Cenário inalterado

O final de semana foi de poucas novidades no cenário econômico local e global. Na sexta-feira, os eventos nos Brasil (IPCA) e nos EUA (Dados de Emprego) não alteraram em nada o cenário econômico que vem se desenvolvendo ao redor do mundo.

EUA – Os dados de emprego de outubro, divulgados na sexta-feira, confirmaram um quadro de recuperação do mercado de trabalho no país. Além de um processo continuo de criação consistente de vagas de trabalho, observamos mais um mês de queda na taxa de desemprego e um avanço positivo em seus principais componentes. Além disso, a “taxa de participação” na economia teve um mês de recuperação, o que pode ser um dos primeiros sinais de estabilização da força de trabalho. Os números ficaram em linha com as expectativas, mas com sinais evidentemente positivos se olharmos os detalhes do indicador. A divulgação destes números não deve alterar o “plano de voo” do Fed. Depois de encerrado o QE, o FOMC começou um processo de evolução no seu comunicado após a decisão de política monetária no mês passado. De agora em diante, o mercado deverá se focar no timing do começo de um processo de ajuste na taxa local de juros. O desafio de Yellen e Cia. será promover este processo de maneira gradual e bem telegrafada. Acredito que eles dispõem de todos os recursos para serem bem sucedidos nesta empreitada, mas poderemos ter um ambiente de volatilidades mais elevadas e maiores prêmios de risco ao longo desta caminhada.

Brasil – O mercado continua em um “voo cego” em relação a quem será o comandante da economia nos próximos anos do novo governo Dilma. Os rumores continuam em torno dos nomes de Meirelles e Barbosa, mas tenho o viés de acreditar que o “pendulo”, neste momento, está mais favorável a Barbosa. Os mercados locais claramente perderam a paciência com um cenário de incerteza e não estão mais dando o benefício da dúvida ao “novo governo” eleito. Reafirmo minha visão que o governo continua fazendo o mínimo possível para enfrentar os desafios da economia, muitas vezes fazendo “conta de chegada” ao invés de encarar os problemas de frente (como foi o caso do reajuste da gasolina). Caso o anúncio do ministro da fazenda não atenda as exigências de um nome sério, respeitado e independente, acredito que podemos continuar nesta espiral econômica negativa, que acabará sendo rapidamente precificada pelos mercados locais. Na sexta-feira, o IPCA de outubro ficou levemente abaixo das expectativas. Observamos leve recuo dos núcleos de inflação e do índice de difusão. A despeito da surpresa positiva, a inflação continua perigosamente elevada e sem sinais consistentes de arrefecimento. Com os reajustes dos itens administrados já contratados para este final de ano e para 2015, dificilmente teremos um recuo mais expressivo na inflação no país. Neste ambiente, o BCB deve se manter extremamente vigilante na condução da política monetária. Altas adicionais na taxa Selic podem, e devem, ser executadas nos próximos meses.

China – Em outubro, as exportações arrefeceram de 15,3% YoY para 11,6% YoY. As importações passaram de 7% YoY para 4,6% YoY. A demanda externa chinesa começa a mostrar sinais mais claros de estabilização/recuperação, mas as importações mostram uma demanda interna frágil e sem pilares claros de sustentação. Os dados de atividade de outubro serão fundamentais para medirmos a real temperatura da economia do país. O governo, em um ambiente de fragilidade e incerteza, deve continuar colocando em prática medidas, pontuais e localizadas, de suporte a economia. De qualquer maneira, como temos enfatizado neste fórum há meses, o mundo irá precisar se acostumar com um menor crescimento estrutural da China no longo-prazo e este processo de ajuste pode estar apenas em sua fase inicial.


Europa – Com o ECB entregando um discurso agressivo, temos uma nova “put” para os mercados financeiros da Europa. Caso o cenário prospectivo não mostre uma recuperação razoável da economia da região, o ECB irá colocar em pratica medidas ainda mais agressivas de suporte ao crescimento, como foi o caso dos EUA desde a crise de 2008 e, mais recentemente, o caso do Japão nos últimos 2 anos. 

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