Relatório Semanal de Asset Allocation:
Não observamos mudanças substanciais
de cenário ao longo da última semana, mas uma mudança relevante de dinâmica por
parte dos ativos de risco.
A semana foi marcada por movimentos de
abertura de taxa de juros nos EUA, que acabaram trazendo sustentação ao dólar
no mundo, porém pressões negativas para as bolsas, commodities e ativos
emergentes no geral.
Acreditamos que estamos em um processo estrutural e prolongado de
abertura de taxas de juros nos EUA e em vários países desenvolvidos. Contudo,
este processo vem sendo caracterizado pelo o que é conhecido como
“stop-and-go”. Rodadas de abertura de taxas de juros, geralmente entre 20bps e
50bps, são seguidas de movimentos de acomodação. Geralmente, enquanto estamos
no meio dessas rodadas, a direção e a velocidade de abertura das taxas acabam
afetando o humor global a risco. Quando o mercado se acomoda, vemos um alívio
nos mercados financeiros globais e alguma nova alocação a risco.
Por este motivo que ainda vemos os
ativos de risco operando em alguns “ranges” relativamente estreitos, sem muitas
tendências. Assim, continuamos trabalhando com poucos temas de investimentos,
sendo que o principal deles é a alta estrutural de juros nos EUA e no mundo
desenvolvido. Ao que tudo indica, estamos no meio de mais uma rodada de alta de
taxas de juros. Resta saber a magnitude desta “pernada”, e qual será sua
velocidade e seu patamar de acomodação. O nível psicológico de 3% nas
Treasuries de 10 anos será atentamente observado para eventuais rompimentos ou
acomodações.
A
despeito de alguns indicadores de atividade econômica mais fracos, a economia
dos EUA mostra um crescimento relativamente estável, em torno de 2,5%. O mercado
de trabalho segue robusto e bastante apertado, como apresentado peço Beige Book
compilado pelo Fed. Além disso, há sinais cada vez mais evidentes de acumulo de
pressões inflacionárias.
A
China merece atenção, pois há sinais de uma desaceleração talvez um pouco mais
acentuada do que o imaginado anteriormente, o que pode ter efeitos relevantes
sobre algumas classes de ativos. Ao longo da semana, o país anunciou um corte
inesperado de 100bps no nível de compulsório para alguns bancos comerciais.
Na
Europa, os indicadores recentes continuam mostrando uma desaceleração do
crescimento. De maneira geral, ainda vemos este movimento como uma acomodação
normal do ciclo econômico.
No
Brasil, o cenário político continua ganhando corpo, mas em um ambiente ainda de
muitas incertezas, como vêm mostrando as últimas pesquisas eleitorais. O
cenário econômico segue inalterado, com recuperação gradual do crescimento e do
emprego, inflação baixa, contas externas saudáveis e recuperação cíclica das
contas públicas. No ambiente político, a pauta do congresso segue travada para
qualquer tema de maior importância ou impacto econômico, fruto da
desarticulação da base em um período pre eleitoral. Ao longo da semana, de uma
maneira ou de outra, vimos alguns candidatos competitivos, tais como Marina
Silva, Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro, sinalizarem para eventuais políticas
econômicas mais ao centro, liberais e reformistas.
Por
ora, o cenário continua nebuloso, com alguns argumentos favoráveis a um
ambiente ainda construtivo, mas com alguns vetores que se colocam como “ventos
contrários” a este cenário, apontando para um ambiente mais desafiador a
frente. Enquanto não tivermos clareza na direção deste pano de fundo econômico,
devemos observar os ativos de risco em “ranges” relativamente curtos e sem
tendências definidas.
Alocação/Estratégia:
Nas últimas semanas, temos priorizado
a parte longa da curva de juros reais, devido ao estágio do ciclo de política
monetária. Ainda gostamos do mercado local de renda variável, mas estamos
priorizando ações e fundos que buscam “valor” no mercado, ao invés de uma
correlação ou “beta” elevado com o Ibovespa. Seguimos sem recomendações estruturais
para o mercado de câmbio.
O desempenho mais negativo
dos ativos locais no curto-prazo reflete um cenário externo mais nebuloso, além
de um panorama político local mais incerto (ou talvez menos claro do que o
mercado gostaria neste estágio do calendário eleitoral).
Nossa expectativa é de que
a partir de agora o cenário para os ativos de risco se torne mais indefinido, o
que deverá trazer mais volatilidade, e portanto, menos tendências claras para
os mercados financeiros globais. Este panorama já vinha sendo contemplado neste
fórum desde o final do ano passado. Até por isso, elevamos nossa recomendação
de fundos multimercados (estruturados e institucionais) assim como fundos de
investimentos no exterior com maior exposição ao alpha dos gestores, e não ao
beta do mercado.
Juros – Nos atuais níveis de preço, preferimos estar com alocação acima
da média na classe de Inflação Longa (NTN-Bs longas). Preferimos estar com
alocações na média na parcela de Juros Prefixados (DI). Na Inflação Curta,
optamos por estar levemente abaixo da média (NTN-Bs curtas).
Vemos espaço para a compressão dos
prêmios na parte intermediária e longa da curva nominal e real de juros,
respaldados por um cenário de recuperação gradual do crescimento, hiato do
produto ainda bastante aberto, inflação corrente e perspectiva baixa, e
expectativas de inflação ancoradas. Entendemos, contudo, que nesta fase do
ciclo os ganhos tendem a ser mais moderados e os riscos mais elevados.
Câmbio – Neste momento, recomendamos alocações neutras em câmbio e uma
postura tática em relação a moeda local (Real ou BRL). Contudo, preferimos
alocações do BRL relativas a seus pares e não apenas contra o Dólar (USD).
Seguimos com a visão de que as posições em câmbio devem ser mais táticas
(curto-prazo) do que estruturais (longo-prazo).
Trabalhamos com cenário de contas
externas saudáveis, com um déficit em conta corrente tranquilo para a
maturidade do país. A conta corrente tem sido financiada de maneira ampla e
saudável por Investimentos Estrangeiros Diretos, que são fluxos mais estáveis e
saudáveis, por visarem retornos de longo-prazo. Além disso, vemos espaço para o
aumento da alocação dos estrangeiros em renda fixa e renda variável local, o
que favorece fluxos para carteira de portfólio. Contudo, entendemos que o
cenário externo apresenta um peso grande sobre o desempenho do Real e o cenário
eleitoral poderá trazer volatilidade de curto-prazo.
Renda Variável – Ainda vemos espaço para manter alocações acima da média. Após a
apreciação recente, estamos optando por alocações em Fundos Valor ou carteira
de ações, em uma tentativa de “fugir” da parcela mais cíclica da bolsa, cuja
apreciação demanda um cenário externo propício.
O nosso cenário base de recuperação do
crescimento e do emprego, inflação baixa, taxas de juros mais baixas por mais
tempo e sem riscos relevantes nas contas externas, pressupõe que existe espaço
para a alocação em renda variável local. Além disso, em termos técnicos, os
investidores institucionais e estrangeiros apresentam um espaço grande de
realocação nesta classe de ativo, se compararmos aos níveis alocados a cerca de
5 a 7 anos atrás. Finalmente, para o investidor estrangeiro, em termos
relativos, as bolsas emergentes, e no Brasil em especial, apresentam
“valuations” mais atrativos do que as bolsas dos países desenvolvidos, em
especial os EUA.
Fundos Multimercados – Estamos com alocações acima da média e aumentando as alocações
nesta classe de ativos. A escolha dos gestores, neste caso, é mais importante
do que o “timing” das alocações. Contudo, acreditamos que o cenário prospectivo
será mais desafiador para alocações estratégicas (longo-prazo) nas demais
classes de ativos e os gestores de fundos Multimercados Macro costumam
apresentar desempenho positivo neste tipo de ambiente.
Fundos de Investimento no Exterior – Acreditamos que existe espaço para o
investidor local diversificar o seu portfólio com fundos que apresentam menor
“beta” (ou baixa correlação) com os ativos no Brasil. Neste estágio do ciclo
econômico global, preferimos fundos com “hedge” cambial por não termos uma
visão direcional para o câmbio. Preferimos fundos com um perfil mais voltado
pela busca de “alpha” em detrimento a fundos com “beta” em mercados
específicos, como fundos que são “comprados” em bolsas e buscam apenas “alpha”.
O racional é bastante parecido com aquele mencionado anteriormente relativo aos
fundos multimercados.
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