Relatório Mensal de Asset Allocation:
Cenário
Econômico:
O primeiro trimestre do
ano se encerrou com um quadro econômico basicamente em linha com o esperado e
bem dentro do cenário base com o qual temos trabalhado desde o fim do ano
passado, ou seja: crescimento global saudável, inflação que sobe de maneira gradual
no mundo desenvolvido e continuidade do processo de normalização monetária nas
economias mais avançadas, especialmente aquelas em estágio mais avançado do
ciclo econômico.
Para os mercados
financeiros globais o trimestre foi mais desafiador, por vários fatores:
posição técnica comprometida, preços/valuations menos atrativos e a confirmação
de um menor suporte por parte da política monetária em vários países/regiões.
Além disso, algumas medidas adotadas pelo governo dos EUA, especialmente a
imposição de tarifas de importações, também não ajudaram o humor dos ativos de
risco. Finalmente, a perspectiva de uma inflação mais elevada nos EUA também
atuou como uma restrição para o bom desempenho dos mercados financeiros
globais.
Nas últimas semanas,
observamos alguns dados mais fracos de crescimento no mundo. Percebemos esses
dados como uma acomodação natural do ciclo. Talvez já tenhamos passado pelo
pico do crescimento mundial, entretanto trabalhamos como uma probabilidade
baixa de uma desaceleração mais acentuada da economia global, neste momento.
Ainda vemos uma aceleração
da inflação, especialmente nos EUA, como o maior risco ao cenário nos próximos
6 meses. Acreditamos que o crescimento global irá flutuar em torno dos atuais
níveis, com probabilidade baixa de grandes acelerações e/ou desacelerações. Uma
inflação mais elevada poderia trazer os mesmos temores e a mesma reação dos
ativos de risco daquela verificada no início do ano, entre janeiro e meados de
fevereiro.
Nesta linha, os dados de
emprego nos EUA, na próxima sexta-feira, ganham importância redobrada,
especialmente os dados de rendimentos (Average Hourly Earnings - AHE).
O momento parece oportuno para
reavaliarmos o nosso cenário econômico e analisarmos o que vem afetando o humor
global a risco no curto-prazo. Nas últimas semanas, alguns temas mereceram o
destaque da mídia e dos mercados financeiros globais, como o maior
protecionismo por parte dos EUA, sinais de desaceleração global e a sinalização
pelos principais bancos centrais do mundo de que o processo de normalização
monetária irá continuar, mesmo que de maneira gradual.
Vale adicionar um tema a estas
questões de curto-prazo, que diz respeito a ruídos nas ações do setor de
tecnologia nos EUA. Não vamos entrar aqui no mérito específico de problemas
pontuais. Em termos gerais, os sinais recentes apontam na direção de uma maior
regulamentação do setor como um todo, assim como na possibilidade de impostos
mais elevados para essas empresas. Como o setor de tecnologia foi um dos mais
favorecidos no processo de apreciação das bolsas ao redor do mundo desde a
crise de 2008, não é de se espantar que vem sendo um dos setores mais
pressionados recentemente. Este quadro pode continuar a trazer ruídos para os
mercados e se mostrar como uma restrição para altas adicionais e/ou na mesma
proporção daquelas vistas nos últimos anos.
No tocante ao longo-prazo, ainda não
achamos necessário promover mudanças significativas no nosso cenário
estratégico. Ainda vemos um crescimento global saudável. É verdade que talvez o
pico do crescimento já tenha passado, ou esteja ocorrendo neste momento, mas
acreditamos que seja cedo para nos preocuparmos com uma desaceleração mais
abrupta da atividade. Ainda temos políticas monetárias expansionistas nas
economias avançadas e em grande parte das economias emergentes relevantes,
condições financeiras favoráveis e um impulso fiscal como não víamos há vários
anos. Estes pilares devem sustentar o crescimento da economia mundial, mesmo
que em ritmo inferior àquele verificado no último trimestre do ano passado e
início deste ano.
O risco ao cenário base fica por
conta de um eventual aperto exagerado das condições financeiras, devido a algum
evento exógeno. A inflação, especialmente nos EUA, também merece destaque como
um vetor que poderia testar o cenário base de forma mais surpreendente.
Nos EUA, o cenário mais provável
ainda é de uma aceleração gradual da inflação para a meta de 2% do Fed.
Contudo, devido ao fechamento do hiato do produto e da economia no pleno
emprego (ou muito próximo a ele), este movimento poderia ocorrer de forma mais
rápida e acentuada do que o consenso espera atualmente, podendo levar a uma
reação mais agressiva por parte do Fed. Este quadro poderia causar um aperto
inesperado das condições financeiras. Continuamos trabalhando com um cenário
central de alta gradual da inflação, mas vemos uma probabilidade maior do que o
mercado embute hoje deste cenário alternativo descrito acima. Nos preocupa um
pouco a convicção do mercado de que o cenário inflacionário, neste estágio do
ciclo econômico nos EUA, seja tão favorável (ou gradual) como é esperado hoje
pelo consenso.
Vemos a Europa em um estágio do ciclo
econômico de cerca de 3 a 4 anos atrás dos EUA e o Japão, por sua vez, cerca de
2 a 3 anos atrás do ciclo da Europa. A Inglaterra e o Canadá, contudo, parecem
em ciclos mais próximos daquele da economia norte americana.
A China segue como foco de
estabilidade neste início de 2018, tal como foi em 2017. O cenário base
ainda é de uma desaceleração do crescimento ao longo deste ano, porém de
maneira gradual e bem conduzida. Como sempre, o risco é de que a desaceleração
acabe sendo mais rápida e acentuada do que o esperado. Dado a transição
política que está em fase avançada neste momento, tudo indica que o país irá
seguir em um caminho de reformas, nem que isso implique em menor crescimento no
curto-prazo. Com o poder mais concentrado e garantido nas mãos do atual
Premier, uma desaceleração de curto-prazo não seria vista como um problema
grave, contanto que tenha como objetivo criar bases mais sólidas para a
economia no futuro.
É difícil falar dos países emergentes
como um bloco único, dado as individualidades de cada país, entretanto, podemos
dizer que hoje, como um bloco, eles apresentam fundamentos mais sólidos que no
passado recente. As contas externas são mais saudáveis, os juros reais mais
elevados, o crescimento mais consolidado e a inflação mais baixa do que em
momentos anteriores, como no “Taper Tantrum” de 2013. Alguns países, inclusive,
mostram avanços no campo político, como a Argentina, a África do Sul, o Brasil
(?) e etc.
No Brasil, não há mudanças relevantes
de cenário, exceto por um possível final do ciclo de afrouxamento monetário em
um nível de taxa de juros mais baixo do que o imaginado anteriormente. A Taxa
Selic, muito provavelmente, irá se estabilizar em 6,25% e deverá permanecer
neste patamar por um horizonte relevante de tempo. Continuamos trabalhando com
um cenário de inflação baixa e contida, recuperação gradual do crescimento e do
emprego, contas externas saudáveis e contas públicas ciclicamente menos
problemáticas.
O quadro político será mais incerto a
partir de agora, com a aproximação das eleições presidenciais. Não trabalhamos,
assim como o consenso do mercado, com nenhuma reforma ou medida econômica relevante
que dependam do Congresso. Ainda há muita incerteza no quadro político, desde
quem serão os candidatos a presidente, até em que condições cada um deles irá
chegar à reta final da disputa.
Ainda
estamos optando por uma postura defensiva, focada em posições relativas, temas
específicos de investimentos e uma postura mais tática do que estratégica.
Alocação/Estratégia:
Continuamos
a ver o cenário local como bastante positivo ciclicamente. Para este cenário
cíclico se tornar estrutural, precisamos ver avanços na agenda de reformas e a
eleição de um presidente com viés liberal
e reformista. Acreditamos que, por ora, o pano de fundo externo ainda é
positivo paras as economias emergentes e, consequentemente para o Brasil.
Contudo, já vemos o acúmulo de evidências de que este cenário possa estar
mudando e, por isso, vamos buscar ser mais ativos nas alocações táticas
(curto-prazo) além de buscar alocações que se beneficiam deste tipo de
ambiente, como fundos estruturados (multimercados) e/ou multimercados institucionais.
Juros
– Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima
da média na classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com
alocações na média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta,
optamos por estar levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Vemos
espaço para a compressão dos prêmios na parte intermediária e longa da curva
nominal e real de juros, respaldados por um cenário de recuperação gradual do
crescimento, hiato do produto ainda bastante aberto, inflação corrente e perspectiva
baixa, e expectativas de inflação ancoradas. Entendemos, contudo, que nesta
fase do ciclo os ganhos tendem a ser mais moderados e os riscos mais elevados.
Câmbio
– Neste momento, recomendamos alocações neutras em câmbio e uma
postura tática em relação a moeda local (Real ou BRL). Contudo, preferimos
alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD).
Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Trabalhamos
com cenário de contas externas saudáveis, com um déficit em conta corrente
tranquilo para a maturidade do país. A conta corrente tem sido financiada de
maneira ampla e saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, que são fluxos
mais estável e saudáveis, por visarem retornos de longo-prazo. Além disso,
vemos espaço para o aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda
variável local, o que favorece fluxos para carteira de portfólio. Contudo,
entendemos que o cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do
Real e o cenário eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.
Renda
Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo propício.
O
nosso cenário base de recuperação do crescimento e do emprego, inflação baixa,
taxas de juros mais baixas por mais tempo e sem riscos relevantes nas contas
externas, pressupõe que existe espaço para a alocação em renda variável local.
Além disso, em termos técnicos, os investidores institucionais e estrangeiros
apresentam um espaço grande para realocação nesta classe de ativo, se
compararmos aos níveis já alocados a cerca de 5 a 7 anos atrás. Finalmente,
para o investidor estrangeiro, em termos relativos, as bolsas emergentes, e o
Brasil em especial, apresentam “valuations” mais atrativos do que as bolsas dos
países desenvolvidos, em especial os EUA.
Fundos
Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
Fundos
de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe
espaço para o investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que
apresentam menor “beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste
estágio do ciclo econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por não
termos uma visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil mais
voltado para busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em mercados
específicos, como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas “alpha”
nesta classe de ativos. O racional é bastante parecido com o que colocamos
acima no tocante aos fundos multimercados.
Fundo
Icatu Vanguarda Macro Fundo de Investimento Multimercado:
O Fundo manteve exposição à parte longa da curva
real de juros, administrando apenas tamanho e instrumentos. O fundo se
favoreceu da sinalização dado pelo Banco Central do Brasil de que poderá levar
a Taxa Selic a 6,25%, direção para a qual o
Fundo tinha algumas apostas via estruturas
de opção. Ainda vemos espaço para a compressão dos prêmios das taxas longas do
país, baseado no pano de fundo de uma recuperação da economia, em meio a um
hiato do produto elevado, expectativas de inflação ancoradas e contas externas
saudáveis.
Mantemos posição comprada em bolsa local na maior
parte do mês, porém muito menor do que no passado recente. Estamos concentrando
os esforços em setores da bolsa cujos valuations se mostram mais atrativos e
que podem se favorecer de um cenário de juros mais baixos e recuperação da
demanda doméstica. Continuamos administrando ativamente o tamanho e os
instrumentos da alocação. Devemos continuar buscando posições nesta direção ao
longo dos próximos meses, exceto na eventualidade de uma mudança brusca de
cenário.
O fundo não apresentou alocações relevantes em Real
(BRL), mas operou de forma ativa e tática a moeda local. Continuamos vendo o
câmbio operando em uma grande “banda”, entre 3,0-3,35. As posições neste ativo
devem ser táticas.
Mantivemos posições vendidas em Dólar Australiano
(AUD), comprada em Iene (JPY) a moeda do Japão e comprada em Euro (EUR). As
posições foram reduzidas na segunda metade do mês.
Mantemos posição tomada nas curvas longas de juros
das economias desenvolvidas, concentrado na curva dos EUA. Estamos
administrando ativamente o tamanho e os instrumentos da alocação. Devemos
manter alocações relevantes nesta classe de ativos, exceto por mudanças bruscas
de cenário.
Comentários
Postar um comentário