Mercados questionam Trump.

O dia foi de divulgação de poucos dados econômicos. O destaque ficou por conta de rumores de que o prometido pacote econômico de Trump nos EUA, em especial a parcela relativa a um plano de infraestrutura, poderia ser adiada para 2018. A ausência de um plano econômico concreto, aliado a demora no avanço “repeal and replace” para o “Obama Care” estão colocando um ponto de interrogação grande no mercado. Além disso, o mercado tem tido uma leitura mais dovish em relação as últimas sinalizações do Fed, o que está ajudando a conter o movimento das taxas de juros e mantendo o dólar em uma leve tendência de baixa.

Eu continuo a ver uma economia muita próxima ao pleno emprego, com o hiato do produto praticamente fechado. Acredito que o Fed irá agir com cautela na normalização monetária (alta de juros), mas estão crescendo os riscos de uma aceleração no processo inflacionário. Uma possível agenda econômica mais agressiva por parte de Trump só iria atuar para acelerar este processo.

No resto do mundo, ainda vejo uma dispersão grande em cada país (e/ou região). Enquanto as principais economias do mundo mantêm uma trajetória saudável de recuperação (Reflation), como na Europa e na China, ainda vejo sinais de fragilidade em alguns países, como na Austrália e no Canadá, por exemplo. Ainda trabalho com um cenário de desaceleração para a economia da China, induzida por medidas de aperto, nos próximos 3 a 6 meses, mas a economia pode se manter estável no curto-prazo (1 a 3 meses). Vejo os eventos políticos na Europa como ruídos de curto-prazo, que podem causar momentos repentinos de volatilidade.

No Brasil, o mercado de juros reagiu de maneira clássica ao comunicado e a decisão do Copom, com um forte fechamento da curva de juros, de maneira relativamente homogênea. Ainda vejo espaço para a compressão de prêmios da parte intermediária das curvas nominais e reais de juros.

A quinta-feira foi de realização de lucros no Ibovespa. Acredito que parte do movimento seja explicado pelo cenário externo, com alguma pressão sobre as commodities metálicas em cima da decepção momentânea com a política econômica de Trump. Além disso, alguns setores específicos, como Real Estate, sofreram pressões pontuais. Vejo o movimento de hoje como uma correção natural em meio a um ambiente ainda construtivo para o país, mas mostra que ainda somos dependentes de um cenário externo construtivo para o bom desempenho de alguns importantes setores locais.


O BRL continua seguindo o humor global em torno do USD, em meio a um cenário local construtivo.

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