All bets are off...
Sem a menor dúvida o destaque do dia
ficou por conta da forte depreciação da Lira (TRY) na Turquia, que neste
momento cai cerca de 16,5% contra o dólar, e acabou gerando um movimento
clássico e global de “risk-off”. Hoje pela manhã já escrevi um pouco sobre este
tema (https://mercadosglobais.blogspot.com/2018/08/contagio.html).
O que podemos esperar daqui para a
frente?
Peguemos o caso mais recente dos
eventos na Argentina. O país passou por situação econômica e financeira de fragilidade
parecida com a da Turquia. A diferença, neste caso, é que o Governo Argentino
adotou postura liberal, pragmática e ortodoxa, como já vinha sendo o caso. No
final das contas, acabaram pedindo ajuda financeira ao FMI.
Na Turquia, o governo apresenta
propostas mais heterodoxas e afirma não ter a intenção de se curvar a pedidos
de ajuda financeira. Além disso, o país ainda precisa lidar com uma “guerra
comercial” e sanções por parte dos EUA, o que deixa sua situação muito mais delicada
e de solução mais prolongada.
Assim, acredito que a situação não
irá se estabilizar por si só. A Argentina, mesmo após todas as medidas adotadas
e a ajuda do FMI, ainda está convivendo com depreciação cambial e de seus ativos
financeiros. A Turquia terá que se esforçar para conseguir estabilizar sua
situação no futuro não muito distante. Talvez a situação ainda precise piorar
antes de melhorar.
A exposição dos bancos europeus à Turquia
parece ser da ordem de US$110bi. Precisamos entender a fundo os efeitos
secundários desses movimentos recentes e do potencial de contágio ainda maior a
outros países e mercados.
Tudo isso acontece em um contexto de
redução da liquidez global. O Core CPI de julho, divulgado nos EUA hoje, mostrou
uma alta de 0,243% MoM e 2,4% YoY, reforçando o cenário de alta gradual da
inflação. Diferente do passado recente, não parece haver espaço, pelo menos
ainda, para o Fed alterar a sua postura, ou seja, sair do seu processo de
normalização monetária, para tentar estabilizar uma situação global exógena a
sua economia.
Neste contexto, podemos esperar a
continuidade de um cenário de incerta e volatilidade, com eventuais “flash
crash” ocorrendo de maneira mais corriqueira do que no passado recente. Apenas
esse ano, já vimos situação semelhantes na Argentina, Turquia, Itália, China,
Cobre, Facebook, Netflix...apenas para citar alguns exemplo.
O Brasil está inserido neste contexto
global e não está imune a todo este ambiente. Para piorar, estamos entrando em
um ponto crítico das eleições sem que haja um cenário claro delineado para a
política interna. Uma pesquisa semanal divulgada hoje pela XP Investimentos
mostrou que Bolsonaro continua consolidado na ausência de Lula, que Haddad, com
eventual apoio de Lula, é extremamente competitivo, e que Alckmin, mesmo após
as alianças recentes e a mídia que teve, aparece sem conseguir conquistar
intensões de votos relevantes ou decisivos.
Continuo com uma visão externa
cautelosa e com posições que expressão esta visão, a despeito da relativa (ou
aparente) estabilidade que alguns mercados podem ter aparentado ao longo de
julho e deste começo de agosto.
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