-Br – uma espécie de PIB mensal compilado pelo Banco Central. Os números são consistentes com um crescimento ainda pressionado, com sinais apenas incipientes de recuperação da economia.
Para efeitos de projeção de PIB do 4T16, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) não trouxe novidade. Na leitura mensal, os segmentos de “supermercados”, “móveis e eletrodomésticos” foram destaques negativos. No varejo ampliado, construção e veículos tiveram bom desempenho. A nossa proxy de consumo tem mostrado menor contração ano contra ano (-2,6% a/a em dezembro). Os fundamentos para as vendas no varejo (massa salarial, crédito, confiança) permanecem sugerindo um quadro de fraqueza para o setor. Por outro lado, a desaceleração do deflator implícito atenua os vetores negativos.
O IBC-Br ficou abaixo do esperado (-1,82%a/a vs. expectativa de -1,65%a/a e -0,26%m/m dessazonalizado vs. expectativa de -0,2%m/m dessaz.), mas não altera o nosso cenário de crescimento para o 4º trimestre (de -2,5%a/a). A demanda doméstica (proxy mensal) contraiu menos ano/ano do que o IBC-Br em dezembro. Se repetir o erro de previsão do 3º trimestre (PIB: -2,9%a/a vs. IBC-Br: -3,6%a/a), o PIB ficaria em -2,4%a/a (bem próximo à nossa expectativa). O segmento de serviços e a variação ano/ano do IBC-Br (-3,1%a/a) sugerem algum risco para baixo no nosso cenário para o 4º trimestre.
No cenário externo, os dados econômicos da economia dos EUA reforçaram um cenário de crescimento saudável e robusto, com sinais mais claros de pressões inflacionárias na economia.
Destaque especial para o Core CPI, que apresentou alta de 0,3% MoM e 2,3% YoY em janeiro, acima das expectativas do mercado. O Retail Sales também surpreendeu positivamente as expectativas, mostrando um quadro de robustez da economia e, em especial, do consumo. Os indicadores regionais de confiança da indústria continuam atingindo os níveis mais elevados deste ciclo econômico.
Vemos uma economia dos EUA com o hiato do produto praticamente fechado e um mercado de trabalho próximo ao pleno emprego. A economia deve manter um crescimento em torno de 2%, com uma inflação gradualmente mais elevada. Não vemos motivos para desacreditar na política econômica apresentada por Trump em sua campanha, mas mesmo antes da sua implementação, a economia já dava sinais de aperto. Até o momento, tudo o que foi apresentado em sua campanha vem sendo colocado em prática (renegociação do NAFTA, saída do TPP, construção do muro na fronteira com o México, “travel ban”). Acreditamos que a implementação da agenda econômica será apenas uma questão de tempo.
O cenário para a economia da China segue apresentando estabilidade no curto-prazo, ajudada pelo ciclo positivo da economia global. Os números recentes mostraram uma aceleração das exportações e das importações, além de uma inflação mais elevada.
Na Europa, o cenário também tem seguido a economia global, mas os ruídos políticos de eleições regionais/nacionais começam a ganhar as manchetes de maneira mais aguda. 
Alocação/Estratégia:
No tocante as recomendações, mantemos nossa visão praticamente inalterada (vide tópicos reproduzidos abaixo), mas estamos cada vez mais atentos a eventuais riscos de correções e/ou realizações de lucros, mesmo que pontuais.
Três vetores, de maneira geral, concentram nossas atenções neste momento. São eles:
Cenário - Ainda trabalhamos com um cenário construtivo para os fundamentos do país. Contudo, grande parte deste otimismo reside na expectativa de aprovação das reformas econômicas. Caso o andamento das mesmas, em especial, a Reforma da Previdência, não avance na direção que acreditamos ser razoável para a estabilização do país, teremos que rever nosso cenário. Ainda vemos este risco como de baixa probabilidade, mas entendemos que os ruídos em torno deste tema devem aumentar nos próximos dias.
Posição técnica - Vemos espaço para o aumento da alocação estrutural em ativos brasileiros. No curto-prazo, contudo, já observamos alguns players com alocações significativas em algumas classes de ativos, o que requer alguma cautela. Ainda não vemos este vetor como um impedimento para a continuidade da melhora dos ativos locais, mas deve se permanecer atento a essa restrição ao longo do tempo. Pontualmente, correções podem ocorrer.
Nível de preços - Já observamos um movimento expressivo de recuperação dos ativos locais (BRL, Ibovespa e Juros). Nos parece claro que estamos no meio de uma tendência de recuperação do Brasil e de seus ativos, o que torna sempre difícil qualquer análise de “fair value”. Vemos espaço para novas rodadas de apreciação dos ativos locais, mas os níveis atuais nos fazem ligar um “sinal amarelo” de curto-prazo.
Abaixo, segue nossas principais visões:
- No mercado de juros, vemos espaço para um processo estrutural de queda de taxas no Brasil. O momento continua favorável para o mercado de juros, mas o mercado migrou de maneira relativamente rápida para muito perto do que deve ser o cenário base. Sempre existe espaço para surpresas positivas (inflação mais baixa) e, consequentemente, um ciclo ainda mais acentuado de queda de juros. É natural supor, contudo, que o mercado já não apresenta, neste momento, a mesma assimetria positiva de poucas semanas atrás.
- No mercado de câmbio, a despeito de um cenário confortável para o balanço de pagamentos, trabalhamos com um cenário externo favorável ao dólar do mundo. Assim, optamos por manter postura tática e não buscar posições estruturais. Víamos um range de 3,10 a 3,50 para o BRL ao longo do ano. Nas últimas semanas, todavia, ficou claro que existe um forte fluxo reprimido de recursos para o país, o que pode acabar levando a moeda local a níveis ainda mais apreciados no curto-prazo, especialmente diante de um cenário externo benigno para os países emergentes com fundamentos saudáveis.
- No mercado de renda variável, vemos espaço para o aumento dos fluxos para esta classe de ativos à medida que a melhora dos fundamentos continue se consolidando. Tudo indica que ainda existe um enorme fluxo reprimido para esta classe de ativos, especialmente dos estrangeiros, investidores institucionais e pessoas físicas, o que deve suportar os níveis de preço, e conter as realizações de curto-prazo.

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