Sem otimismo.


Os eventos recentes no cenário econômico global reforçam o meu cenário base que vigora desde o início do ano, a despeito da dinâmica de mercado ainda apresentar comportamento bastante errático. Vejamos alguns fatos:

Nos EUA, o ADP Employment apresentou criação de 219 mil vagas de trabalho em julho, acima das expectativas do mercado. O ISM Manufacturing saiu de 60,2 para 58,1 pontos.

Os números mostram um mercado de trabalho aquecido, com a economia no pleno emprego e o hiato do produto fechado. Ainda não há sinais claros de aceleração da inflação, mas o acumulo de pressões inflacionárias na economia é evidente.

O Fed manteve sua política monetária estável, como era amplamente esperado. As alterações promovidas em seu comunicado mostram uma confiança maior no nível robusto de crescimento e na inflação em torno de sua meta, ou seja, um leve viés “hawkish”.

O Tesouro dos EUA anunciou seu programa de emissão de dívida. Com um déficit fiscal crescente devido a Reforma Tributária é natural que o anuncio confirmasse a necessidade de emissões mais elevadas do que nos últimos meses. Soma-se a isso a menor demanda por papéis, em muito influenciada pela redução do balanço do Fed.

Estes vetores acima reforçam a minha visão de taxas de juros mais elevadas de maneira estrutural. O recente anuncio do BoJ, no Japão, atua nesta mesma direção e hoje ajudou no movimento de “steepening” das curvas globais de juros.

Estes movimentos deveriam atuar na direção de impedir movimentos adicionais de apreciação dos ativos de risco como um todo, dentro de um contexto de menor liquidez global, posição técnica e nível de preços que atingiram níveis (talvez) excessivos desde a crise de 2008.

A despeito dos avanços nas negociações comerciais dos EUA com a Europa e o NAFTA, o país continua colocando forte pressão na China. As evidências anedóticas apontam para poucos avanços nessa questão e a mídia reporta que os EUA poderão aumentar o nível de tarifas para a China, em uma tentativa de pressionar o país à mesa de negociações.

Enquanto isso a China passa por um momento econômico e financeiro delicado. Até o momento, as medidas de ajuste (afrouxamento monetário, fiscal e creditício) não foram suficientes para estabilizar os mercados locais, com continuidade da queda das bolsas e da moeda (CNY / CNH) do país.

Hoje, em especial, chamou bastante a atenção a forte queda das commodities metálicas, sempre muito correlacionadas com a saúde econômica da China.

Finalmente, na Turquia, um país emergente que pode ser considerado relevante, vimos a moeda do país atingir seu piso histórico. Os EUA iniciaram um processo de sanções a pessoas ligadas ao país, em retaliação a prisão de um pastor americano.

Em suma, a despeito da aparente tranquilidade dos ativos financeiros, “debaixo dos panos”, convivemos com um cenário de normalização monetária nas principais economias do mundo, que deverá enxugar um excesso de liquidez que explicou grande parte da apreciação dos ativos de risco nos últimos 10 anos. Ao mesmo tempo, vemos uma das principais economias do mundo, a China, passar por um momento delicado de fragilidade, enquanto os EUA adotam uma postura mais combativa nas suas relações comerciais, que em nada ajudam o bom andamento da economia global podendo, inclusive, afetar negativamente o crescimento e elevar a inflação no país.

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