The Trump Short Call Position
Após dois dias de estabilização, os ativos de risco, especialmente as bolsas globais, estão novamente sobre pressão essa manhã (mesmo que longe dos pisos atingidos durante a madrugada) após Trump declarar que tem o intuito de impor novas tarifas em cerca de US$100bi de importação de produtos chineses caso a China adote de fato o princípio da reciprocidade.
O cenário base continua a ser de que essa postura do governo dos EUA seja apenas uma maneira de conseguir levar os chineses a mesa de negociação, buscando melhores termos comerciais aos EUA. Contudo, a China já mostrou que não irá esmorecer diante da agressividade americana. Assim, cresce o risco de um erro de política externa ao longo do tempo.
Além disso, Trump voltou a dar declarações contra o modelo de negócios da Amazon, o que no curto-prazo tem deixado o setor de tecnologia mais sensível e fragilizado a luz da possibilidade de uma rodada de maior regulamentação no setor.
Depois de vivermos anos em um ambiente em que ficou conhecido como “Fed Put”, onde o Fed não deixava o mercado cair depois de um certo patamar, parece que hoje vivemos em um ambiente de “Short Trump Call”, onde o Trumo não parece deixar o mercado subir, como se estivesse vendido em uma call de bolsa. No final das contas, contudo, ainda acredito que os fundamentos irão prevalecer e, nesta frente, os dados de emprego hoje ganham importância redobrada (mais detalhes abaixo).
Finalmente, Trump “tweetou” ontem que espera dados de emprego hoje extremamente positivos. Como o presidente dos EUA recebe os números oficiais com um dia de antecipação, é provável que Trump esteja “antecipando” um bom resultado para os dados de hoje, em linha com o que os indicadores antecedentes também haviam mostrado ao longo dos últimos mês.
De maneira geral, no lado externo, continuamos em um cenário de maior incerteza e mais volatilidade, sem tendências relevantes claras ou grandes temas de investimentos. Continuo acreditando que o Average Hourly Earnings (AHE) a ser divulgado hoje nos EUA será o principal indicador para a dinâmica dos ativos de risco no curto-prazo, assim como o discurso de Jay Powell, presidente do Fed, algumas horas depois.
Continuo vendo um cenário de hiato do produto fechado e pleno emprego que, em algum momento, deveria trazer pressões inflacionárias maiores para a economia dos EUA. É neste contexto que os números de hoje ganham importância. Caso os números mostrem um mercado de trabalho sólido, porém sem grandes pressões de inflação, vamos continuar em um ambiente relativamente construtivo para os mercados. Caso contrário, poderemos estar de fato em um ponto de inflexão importante na economia.
No Brasil, o juiz Sergio Moro determinou a prisão do ex-presidente Lula. Na visão do mercado, quando mais complicada a situação do ex-presidente, menor os riscos de um candidato forte na extrema esquerda.
A despeito dos eventos recentes, os ativos locais mostram uma dinâmica bastante ruim, em especial o BRL. Neste caso específico, podemos citar o baixa atratividade do “carry” (carrego) da moeda, que pode estar afastando investidores estrangeiros e atraindo alocações para fins de hedge. De qualquer maneira, os investidores parecem estar utilizando qualquer rodada de apreciação dos ativos locais para reduzir risco em alocações em Brasil. A postura se justifica por um quadro externo mais incerto e a aproximação das eleições, em um ambiente ainda bastante fragmentado.
Neste pano de fundo, faz sentido o melhor desempenho do mercado de juros, especialmente a parte curta e intermediária da curva, que contém um componente mais local e de política monetária cuja os investidores conseguem ter um controle maior diante do cenário benigno de inflação e crescimento ainda fragilizado.
Continuo trabalhando com um cenário ainda desafiador para os ativos de risco de maneira geral, buscando poucos temas de investimentos e posições relativas. Neste momento, estamos com baixa alocação a risco e em temas bastante específicos:
- No Brasil, juros longos por mais tempo e recuperação cíclica da economia, através de posição comprada em NTN-B na parte longa da curva e pequena posição comprada em ações voltadas para a economia doméstica.
- Nos EUA, juros mais altos estruturalmente, através de posições tomadas em Treasury na parte intermediária da curva, via compra de puts.
- Com hedge, temos uma posição comprada em JPY e vendida em AUD através de compra de puts de AUDJPY.
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