Foco continua na China, Turquia e eleições no Brasil
Depois de uma noite bastante
negativa, os ativos de risco acabaram terminando a sexta-feira em tom mais
positivo, após o WSJ reportar que a China e os EUA estariam trabalhando em um “roadmap”
para um acordo comercial de reaproximação.
Confesso que achei o artigo bastante
vago e sem grandes sinalizações de avanços concretos, mas entendo a animação
pontual do mercado com algo nesta direção (https://www.wsj.com/articles/u-s-china-plot-road-map-to-resolve-trade-dispute-by-november-1534528756?mod=hp_lead_pos2).
Não vimos avanços concretos capazes
de estabilizar a situação na Turquia e a fragilidade, que parece cada vez mais
estrutural, na China. Contudo, dado a pressão negativa nos ativos de risco (EM,
commodities, alta do dólar e etc) nas últimas semanas, é natural esperar
movimentos, as vezes rápidos e acentuados, porém pontuais e pouco potentes, de
recuperação. Os preços, valuations e aposição técnica do mercado favorecem movimentos
pontuais como estes.
Minha visão estrutural mais
conservadora, ou negativa para alguns, só será alterada caso o pano de fundo se
altere de maneira definitiva, ou seja, com uma pausa no processo de normalização
monetária nos EUA, e\ou com medidas ainda mais potentes de estabilização na
China, e\ou com avanços concretos de medidas ortodoxas na Turquia. Por ora, não
há sinais de que nada disso esteja no horizonte de curto-prazo.
Em relação aos EUA, os números
recentes, a despeito alguns sinais de acomodação\arrefecimento do crescimento,
mostraram uma economia robusta e saudável, com o mercado de trabalho no pleno
emprego e com o hiato do produto fechado. Isso acaba deixando o Fed “de mãos
atadas”, seguindo o seu “plano de voo” de normalização monetária. A semana que
se aproxima terá uma agenda importante, com as Minutas do FOMC e a reunião de
Jackson Hole, com presença garantida de Jay Powell, Presidente do Fed.
No Brasil, a pesquisa semanal de
intensões de voto para presidente divulgadas pela XP Investimentos na manhã de
ontem, mostrou forte avanço de Haddad, potencial candidato do PT, em todos os
cenários. A pesquisa apenas reforça a minha visão de que a disputa eleitoral
será extremamente competitiva, com alguns (entre 3 e 4) candidatos bastante
competitivos para chegar ao segundo turno. Isto torna o cenário extremamente
incerto e desafiador, dado que, a luz da visão do mercado, apenas Alckmin seria
capaz de implementar as reformas econômicas necessárias, logo no começo do
governo, a fim de evitar cenários mais catastróficos para o país, em um
ambiente internacional mais desafiador.
O debate promovido pela Rede TV na
noite de ontem em nada altera este cenário. Na minha avaliação preliminar e
extremamente amadora neste quesito, os candidatos mais competitivos tentam
apenas “não perder”, pouco se arriscando, mas também em nada agregando a suas
campanhas. Os candidatos menos competitivos acabam se mostrando “mais soltos” e
tentando dialogar de maneira mais direta com seu nicho de eleitorado, passando
uma impressão (na minha visão errada, mas que funciona para o grande público) até
de um preparo maior.
Diante de todo o exposto acima, sigo
com portfólios mais conservadores e postura mais tática, buscando navegar este
período mais turbulento.
Continuo gostando estruturalmente da
compra de inflação implícita no Brasil. Acredito que o mercado de juros locais
esteja com prêmios excessivamente baixos, especialmente em um ambiente em que o
dólar testa seus picos recentes, a inflação parece ter feito seu piso e o
cenário externo se mostra desafiador. Ainda vejo muitos investidores locais na
expectativa, ou talvez o termo melhor seja na esperança e na torcida, de um
avanço de Alckmin nas pesquisas, o que a fotografia atual não mostra. Continuo
utilizando o dólar e a bolsa para posições táticas, flexíveis e sem viés. Neste
momento, sem posições.
No cenário externo, sigo com posições
tomadas na parte intermediária da curva de juros nos EUA, porém menor do que no
passado recente. Além do ambiente mais desafiador, vemos a posição técnica
ruim, como mostrou ontem os dados de posição especulativa semanal da bolsa. Voltamos
a alocar algum risco, com visão de hedge, via estruturas de opção baixistas
para as bolsas do país.
Neste momento, estamos sem posições
relevantes no mercado de câmbio A posição técnica parece excessivamente
comprada em dólar, porém o pano de fundo ainda parece ser de um dólar mais
elevado.
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