Fed: Near the dual mandate.

O discurso de Yellen ao Congresso dos EUA manteve o mesmo tom de suas últimas declarações. De maneira geral, Yellen continuou afirmando que, caso o cenário econômico permanece inalterado, a continuidade do processo de alta de juros será necessária.

Esta sinalização é sempre pontuada pelos riscos inerentes ao cenário. Para este ano, contudo, eu vejo os riscos mais na direção de altas adicionais de juros, do que riscos para movimentos mais comedidos do que as 2 altas de 25bps precificadas na curva neste momento. Acredito que a nova administração liderada por Trump irá efetivar uma ampla Reforma Tributária, além de estímulos fiscais, que deverão ser positivos para o crescimento e, consequentemente, altistas para a inflação, visto que a economia parece estar próxima ao pleno emprego, com o hiato do produto praticamente fechado.

Minha interpretação do discurso de Yellen é de que foi um discurso realista, em linha com o cenário que tenho desenhando neste fórum há alguns meses, mas talvez um pouco mais hawkish do que as expectativas do mercado.

Acho válido frisar a seguinte passagem de sua introdução: At its meeting that concluded early this month, the Committee left the target range for the federal funds rate unchanged but reiterated that it expects the evolution of the economy to warrant further gradual increases in the federal funds rate to achieve and maintain its employment and inflation objectives. As I noted on previous occasions, waiting too long to remove accommodation would be unwise, potentially requiring the FOMC to eventually raise rates rapidly, which could risk disrupting financial markets and pushing the economy into recession. Incoming data suggest that labor market conditions continue to strengthen and inflation is moving up to 2 percent, consistent with the Committee's expectations. At our upcoming meetings, the Committee will evaluate whether employment and inflation are continuing to evolve in line with these expectations, in which case a further adjustment of the federal funds rate would likely be appropriate.

A passagem acima segue a afirmação replicada a seguir, já contida no comunicado da reunião do FOMC de janeiro, em que o Fed mostra maior convicção no cenário de convergência da inflação para os 2%: Consistent with its statutory mandate, the Committee seeks to foster maximum employment and price stability. The Committee expects that, with gradual adjustments in the stance of monetary policy, economic activity will expand at a moderate pace, labor market conditions will strengthen somewhat further, and inflation will rise to 2 percent over the medium term. Near-term risks to the economic outlook appear roughly balanced. The Committee continues to closely monitor inflation indicators and global economic and financial developments.

O PPI de janeiro, também divulgado hoje, mostrou um cenário ainda misto para a inflação. Parece evidente (vide gráficos abaixo) que estamos em meio a um processo estrutural e, por ora, gradual, de aceleração da inflação, mas uma análise qualitativa ainda mostra alguma fragilidade neste processo.

No Brasil, as vendas no varejo ficaram praticamente em linha com as expectativas. Segundo nossa área econômica:

PMC restrita @ -2%m/m dessaz (vs. BBG: -2%m/m dessaz) e @ -4,9%a/a (vs. BBG: -4,6%a/a). PMC Ampliada @ -0,1%m/m dessaz (vs. BBG: -0,5%m/m dessaz) e @ -6,7%a/a (vs. BBG: -6,7%a/a). Para efeitos de projeção de PIB do 4T16, a PMC ampliada não trouxe novidade. Na leitura mensal, os segmentos de “supermercados”, “moveis e eletrodomésticos” foram destaques negativos. No varejo ampliado, construção e veículos tiveram bom desempenho. A nossa proxy de consumo tem mostrado menor contração ano/ano (-2,6%a/a em dezembro). Os fundamentos para as vendas no varejo (massa salarial, crédito, confiança) permanecem sugerindo um quadro de fraqueza para o setor. Por outro lado, a desaceleração do deflator implícito atenua os vetores negativos.

Os eventos de hoje não alteram minhas visões. Ainda vejo um cenário de alta estrutural das taxas de juros nos EUA, o que deveria dar suporte ao dólar no momento, mas de forma cada vez mais seletiva. Não tenho uma visão clara para o mercado global de renda variável neste momento.


No Brasil, o avanço das reformas estruturais, em meio a um quadro de desinflação, crescimento baixo e queda de juros, está ajudando a conter a volatilidade dos ativos locais, ainda favorecendo o bom desempenho dos mesmos. Para uma mudança de dinâmica, precisamos acompanhar apenas o avanço da agenda de reformas no Congresso, além do cenário externo.

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