Cenário Global
O grande
destaque da semana, encurtada pelo feriado de Thanksgiving nos EUA, ficou por conta da forte queda no preço do Petróleo, após a decisão da OPEP de não
reduzir suas cotas de produção. A queda acabou liderando um movimento mais
amplo de pressão no preço de todo o complexo de commodities, mas especialmente
as commodities metálicas. A despeito de movimentos menos acentuados nas demais
classes de ativos, a queda no preço das commodities não passou despercebida
pelos demais mercados globais.
Por hora,
os investidores estão lendo a queda no Petróleo como um “corte de impostos”
para o consumidor, o que tem dado suporte aos mercados de ações ao redor do
mundo, mas, especialmente, nos EUA e Europa. Contudo, a aparente resiliência
das bolsas globais encoberta alguns movimentos micro relevantes que estão
acontecendo dentro dos principais índices de bolsa ao redor do mundo. No caso
dos EUA e Europa, os setores ligados a commodities estão sobre forte pressão,
com os setores ligados ao consumo sendo beneficiados pelo movimento. Contanto
que o movimento nas commodities não se acelere, se tornando disfuncional,
poderemos ver a continuidade desta diferenciação, apresentando uma série de
oportunidades de investimentos entre regiões do mundo e suas classes de ativos.
No mercado
de renda fixa, este processo é lido como desinflacionario, ajudando a
manutenção das taxas de juros no mundo bem ancoradas. Por outro lado, o USD
continua sendo visto como o grande beneficiário deste processo, especialmente
em um ambiente de diferencial de crescimento e política monetária a seu favor.
Finalmente,
o mercado de dívida corporativa tem sido o mais afetado pela queda no preço do
Petróleo. Por ser um setor relevante neste mercado, girando entre 15%-30%,
entre estoque, novas emissões e composição dos índices de HY e HG, o setor tem
sofrido perdas mais relevantes nos últimos dias. Assim, precisamos acompanhar
atentamente os desdobramentos nesta classe de ativos, a fim de medir o
potencial impacto secundário nos demais mercados globais.
A despeito
de realizações pontuais, podemos estar diante de um processo mais prolongado de
reprecificação e diferenciação entre as classes de ativos e regiões ao redor do
mundo. A aceleração do processo de queda no preço das commodities, contudo,
pode acabar gerando um contágio mais acentuado as demais classes de ativos.
Este não é o cenário base, mas precisa ser monitorado.
Meu viés é aplicador de juros, comprador
de USD e seletivo na montagem de portfólios de ações.
Brasil – Passada a
nomeação da nova equipe econômica de Dilma, os mercados estarão mais livres
para seguir os fundamentos macro locais e globais. Estou disposto a dar o
benefício da dúvida a este novo governo, e o mercado parece apresentar postura
semelhante. Contudo, a escolha da classe de ativos para se posicionar nesta
direção nunca foi tão importante, especialmente frente aos desafios globais.
Neste ambiente, reitero que o cenário para o BRL irá depender
do ambiente global para o USD, e do que o BCB pretende fazer com os swaps cambiais. A bolsa não pode ser olhada
como um play macro
Brasil, já que o setor de commodities tem peso relevante no índice. Assim, a
análise micro deverá ter importância relevante na montagem de qualquer portfólio.
Finalmente, a curva de juros, especialmente os vértices mais longos, me parece
mais livre para precificar qualquer melhora macro local, especialmente em um
ambiente de juros e inflação baixa ao redor do mundo desenvolvido. A curva
curta precisa digerir um cenário de inflação corrente e expectativas de
inflação elevadas, que tem levado o BCB a uma postura mais dura em termos de
política monetária. Assim, meu viés é aplicador de curva longa de juros Brasil.
Acho prudente utilizar posições compradas em USDBRL oportunisticamente como
hedge para a posição de juros.
EUA – A economia americana parece estar passando por mais um “soft-patch”, normal nos ciclos econômicos.
É natural esperarmos uma desaceleração do crescimento após 2 trimestres de PIB
rodando a 4% anualizado. Os dados recentes confirmam está desaceleração. A velocidade deste ajuste que será essencial para medirmos a
disposição do Fed em manter seu processo de normalização monetária. Uma
desaceleração mais acentuada da economia, contudo, pode ter consequências mais
acentuadas para os ativos de risco, especialmente em um cenário de expectativas
cadentes de inflação, baixo crescimento global e forte queda no preço das
commodities.
Europa – A reunião
do ECB será o grande destaque da semana que se aproxima. O mercado está
totalmente dividido no tocante ao anuncio de novas medidas de estímulo monetário
já na semana que vem. A adoção de um QE corporativo e soberano é unanimidade
para os investidores, mas seu timing
ainda é incerto. Acredito que o mercado hoje esteja em 50%/50% entre o anuncio
já em dezembro, ou um anuncio apenas no primeiro trimestre de 2015. Depois das
últimas declarações de Draghi, em um contexto de indicadores de crescimento pífios
e inflação cadente, a ausência de medidas será vista como pontualmente
negativa.
China – O policy maker chinês vem adotando postura
mais proativa e agressiva na condução das políticas monetária e fiscal no país
ao longo dos últimos meses. Contudo, o menor crescimento local parece
estrutural, e não mais cíclico. As medidas que estão sendo colocadas em prática
acabam sendo positivas no intuito de evitar uma nova espiral negativa de
crescimento, mas dificilmente irão ser suficiente, ou tem como objetivo, levar
o crescimento para níveis muito mais elevados do que os 7%-7.5% que vem sendo
regra nos últimos trimestres. Não é a toa que os ativos que dependem da demanda
chinesa vem, gradualmente e já há alguns meses, precificando um cenário de
menor crescimento estrutural do país. A queda no preço das commodities, assim
como a pressão nas moedas dos países exportadores de commodities, são apenas
alguns sinais deste cenário.
Japão – Os indicadores
recentes ascendem as esperanças de uma aceleração do crescimento do país nos
próximos meses, mesmo em um pano de fundo de inflação ainda perigosamente
baixa. O BoJ deverá manter-se agressivo após seu últimos anuncio de expansão do
QE, o que deverá dar mais um pilar de sustentação ao crescimento. No tocante a
cena política, por hora, as eleições antecipadas parecem transcorrer sem
grandes problemas aos atual Primeiro Ministro.
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