Apenas consolidação...

O dia foi de agenda relativamente esvaziada no cenário econômico. O destaque ficou por conta do Chicago PMI nos EUA, que apresentou queda de 55,6 para 47,6 pontos, abaixo das expectativas de 52,5 pontos. O número apenas confirma o que já vem sendo amplamente mostrado por outros indicadores de manufatura, ou seja, um crescimento pífio do setor, que vem sendo negativamente afetado pelo dólar forte no mundo e pela fraqueza demanda global.

Os ativos de risco tiveram um dia de digestão, após a surpresa altista do Core PCE nos EUA na sexta-feira. O anuncio do corte de compulsório na China foi bem recebido pelo mercado. Eu, particularmente, acredito que a medida será insuficiente para estabilizar a economia e o humor em relação ao crescimento do país, mas é um sinal positivo de que o PBoC pretende ser mais proativo na condução de sua política monetária. Continuo trabalhando com um cenário extremamente desafiador para os países emergentes ao longo deste ano, a despeito da estabilização verifica hoje nos ativos desta região.

A surpresa baixista na inflação da Área do Euro, aliada ao arrefecimento recente dos indicadores de atividade econômica na região devem elevar o downside do EUR. Na minha visão, podemos testar os lows deste ciclo, abaixo de 1,05.

De maneira geral, vejo uma posição técnica mais limpa no mercado de FX, após um mês de janeiro conturbado, e um mês de fevereiro de consolidação. Mantenho uma visão de que ainda há espaço para a apreciação do dólar no mundo. Contudo, o movimento não será linear, mas sim permeado de incerteza e volatilidade. Como tenho afirmado neste fórum, mantenho uma posição vendida em BRL via estruturas de opção, e uma posição direcional vendida em EUR (proporcionalmente menor do que o BRL).

A perspectiva de que o processo de alta de juros nos EUA possa ser retomado, em algum momento deste ano, algo que havia sido praticamente desprecificado da curva de juros do país, pode vir a trazer novas rodadas de pressão sobre os ativos de risco, especialmente após o ajuste de posições que vimos nas últimas semanas.

No Brasil, o dia foi de forte desempenho do Ibovespa, mas com uma performance relativa mais negativa do BRL em comparação com seus pares externos. Verificamos ainda um forte steepening da curva longa de juros. As evidencias apontam para algum fluxo relevante de saída de recursos de papéis longos do país (NTNF 2025?), provavelmente afetado por rebalanceamento de final de mês e, especialmente, após a dívida local perder o IG pela S&P.

No curto-prazo, acredito que os ativos brasileiros devam seguir o humor global a risco. Neste ambiente, gosto de posições vendidas em BRL (compradas em USD) pelo cenário externo discutido neste fórum incessantemente nos últimos meses. Contudo, vejo espaço para a busca de hedges na eventualidade de um impeachment. Gosto de calls e calls-spreads de Ibovespa, de abril em diante, deep-out-of-the-money. Acredito que os astros estão se alinhando para que o BCB não eleve mais os juros no Brasil (bandeira verde na energia elétrica, cenário externo, e etc) assim, estou usando os últimos dias para montar posição aplicada nos juros nominais, na parte intermediária da curva.


O cenário político ainda é incerto. O Ministro da Justiça pediu demissão, e acabou sendo realocado na AGU. Segundo a mídia, Cardoso não aguentou a pressão de alas do PT e de Lula no que tange os avanços da Operação lava-Jato. Pesquisas recentes de intensão de votos mostraram um aumento da rejeição do PT e, em especial, de Lula. Contudo, a oposição não parece estar se apropriando devidamente desta deterioração. Não podemos colocar Lula e o PT como “cartas fora do baralho” em eventuais novas eleições presidências, seja em 2018, ou antes disso. Tenho receio, contudo, que as investigações atinjam novos partidos, novos políticos e novos empresários, tornando o cenário político e econômico não menos, porém ainda mais turbulento.

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