"Tech Trouble", China Tariffs and NAFTA.

Os ativos de risco estão retornando do feriado com uma aparente normalização de fluxos, que está dando suporte ao mercado de commodities e a uma abertura das taxas de juros no mundo desenvolvido. Contudo, o dólar opera com pouca movimentação e direção mista, enquanto a bolsa dos EUA apresenta nova rodada de pressão, em um ambiente ainda de baixa visibilidade e maior incerteza.

No sábado fiz um breve resumo de minha visão, que pode ser revista aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/03/mercados-globais-pmi-na-china-inflacao.html.

No final de semana, o Facebook foi vítima de um vazamento de um relatório que coloca, novamente, a empresa no foco do debate da mídia e dos mercados, sugerindo uma postura questionável da empresa e a manutenção de um foco que poderá levar a maior regulamentação e pressão das autoridades em seu modelo de negócios.

O presidente dos EUA ainda voltou a comentar, através de seu Tweeter que  modelo de negócios da Amazon precisa ser regulamentado e taxado de forma mais efetiva do que atualmente é. Além disso, Trump criticou a maneira com que a empresa utiliza o serviço postal do país, um sistema que apresenta déficits e prejuízo, enquanto a Amazon segue sua trilha de lucros e sucesso.

Tanto os eventos recentes relativos ao Facebook quanto a postura de Trump em relação a Amazon apontam para um novo ambiente regulatório no setor de Tecnologia, que poderá entrar em um cenário de maior regulamentação, como ocorreu com o setor bancários após a crise de 2008. Por ser um setor bastante relevante para os índices de bolsa, este cenário pode continuar se mostrando uma restrição para o desempenho das bolsas, especialmente nos EUA. Vale lembar que não estou tomando partido de nenhum dos lados, mas apenas fazendo uma análise técnica sobre a situação e seu eventual impacto nos mercados financeiros globais.

No final da tarde de domingo a China anunciou uma nova rodada de tarifas de importação em retaliação a recente postura dos EUA em relação a seus produtos. A medida traz de volta a tona o risco de uma guerra comercial mais ampla, que havia sido reduzido após as recentes tratativas entre os dois países, que haviam sido reportadas pela mídia. O mercado continua bastante sensível a este tema, dado sua importância para o cenário econômico global.

Finalmente, Trump declarou que um acordo para o NAFTA pressupõe que o México irá controlar suas fronteiras e evitar o tráfico de drogas do México para os EUA. Caso isso não ocorra, os EUA não estão dispostos a fechar um novo acordo, segundo o presidente americano.

Ainda vejo o ambiente propício para uma postura defensiva, focada em posições relativas, temas específicos de investimentos e uma postura mais tática do que estratégica. Minhas recomendações podem ser recordadas aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com.br/.

As últimas 72 horas trouxeram informações que reforçam este quadro.

Na China, o PMI Manufacturing oficial apresentou relevante alta, acima do esperado, em março, saindo de 50,3 para 51,5. Os dados deste início de ano ainda estão bastante comprometidos pelos efeitos do Ano Novo Lunar. De maneira geral, as médias de janeiro e março mostram uma desaceleração gradual da economia, em linha com o cenário central.

A inflação na Itália e na França ficou acima das expectativas em março, com altas de, respectivamente, 1,1% YoY (vs 0,8% YoY esperado) e 1,5% YoY (vs 1,5% YoY esperado). Os números seguem dados marginalmente mais baixos na Alemanha. A inflação na Europa mostra uma trajetória ascendente, mais ainda de maneira gradual. Não deveria alterar a postura do ECB em relação a política monetária na região.

No Brasil, a mídia está com as atenções voltadas para a última operação da Política Federal, que prendeu pessoas próximas ao atual Presidente Michel Temer. Sem dúvida alguma, uma operação como esta coloca o Presidente em situação acuada e não tem como ser vista como neutra, mas sim negativa. Contudo, com as eleições de outubro a espreita, não há nenhuma expectativa de aprovação de reformas econômicas e ou qualquer debate estrutural para os próximos meses. Assim, a Operação deveria ter maior impacto nas articulações políticas para as eleições do que na economia ou no preço dos ativos brasileiros.

Na quinta-feira a divulgação da safra agrícola por parte da USDA mostrou, pela primeira vez em muito tempo, uma piora nas perspectivas de várias commodities, o que levou a uma forte alta no preço das chamadas “Soft Commodities”, ou commodities agrícolas. Esta classe de ativo veio de vários anos de pressões baixistas de preço, pressionadas por um quadro de demanda fraca e oferta excedente. Este cenário parece estar mudando, tanto no tocante a demanda, com bom crescimento global, quanto, agora, no tocante a oferta, após as notícias recentes. Este vetor pode ser importante para a inflação de vários países/regiões e para a classe de investimentos como um todo.

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