Banxico Strikes Back!

O Banxico deu hoje uma aula de atuação ortodoxa. Ao mesmo tempo, anunciou um corte preventivo de gastos, tanto governamental, quanto para sua empresa petrolífera PEMEX. Anunciou uma inesperada alta de 50bps na taxa de juros, sinalizando que não é o começo de um ciclo, mas sim um ajuste pontual a nova realidade de câmbio. E, finalmente, alterou sua intervenção no câmbio para uma modelo discricionário, menos previsível.

A reação dos ativos mexicanos foi clássica, com forte apreciação do MXN – uma das moedas com pior performance no ano, devido a sua liquidez e baixo custo de carrego – e um forte flattening da curva de juros, com uma acentuada abertura da curva curta.

Os ativos no Brasil, ajudados pelo price-action no México, e pelo “relief rally” global, tiveram um dia bastante positivo. No final da tarde, o S&P anunciou um corte no rating do país, mantendo perspectiva negativa. Eu vinha alertando para este risco neste fórum desde que o governo começou a ventilar um corte apenas modesto no orçamento, e um déficit fiscal para 2016. Acredito que a dinâmica dos ativos locais hoje é totalmente explicada pelo fluxo externo, mas não por fundamentos locais. Acredito que o corte da nota de crédito pela S&P, inesperada, é relevante.  Espero que o Brasil volte a mostrar dinâmica ruim assim que o “short squeeze” global perder força.

A política econômica no Brasil é a antítese do que foi anunciado no México. Não temos ajuste fiscal e o BCB adota uma postura aparentemente leniente com relação aos riscos de inflação. O bom desempenho do BRL, na esteira do MXN, só se explica por fluxos pontuais, não sustentáveis a longo-prazo.
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A manhã desta quarta-feira foi agitada,  demandando alguns comentários adicionais sobre cenário e mercados.

EUA – A Produção Industrial de janeiro apresentou alta de 0,9% MoM, acima das expectativas de 0,4% MoM. Mesmo levando em conta a revisão baixista do mês anterior, o número pode ser considerado sólido. O Housing Starts apresentou ficou abaixo das expectativas, mas com um número ainda saudável de Building Permits. A minha impressão é que o clima fora do patrão histórico em dezembro (mais quente) e janeiro (mais frio) possa estar afetando os dados de housing no curto-prazo. O PPI, por sua vez, ficou acima das expecativas, levando o mercado a repensar, em parte, o cenário o de inflação para o país. O número de hoje gerou comentários do tipo:

From ML Econ team: It's too soon to say that inflation is taking off yet, but the latest readings on prices have been encouraging that price pressure is picking up. Along with building wages, it should be an encouraging sign for the Fed.

From Barlcays Econ team: The solid overall reading on PPI and the surge in the core personal consumption measure may indicate that some of the weakness in inflation could be starting to abate.

Os números de hoje mostraram uma economia norte americana ainda saudável, levando o tracking do PIB para níveis próximos a 2,5% neste primeiro trimestre do ano. Além disso, começam a surgir evidencias de que o piso da inflação possa ter ficado para trás, mesmo com o fortalecimento do dólar e a queda no preço das commodities. O cenário de alta de juros por parte do Fed, assim, acaba sendo reforçado. Mesmo com o FOMC de março fora de questão, a política monetária do país ainda parece estar direcionada para um processo lento e gradual de alta de juros.

Mercados Externos – Os ativos de risco entram em pânico no início do ano com o receio de uma desaceleração mais acelerada do mundo, que levaria os EUA para uma recessão. Os dados recentes, mostrando um crescimento ainda saudável no país, afastam este risco, pelo menos no curto-prazo. Este vetor, aliado a estabilização (mesmo que apenas aparente) da situação econômica na China, e a relativa estabilidade do sistema financeiro da Europa, após o anuncio de recompra dos bonds do DB, acabaram ajudando a estabilizar o humor global a risco.

Os dados de hoje reforçam um cenário de estabilização, mesmo que pontual, dos ativos de risco. O quadro técnico ajuda nesta direção. Podemos esperar um cenário mais estável para bolsas e commodities, além de um cenário de abertura de juros nos países desenvolvidos, um fortalecimento do dólar contra G3, porém um bom desempenho para as moedas e os ativos emergentes.

Acredito que esta estabilização deva ser cíclica, já que os problemas estruturais da economia global, em especial na China, continuam sem solução fácil. A mudança de visão é que esta estabilização, frente aos dados recentes, possa durar um pouco mais do que o imaginado anteriormente. A perspectiva de alta de juros nos EUA é positiva para ativos de risco no curto-prazo, pois vem acompanhada de uma melhora no cenário de crescimento. Por outro lado, contudo, irá gerar pressões adicionais ao dólar no mundo e a muitos ativos emergentes a longo-prazo. Ainda gosto de posições compradas em dólar.

Mercados Brasil – Ao contrário do que eu imaginava, o mercado local de juros apresentou um forte fechamento de taxas nos últimos dias. A narrativa partiu de que, supostamente, a sinalização dada por Altamir Lopes na reunião trimestrais dos economistas havia sido dovish. A curva curta de juros hoje apresenta pouco prêmio de alta, com alguma alta concentrada nos anos de 2017 e 2018 (vide gráficos abaixo). Por isso, o mercado parece aplicado nos vértices de Jan18 e Jan19. Acredito que, de agora em diante, ou teremos um movimento de flattening, muito baseado no cenário global, ou o mercado precisará precificar quedas de juros para que o movimento se sustente. Por hora, ainda não há essa sinalização por parte do BCB (quedas de juros), mas tenho algumas opções nesta direção (“just in case...”).


O BRL está seguindo o humor global a risco. Acredito que ao redor de 3,90/4,00 poderemos ter algum suporte a moeda norte americana. Gosto de manter uma posição core comprada em USDBRL, mas o mercado tem mostrado que é preciso tentar maximizar a posição nos movimentos percebidos como extremos.

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