Relatório Semanal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
Os últimos dias, e a sexta-feira em
especial, foram bastante intensos para os ativos de risco e para o cenário
econômico. O momento parece oportuno para analisarmos alguns temas:
Brasil – Não há mudanças estruturais
no quadro cíclico positivo. O crescimento continua em um caminho de
recuperação, apenas um pouco mais lento do que o imaginado no final de 2017 e
começo de 2018. A inflação corrente continua extremamente baixa e as
perspectivas são de que este quadro deverá perdurar por algum tempo. Isso está
permitindo a continuidade do ciclo de corte da Taxa Selic, que deverá tingir
6,25% e permanecer neste patamar em um horizonte relevante de tempo.
O quadro político, contudo, se mostra
mais incerto. A situação do ex-presidente Lula é importante para a sociedade e
para a grande mídia, dado a sua popularidade, mas para os mercados, o que
importa é apenas sua elegibilidade e sua capacidade de transferir votos para
seu eventual sucessor. Quanto à sua elegibilidade, parece estar garantida pela
Lei da Ficha Limpa a impossibilidade de sua candidatura, já sua capacidade de
transferência de votos ainda é uma incerteza.
De qualquer maneira, a situação
política é uma grande incógnita, já que o quadro eleitoral se mostra difuso,
com vários candidatos e ainda nenhum candidato de centro, liberal e reformista
capaz de aglutinar partidos e a sociedade em sua volta, como imaginavam ser
possível os investidores locais até pouco tempo atrás. A mídia está reportando
que Joaquim Barbosa se filiou ao PSB, trazendo mais um candidato potencial à
cena eleitoral.
O grande risco neste ambiente é um
cenário parecido com aquele que vivenciamos nas últimas eleições para prefeito
do Rio de Janeiro, onde a quantidade elevada de candidatos levou dois nomes de
pouca expressão para o segundo turno.
Em suma, o cenário econômico segue
ciclicamente positivo, o que de certa forma já vinha sendo incorporado aos
preços dos ativos locais, mas as eleições e o cenário externo estão trazendo um
novo vetor de incerteza ao cenário local.
EUA – A despeito de alguns dados de
crescimento mais fracos, na média, o crescimento do país ainda se mostra
estável e saudável, em torno de 2,5%. Os dados de emprego de março, divulgados
ontem, mostraram uma menor criação de postos de trabalho, mas após um mês de
fevereiro bastante robusto. É possível e provável que o clima tenha afetado
esses dois meses. As médias de 2, 3, 4, 6 e 12 meses continuam mostrando um
quadro de solidez do mercado de trabalho. Além disso, o Average Hourly Earnings
apresentou alta dentro das expectativas, de 2,7% YoY, confirmando o acúmulo,
ainda gradual, de pressões inflacionárias na economia.
O presidente do Fed, Jay Powell,
manteve o tom de seus últimos discursos em sua aparição ontem em evento em
Chicago. Sua postura continua a ser de gradualismo, porém manutenção, do
processo de normalização monetária. Ao que tudo indica, o Fed será reativo aos
números, e não proativo. Enquanto isso, manterá seu processo de normalização
monetária em
“piloto automático”, com 3 a 4 altas de juros por ano e a redução de seu
balanço como já anunciado.
Europa – Continuamos a observar dados
mais fracos de crescimento, especialmente na Alemanha. Por ora, ainda parece
estarmos no meio de um processo de acomodação da economia, e não mudança de
tendência. Contudo, é natural o mercado questionar, e se tornar um pouco mais
sensível ao tema de menor crescimento, conforme se acumulam evidência de
desaceleração.
China – O país tem se mostrado mais
fonte de estabilidade do que de instabilidade ao longo dos últimos meses. Será
importante observamos os indicadores econômicos de março, a serem divulgados em
breve, para termos uma melhor sensibilidade da economia passado o Ano Novo
Lunar no país.
Mercados – Os ativos de risco estão
em um momento de pouco visibilidade, sem maiores tendências e mais
volatilidade. Vemos alguns argumentos ainda positivos, tais como: crescimento
global sólido, condições financeiras ainda frouxas, gradualismo dos bancos
centrais, inflação ainda contida no mundo desenvolvido, mas alguns argumentos
já menos positivos do que no passado, tais como: posição técnica mais
comprometida, valuations menos atrativos, direção coordenada dos bancos
centrais de retirada de liquidez, "guerra comercial", etc.
Neste ambiente, é natural convivermos
com mais volatilidade e incerteza até que alguns desses argumentos superem os
demais. No curto-prazo, ainda não vemos nenhum dos lados (positivo e negativo)
ganhando essa “queda de braço”, o que deverá manter o pano de fundo de mais
incerteza e volatilidade.
Agenda – A próxima semana terá como
destaque o IPCA de março e as vendas no varejo no Brasil, assim como os
desdobramentos do quadro eleitoral. Nos EUA, destaque para o Core CPI e para as
Minutas do FOMC. A temporada de resultados corporativos se iniciará, com
expectativas já elevadas devido ao efeito da Reforma Tributária. Na China, os
dados de atividade econômica de março ganham atenção especial após o Ano Novo
Lunar. Na Europa, será importante medirmos o real estado da economia, depois de
uma sequencia de dados mais fracos.
De maneira geral, continuamos vendo a
inflação nos EUA como o maior risco ao cenário base ao longo dos próximos
meses.
Alocação/Estratégia:
Nas
últimas semanas, temos priorizado a parte longa da curva de juros reais, devido
ao estágio do ciclo de política monetária. Ainda gostamos do mercado local de
renda variável, mas estamos priorizando ações e fundos que buscam “valor” no
mercado, ao invés de uma correlação ou “beta” elevado com o Ibovespa. Seguimos
sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio.
O
desempenho mais negativo dos ativos locais no curto-prazo reflete um cenário
externo mais nebuloso, além de um panorama político local mais incerto (ou
talvez menos claro do que o mercado gostaria neste estágio do calendário
eleitoral).
É
nossa expectativa que, a partir de agora,
o cenário para os ativos de risco se torne mais indefinido, o que deverá trazer
mais volatilidade e, por vezes, menos tendências claras para os mercados
financeiros globais. Este panorama já vinha sendo contemplado neste fórum desde
o final do ano passado. Até por isso, elevamos nossa recomendação de fundos
multimercados (estruturados e institucionais) assim como fundos de
investimentos no exterior com maior exposição ao alpha dos gestores, e
não ao beta do mercado.
Juros
– Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima
da média na classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com
alocações na média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta,
optamos por estar levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Vemos
espaço para a compressão dos prêmios na parte intermediária e longa da curva
nominal e real de juros, respaldados por um cenário de recuperação gradual do
crescimento, hiato do produto ainda bastante aberto, inflação corrente e
perspectiva baixa, e expectativas de inflação ancoradas. Entendemos, contudo,
que nesta fase do ciclo os ganhos tendem a ser mais moderados e os riscos mais
elevados.
Câmbio
– Neste momento, recomendamos alocações neutras em câmbio e uma
postura tática em relação a moeda local (Real ou BRL). Contudo, preferimos
alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD).
Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Trabalhamos
com cenário de contas externas saudáveis, com um déficit em conta corrente
tranquilo para a maturidade do país. A conta corrente tem sido financiada de
maneira ampla e saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, que são fluxos
mais estáveis e saudáveis por visarem retornos de longo-prazo. Além disso,
vemos espaço para o aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda
variável local, o que favorecem fluxos para carteira de portfólio. Contudo,
entendemos que o cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do
Real e o cenário eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.
Renda
Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo propício.
O
nosso cenário base de recuperação do crescimento e do emprego, inflação baixa,
taxas de juros mais baixas por mais tempo e sem riscos relevantes nas contas
externas, pressupõe que existe espaço para a alocação em renda variável local.
Além disso, em termos técnicos, os investidores institucionais e estrangeiros
apresentam um espaço grande para realocação nesta classe de ativo, se
compararmos aos níveis alocados há cerca de 5 a 7 anos atrás. Finalmente, para
o investidor estrangeiro, em termos relativos, as bolsas emergentes, e o Brasil
em especial, apresentam “valuations” mais atrativos do que as bolsas dos países
desenvolvidos, em especial os EUA.
Fundos
Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
Fundos
de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe
espaço para o investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que
apresentam menor “beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste
estágio do ciclo econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por
não termos uma visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil
mais voltado pela busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em
mercados específicos, como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas
“alpha” nesta classe de ativos. O racional é bastante parecido com aquele que
colocamos acima no tocante aos fundos multimercados.
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