Relatório Semanal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
Alguns
desenvolvimentos recentes, locais e globais, merecem alguma atenção nas
próximas semanas.
No
Brasil, os sinais recentes apontam para um crescimento mais brando do
que o imaginado anteriormente. As expectativas para o crescimento do PIB, que
chegaram a rondar níveis superiores a 3%, hoje já se encontram mais baixas,
mais perto de 2,5% do que de 3%. Por ora, ainda vemos a economia local em uma
trajetória de recuperação gradual. Entendemos que os sinais recentes fazem
parte de um processo de acomodação da economia, mas vemos riscos, especialmente
no cenário externo e no âmbito político local, que justificam expectativas de
crescimento mais baixo para este ano. Por ora, vemos alguns pilares que devem
sustentar a atividade nos próximos meses, evitando uma desaceleração mais
acentuada do crescimento, tais como, juros baixos, inflação baixa, recuperação
do emprego e do crédito entre outros.
No
tocante à inflação, os números mostram poucas pressões inflacionárias correntes
ou prospectivas. As contas externas seguem saudáveis e as contas públicas
mostram uma arrecadação que cresce a taxas reais superiores ao crescimento da
economia, mostrando uma elasticidade maior da arrecadação ao crescimento
econômico. Este cenário dá tempo a este governo e ao início do próximo, mas
apenas de forma cíclica. A necessidade de reformas estruturais continua sendo
imperativa.
No
tocante ao cenário político, as pesquisas eleitorais continuam mostrando um
quadro de indefinição e incerteza.
Nos
EUA, a despeito de dados de crescimento mais mistos nas últimas semanas, o que
mais uma vez pode estar sendo influenciado pela sazonalidade do primeiro
trimestre do ano, a economia mostra crescimento saudável. A inflação sobe de
maneira gradual, porém de maneira mais convincente agora para a meta de 2% (do
Core PCE) mirado pelo Fed.
As
Minutas do FOMC e as declarações recentes de membros do Fed apontam na direção
da necessidade de um processo de alta mais agressivo do que o imaginado
anteriormente, talvez com 4 elevações este ano. Como o mercado precifica cerca
de 60bps de alta nos próximos 12 meses, apenas a manutenção do cenário base
seria capaz de gerar alguma reprecificação do mercado de juros no país, com as
usuais reverberações para o resto do mundo.
Na
Europa, os dados de crescimento vêm mostrando sinais um pouco mais espalhados e
preocupantes de desaceleração. As Minutas do ECB mostraram que o Comitê ainda
está bastante confortável com o atual estágio do ciclo de política monetária e
uma mudança mais brusca de direção, neste momento, parece descartada.
Na
China, os números do primeiro trimestre do ano ainda estão bastante
contaminados pelos efeitos pontuais do Ano Novo Lunar. De maneira geral, vemos
sinais de leve desaceleração do crescimento, mas ainda em linha com as
expectativas do mercado. Estamos acompanhando atentamente a desaceleração dos
agregados monetários do país e a postura aparentemente mais austera adotada por
este Governo após a consolidação de sua posição no poder. Acreditamos que com o
poder mais consolidado, passado os importantes eventos políticos locais, a
China poderá se mostrar mais tolerante a um menor crescimento de curto-prazo em
prol de reformas mais estruturais na econonomia.
Alocação/Estratégia:
Nas
últimas semanas, temos priorizado a parte longa da curva de juros reais, devido
ao estágio do ciclo de política monetária. Ainda gostamos do mercado local de
renda variável, mas estamos priorizando ações e fundos que buscam “valor” no
mercado, ao invés de uma correlação ou “beta” elevado com o Ibovespa. Seguimos
sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio.
O
desempenho mais negativo dos ativos locais no curto-prazo reflete um cenário
externo mais nebuloso, além de um panorama político local mais incerto (ou
talvez menos claro do que o mercado gostaria neste estágio do calendário
eleitoral).
Nossa
expectativa é de que a partir de agora o cenário para os ativos de risco se
torne mais indefinido, o que deverá trazer mais volatilidade, e portanto, menos
tendências claras para os mercados financeiros globais. Este panorama já vinha
sendo contemplado neste fórum desde o final do ano passado. Até por isso, elevamos
nossa recomendação de fundos multimercados (estruturados e institucionais)
assim como fundos de investimentos no exterior com maior exposição ao alpha dos
gestores, e não ao beta do mercado.
Juros
– Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima
da média na classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com
alocações na média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta,
optamos por estar levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Vemos
espaço para a compressão dos prêmios na parte intermediária e longa da curva
nominal e real de juros, respaldados por um cenário de recuperação gradual do
crescimento, hiato do produto ainda bastante aberto, inflação corrente e
perspectiva baixa, e expectativas de inflação ancoradas. Entendemos, contudo,
que nesta fase do ciclo os ganhos tendem a ser mais moderados e os riscos mais
elevados.
Câmbio
– Neste momento, recomendamos alocações neutras em câmbio e uma
postura tática em relação a moeda local (Real ou BRL). Contudo, preferimos
alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD).
Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Trabalhamos
com cenário de contas externas saudáveis, com um déficit em conta corrente
tranquilo para a maturidade do país. A conta corrente tem sido financiada de
maneira ampla e saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, que são fluxos
mais estáveis e saudáveis, por visarem retornos de longo-prazo. Além disso,
vemos espaço para o aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda
variável local, o que favorece fluxos para carteira de portfólio. Contudo,
entendemos que o cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do
Real e o cenário eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.
Renda
Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo propício.
O
nosso cenário base de recuperação do crescimento e do emprego, inflação baixa,
taxas de juros mais baixas por mais tempo e sem riscos relevantes nas contas
externas, pressupõe que existe espaço para a alocação em renda variável local.
Além disso, em termos técnicos, os investidores institucionais e estrangeiros
apresentam um espaço grande de realocação nesta classe de ativo, se compararmos
aos níveis alocados a cerca de 5 a 7 anos atrás. Finalmente, para o investidor
estrangeiro, em termos relativos, as bolsas emergentes, e no Brasil em
especial, apresentam “valuations” mais atrativos do que as bolsas dos países
desenvolvidos, em especial os EUA.
Fundos
Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
Fundos
de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe
espaço para o investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que
apresentam menor “beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste
estágio do ciclo econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por
não termos uma visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil
mais voltado pela busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em
mercados específicos, como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas
“alpha”. O racional é bastante parecido com aquele mencionado anteriormente
relativo aos fundos multimercados.
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